Sou todo cinza

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    Minha mente
    Uma escuridão severa
    Incrivelmente
    Sinto-me bem nela
    Onde não consigo, um futuro enxergar
    E nem o presente aproveitar

    As flores estão murchas
    Até o céu está camurça
    Meu quarto é minha morada
    Solitário, mas aqui a paz reina
    Vendo a vida degraçada
    Lá fora, ficar presa

    E é tão engraçado
    Minha mente
    Mesmo em estilhaços
    Ser a única companhia
    Quem diria
    Que alguém como eu
    Ficaria tão acabado algum dia

    Como numa prisão perpétua
    Preso na própria cabeça
    Ela era tão esperta
    E agora me afogou sem que eu mereça

    Até tento do meu quarto sair
    Mas niguém sabe o quanto me dói
    Olhar pra alguém e sorrir
    Ninguém faz ideia de que
    Até a sensação de rir
    É como se rasgasse meus lábios
    Forçando um som falso a sair

    O ponteiro gira e não para
    O sol nasce e se põe
    Os dias passam na minha cara
    E continuo com minhas aflições

    Vendo da janela
    A Lua, quando aparece
    Conto as estrelas amarelas
    Apreciando a noite que me compadece
    E então a chuva bate no telhado
    A cabeça gira com estardalhaço

    Mas meu peito se esvazia
    Vendo esse céu tão cinza
    A ventania ranzinza
    As gotas enfurecidas
    Queria ser a chuva, e afogar a Terra todinha

    As árvores são floridas
    Suas folhas ficam verdes
    Em breve marrons e ressequidas
    E então, sem cor, já caídas
    Linda árvore de inverno
    Sem graça e tão esquisita
    Amo ver que, igual à mim, ela fica

    Logo as folhas nascem novamente
    Continuo no mesmo lugar
    O mundo é um looping infinito, realmente
    E eu só queria sair disso e vivenciar
    Mas estou bem aqui
    Estou bem assim
    Estou bem, sozinho
    Estou bem, destruído
    Estou bem sem estar bem

    Meu peito sufocante
    Sinto falta de ar constante
    O coração bate e rebate
    De repente quase não bate
    Às vezes presto atenção nele
    Como seria se ele parasse?

    Olhando na pele, as feridas se abrindo
    Causadas por um eu perdido
    O alívio está logo vindo
    Por isso não choro e engulo o grito
    Porque o mundo saiu do preto e branco
    Ele virou vermelho-vivo

    Desaprendi a ter gosto de viver
    Agora só penso em morrer
    Ainda assim
    Ainda assim
    Eu grito em silêncio
    Pedindo socorro para o além
    Querendo sair logo desse buraco negro
    Que de algum modo me enfiei

    Sinto saudades de sentir esperança
    De ter um propósito, me sentir vivo
    Não sei nem o tom da minha pele deprimida
    Ou a cor dos meus olhos sem colírio
    Nem dos meus cabelos sem vida
    Porque eu
    Sou todo cinza

- A depressão tirou as minhas cores
02 de março de 2024, 18:48

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