Há alguém

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    Há alguém gritando
    Mas essa pessoa não sou eu
    Há alguém machucado, caído, implorando para Deus
    Há alguém gemendo de dor
    O rosto em puro horror
    Pedindo muitos "por favor"

    Há alguém num lugar ao lado
    Implorando que pare, que pare, pare...
    E os pedidos não são escutados
    Eu também sussurro que pare, pare, pare

    Tapas, empurrões e chutes
    Suspiros, gemidos e gritos
    "A culpa é sua!", ele impõe
    Sem pensar nem no seu filho

    Não lembro da primeira vez
    Só sei que sempre vivi isso
    Às vezes dura um minuto ou três
    E depois só resta tensão infinita

    Mas hoje...
    Hoje continua
    Cinco minutos, dez, vinte
    Minha companhia é a angústia
    E eu continuo chorando baixinho

    Quero sair deste lugar, mas ela me trancou
    Disse que era mais seguro assim
    Fico a pensar que, se é seguro como falou
    Por que ela não fica comigo aqui?
    Eu tremo da cabeça aos pés
    Escutando os pontapés

    E eu só queria morrer e morrer e morrer
    Morrer em vez de ouvir isso
    Os gritos eram um alívio
    Mas o silêncio é nosso inimigo
    Tudo porquê...

    Há alguém do outro lado desta porta gritando
    Enquanto eu, com seis anos, não faço nada
    Continuo trancado em meu quarto
    Os ouvidos, com minhas mãos, tapados
    Abafando aquele som tão alto, mas
    Minha mãe ficou tão quieta
    Meu pai apenas suspira e...

    Não lembro da primeira vez
    Mas nunca me esquecerei de quando o ciclo se desfez
    Porque eu não fiz nada enquanto
    Havia alguém gritando...

- E foi assim que aquele monstro matou o meu anjo e tomou minha guarda...
14 de novembro de 2024, 21,26

Não leia se quiser sorrir - PoesiasOnde histórias criam vida. Descubra agora