Rainha da Favela - ENGLOT

Prólogo

O sol se punha lentamente, tingindo o céu do Rio de Janeiro com tons de laranja e rosa, enquanto as luzes da cidade começavam a brilhar abaixo. Engfa estava na varanda de sua casa, observando o horizonte com uma expressão pensativa. O morro estava tranquilo naquela noite, quase como se a comunidade também estivesse esperando por algo.

Charlotte estava ao seu lado, absorta na mesma vista, mas seus pensamentos estavam longe. As semanas que levaram àquele momento foram intensas — uma série de desafios e vitórias que as uniram ainda mais. Elas tinham passado por tanto juntas, e agora, tudo culminava naquela noite.

Charlotte virou-se para Engfa, seu coração batendo mais rápido. Ela já tinha planejado esse momento em sua mente várias vezes, mas agora que estava prestes a acontecer, sentia uma mistura de ansiedade e excitação. Ela nunca havia sido uma pessoa de tomar grandes decisões por impulso, mas com Engfa, tudo parecia diferente. Cada decisão era um salto de fé que ela estava disposta a dar.

Engfa percebeu o movimento de Charlotte e a olhou, um sorriso suave surgindo em seus lábios.

— O que foi? — perguntou Engfa, sua voz baixa, como se não quisesse quebrar a serenidade do momento.

Charlotte respirou fundo, reunindo a coragem que sempre admirou em Engfa. Ela se aproximou, pegando as mãos de Engfa nas suas.

— Desde que te conheci, minha vida mudou de uma maneira que eu nunca imaginei. Você me fez ver o mundo de uma forma que eu não sabia que era possível — começou Charlotte, sentindo as palavras fluírem de seu coração. — Passamos por tanto juntas, enfrentamos desafios que quase nos destruíram, mas aqui estamos, mais fortes do que nunca.

Engfa a observava com uma expressão séria, mas seus olhos revelavam a intensidade do que sentia. Ela apertou levemente as mãos de Charlotte, encorajando-a a continuar.

— Engfa, eu nunca soube o que era o amor verdadeiro até você aparecer na minha vida. Você me mostrou o que é lutar por algo que vale a pena, e eu... — Charlotte hesitou por um segundo, sentindo o peso do momento. — Eu quero lutar por você, por nós, para sempre.

Ela soltou uma das mãos de Engfa e, com um gesto rápido, tirou uma pequena caixa de veludo do bolso. Engfa arregalou os olhos, surpresa, enquanto Charlotte abria a caixinha preta de veludo contendo um belo anel, diante dela.

— Engfa, você me daria a honra de ser minha esposa? — perguntou Charlotte, sua voz trêmula, mas cheia de emoção.

Engfa ficou em silêncio por um momento, o choque ainda evidente em seu rosto. Ela nunca esperou por aquilo, nunca imaginou que Charlotte, com sua origem e seus medos, tomaria uma decisão tão audaciosa. Mas ao mesmo tempo, sabia que era a coisa mais certa que já ouvira.

Um sorriso lentamente se formou no rosto de Engfa, um sorriso que cresceu até se transformar em uma gargalhada suave, cheia de alegria.

— Charlotte, você me surpreende a cada dia — disse Engfa, sua voz carregada de afeto. — É claro que sim. Eu aceito.

Charlotte sentiu uma onda de alívio e felicidade, enquanto Engfa a puxava para um abraço apertado. As duas ficaram ali, envolvidas na tranquilidade da noite, com as luzes do morro brilhando ao redor delas.

Quando se afastaram,  Engfa estendeu a mão, e Charlotte deslizou o anel em seu dedo com uma delicadeza que contrastava com a intensidade de seus sentimentos.

— Agora somos oficialmente uma só — disse Charlotte, sorrindo enquanto observava o anel no dedo de Engfa.

Engfa a puxou para mais perto, seus lábios tocando os de Charlotte em um beijo que selava não apenas o pedido, mas toda a jornada que haviam percorrido juntas.

— Sempre fomos, Charlotte — sussurrou Engfa contra seus lábios. — Sempre fomos. O morro ao redor delas estava mais vivo do que nunca, mas naquele momento, só havia elas duas, unidas por um laço que transcendeu as barreiras de seus mundos.

E enquanto o Rio de Janeiro brilhava abaixo, Engfa e Charlotte sabiam que haviam encontrado em si mesmas um lar, um refúgio inabalável entre o morro e o asfalto.