Capítulo 6

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Kenji

   Estou em casa, tentando me arrumar da melhor forma possível, apesar da dor que lateja na minha cabeça. Preciso encontrar um médico de confiança, um conhecido, para tratar esse machucado urgentemente. Caso contrário, não vou conseguir trabalhar direito. As bordas da ferida ainda estão sensíveis, e sinto o sangue seco grudando nos meus cabelos. A dor é um lembrete constante de que fui descuidado, algo imperdoável na minha linha de trabalho.

   Enquanto passo água no rosto, ouço um barulho vindo do andar de baixo. Deve ser o meu tio. Ele também estava trabalhando ontem à noite. A rotina de missões e perigos é comum para nós dois, mas ele sempre soube se cuidar melhor do que eu.

   Caminho em direção à porta para sair de casa, tentando evitar que meus passos ecoem pelo corredor estreito. Quase consigo sair sem ser notado, mas a voz grave do meu tio me para no meio do caminho:

   — Caramba, Kenji, onde você se machucou assim? Não seja tão descuidado.

   Eu me viro lentamente para encará-lo. O olhar dele é de preocupação, mas também de desapontamento. Sinto uma pontada de culpa, embora tente esconder.

   — Levei uma pancada na cabeça — respondo, tentando soar despreocupado. — O alvo me notou, mas eu consegui eliminá-lo.

   Meu tio me encara por um longo minuto, o silêncio entre nós se tornando pesado. Sei que ele quer me dar um sermão, dizer que estou arriscando demais, que preciso ser mais cauteloso. Mas, em vez disso, ele apenas solta um suspiro e vai para a cozinha, como se não tivesse mais energia para discutir.

   Saio de casa rapidamente, antes que ele mude de ideia e comece a falar. A dor na cabeça está piorando, e cada passo que dou parece ecoar por todo o meu corpo. Subo na minha moto, sentindo o peso do capacete pressionando o machucado, e sigo em direção à casa do doutor. Ele me atende prontamente. O tratamento é rápido, uma costura simples, e logo estou fora da porta, mas com um aviso: evitar esforço e golpes na cabeça nos próximos dias.

   Com o machucado tratado, respiro um pouco mais aliviado. Agora tenho que ir para a escola. A imagem da noite anterior ainda está viva na minha mente. Depois de levar a pancada, tive uma amnésia temporária. Andei sem rumo por uns quinze minutos pelo bairro antes de finalmente me lembrar do caminho de casa. O que mais me inquieta, porém, não é a dor ou a confusão, mas a lembrança da garota de ontem: Lucy. Há algo nela que não consigo tirar da cabeça. Ela estuda na mesma escola em que eu vou me infiltrar.

   Isso vai ser... interessante.

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