Rainha da Favela - ENGLOT

Jogo de Poder

Charlotte entrou no salão privativo do hotel com a determinação estampada no rosto, mas por dentro, sentia a tensão percorrer cada parte do seu corpo. O ambiente luxuoso, com suas paredes forradas de painéis de madeira escura e iluminação suave, contrastava com o peso da situação. 

Do outro lado da sala, Heng já estava sentado, relaxado em uma cadeira de couro de alta qualidade, um sorriso cínico nos lábios. Ele era um dos fornecedores mais influentes da cidade, conhecido por sua astúcia e ego inflado. Charlotte sabia que ele via aquela reunião como uma oportunidade para reafirmar seu controle.

Heng a observou com um olhar desdenhoso por cima de um copo de uísque. O brilho de desdém nos olhos dele fazia o sangue de Charlotte ferver. Cada movimento seu parecia despretensioso, como se estivesse tratando a reunião como uma formalidade entediante.

— Então você é a protegida de Engfa? — Heng provocou, a voz carregada de um desprezo calculado. Ele tomou um gole do uísque e soltou uma risada baixa. — Engraçado, ela manda você, uma novata, para lidar comigo. Parece que ela está mais desesperada do que eu imaginei.

Charlotte sentiu a raiva crescer, mas sabia que mostrar qualquer sinal de fraqueza apenas confirmaria o desprezo de Heng. Ela puxou uma cadeira e se sentou calmamente, sem desviar os olhos dele.

— Engfa não manda amadores para negociações importantes — respondeu Charlotte, com um tom frio e decidido. — Estou aqui para garantir que tenhamos os melhores termos possíveis. E você vai nos dar o que precisamos.

Heng esboçou um sorriso cínico e tomou um gole de uísque, claramente divertindo-se com a ousadia de Charlotte.

— Os melhores termos? — Ele gargalhou, a risada ecoando pelo salão vazio. — Engfa está acostumada a conseguir o que quer, mas não comigo. Se ela quer meus serviços, vai ter que aceitar os meus termos. Caso contrário, tenho uma fila de clientes dispostos a pagar bem mais do que ela está oferecendo.

Charlotte sabia que estava enfrentando um adversário astuto e obstinado. Mas ela tinha se preparado para este momento e não podia se dar ao luxo de hesitar. Com um movimento deliberado, deslizou uma pasta de contratos pela mesa, empurrando-a suavemente em direção a Heng.

— Acho que você não entendeu o que está em jogo aqui — disse Charlotte, a voz controlada e firme. — Engfa não está te pedindo um favor, Heng. Ela está oferecendo uma oportunidade única. O casamento dela será o evento mais badalado do ano, com cobertura da mídia e uma exposição que poucos fornecedores podem igualar. Qualquer pessoa com um mínimo de visão sabe que isso vale muito mais do que dinheiro. — Ela inclinou-se um pouco à frente, seus olhos fixos em Heng. — E se você não aceitar, podemos facilmente encontrar outro fornecedor disposto a assumir o seu lugar.

O sorriso de Heng se desfez, e sua expressão endureceu. Ele não estava acostumado a ser desafiado, especialmente por alguém tão jovem no jogo. Ele fechou a pasta com um movimento brusco e lançou um olhar penetrante para Charlotte.

— Você está se achando bem corajosa, não é? — Heng rosnou, sua voz carregada de ameaça e desprezo. — Eu não sou o tipo de homem que aceita ser desafiado por qualquer um. Se você acha que pode me intimidar, está muito enganada.

Charlotte manteve a calma, consciente de que estava navegando por um terreno perigoso. Ela olhou para Heng com uma confiança calculada, sabendo que qualquer falha poderia ser desastrosa.

— Eu não estou te intimidando, Heng. Estou te oferecendo uma escolha. Você quer fazer parte do maior evento do ano, ou prefere ser substituído por alguém que entenda o valor da oportunidade?

A tensão na sala era palpável, e Heng parecia contemplar a seriedade da proposta. Após alguns momentos de silêncio carregado, ele finalmente exalou um longo suspiro e se recostou na cadeira, seu olhar menos desafiador.

— Está bem — Heng murmurou com um tom de resignação. — Vou aceitar os termos, mas não pense que isso acabou. Eu não esqueço facilmente de quem tentou me desafiar.

***

Quando Charlotte voltou ao escritório de Engfa, seu coração ainda batia acelerado, mas ela tentava manter a postura firme. Engfa estava sentada em sua mesa, a atmosfera carregada com o aroma de tabaco e o perfume marcante que ela usava. O olhar de Engfa era calculado, quase predatório, acompanhando cada movimento de Charlotte com uma intensidade desconcertante.

Charlotte colocou os documentos sobre a mesa de Engfa, cada movimento carregado de uma sensação de alívio e tensão. Engfa estava imersa em uma nuvem de fumaça de cigarro, o olhar fixo e penetrante nunca se desviando do rosto de Charlotte.

— E então? — A voz de Engfa soou baixa e letal, como se ela já soubesse a resposta, mas quisesse ouvir Charlotte dizer.

— Heng aceitou — disse Charlotte, com a confiança mais sólida do que se sentia. — Exclusividade total e com melhores condições.

Engfa deu um longo trago em seu cigarro, o olhar afiado e crítico nunca deixando o rosto de Charlotte. Ela se levantou com uma graça calculada, cada passo ecoando no piso de mármore. Engfa se aproximou lentamente, o calor de seu corpo quase palpável no espaço reduzido entre elas. O perfume caro e o cheiro de tabaco preenchiam o ambiente, intensificando a presença dominante da mulher.

— Heng aceitando seus termos? — Engfa arqueou uma sobrancelha, o cinismo evidente no tom de voz. — Você realmente fez ele engolir esse orgulho todo? Ou ele está apenas esperando a chance de te destruir?

A proximidade de Engfa era esmagadora, e Charlotte sentia a pressão de sua autoridade. Engfa era uma força da natureza, implacável e sedutora, seu controle quase sufocante.

— Acha que eu não sei o que você fez, Charlotte? — A voz de Engfa era suave, quase um sussurro, mas com um tom afiado que não deixava espaço para dúvidas. — Dobrar homens como Heng não é fácil. Você está começando a entender como funciona o meu mundo. Mas lembre-se, esse jogo tem regras. E eu... — Engfa inclinou a cabeça, seus lábios quase roçando o ouvido de Charlotte — sempre ganho.

Charlotte sentiu um arrepio percorrer sua espinha. Engfa era implacável, sedutora e perigosa, uma combinação de fascínio e medo que a atraía e aterrorizava ao mesmo tempo.

— Espero que você não tenha gostado demais dessa sensação de poder — murmurou Engfa, seu olhar afiado e desafiador. — Porque se errar comigo, eu vou acabar com você.