invisível

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Já era de costume para Ryuki chegar cedo ao trabalho, mas a playlist estava tão boa que fez com que ele pedala-se com mais vontade e velocidade do que o normal, fazendo ele chegar 30 min mais cedo no serviço. O shopping estava completamente fechado e não havia nada o que fazer, se não sentar em um dos bancos de madeira na frente do estabelecimento, e esperar o gerente chegar.

 Ryuki lembrou que tinha trazido um pequeno lanche para mais tarde, e decide comê-lo enquanto curte a música de sua banda favorita. Ele pega o sanduíche de frango, mas antes de morder o primeiro pedaço, percebe que bem na sua linha de visão, havia um homem quase invisível no fundo, do outro lado da rua.

 Um sujeito com roupas sujas e rasgadas, tapado com um papelão fino e usando touca, seus cabelos e barba já eram grisalhos, demonstrando uma idade madura, sua face trazia o olhar de alguém que já tinha desistido, e aceitado tal desistência. Sem pensar no por que ele fez aquilo, Ryuki coloca seu pé sobre o pedal da sua bicicleta deixando o seu corpo erguido, e com a outra perna, se movimenta pelo chão usando o veículo como patins. Ele rapidamente atravessa a rua movimentada de pessoas e carros, chegando em instantes próximo ao sujeito no chão.

 Ele apoia sua bicicleta no poste de luz e puxa um segundo papelão jogado no solo, se sentando na calçada e se apoiando na mesma coluna de concreto do homem na calçada. Esticando suas pernas e às cursando uma sobre a outra, ele aproxima o alimento do homem e pergunta.

— e aí meu nobre! Tá com fome?

 O homem se vira em direção a ele e pergunta.

— pera, você atravessou a rua só pra perguntar se eu queria o seu lanche?

— ué! Você parecia com fome, ou você não tá com fome?

— não! Não é isso, só que a situação é estranha. Mesmo que eu peça ajuda das pessoas de forma desesperada, elas não escutam. Medo, nojo, ou irrelevância, vários olhares são lançados para mim. Alguns nem olham, acreditam que eu escolhi isso aqui! Acredita? Passar fome e frio! Hahaha 

O homem pega o sanduíche e agradece com um sorriso gentil ao jovem rapaz. Ryuki encosta sua cabeça sobre a parede, enquanto encara o céu, ele diz.

— e por que você tá aqui?

 Enquanto come o sanduíche com gana, ele responde.

— há alguns anos atrás, eu tinha tirado férias com minha família. Minha filha e minha mulher; minha menina era tão linda, tão meiga, extremamente sorridente, eu quase nunca ouvi ela chorar. Minha amada era tudo o que eu podia pedir, atenciosa, ela tinha um jeito de lidar com as pessoas que fazia com que todo mundo amasse ela. Mas nesse dia a gente começou a discutir, o que era extremamente raro.

 Algo a ver com o meu trabalho, por eu não querer tirar férias, não lembro. Até que eu olhei para ela para pedir desculpas e perdi o controle do carro. Batemos em um caminhão e eu acordei 6 meses depois. Sem um dos braços — diz ele acenando com o braço amputado. O homem começa a chorar enquanto come o sanduíche, ele continua a história.

— eu não queria acreditar, eu não queria… e fiquei tão perdido que saí do meu serviço, sai da minha casa, sai da minha cidade, e vim a pé até aqui! E agora estou na rua já fazem 11 anos. Mas eu desisti, não conseguiria viver uma vida sem elas e sou covarde demais para pôr um fim em mim. Então estou aqui esperando algo de ruim acontecer ou a morte me abraçar. No fim das contas eu realmente escolhi isso!

 Ryuki coloca a sua mão sobre o ombro do homem em lágrimas e diz.

—Escute, o que vou dizer não vai melhorar as coisas nem aliviar a dor que você sente pela perda delas. Na verdade, essa dor é a prova de que você realmente as amava.

Mas o fato de você estar vivo é algo a ser considerado. Existem tantas maneiras de você valorizar sua vida por si mesmo. Conhecer seu íntimo e realizar sonhos que você nem sabia que tinha. A dor nunca vai desaparecer, mas ela é a prova de que você está vivo, assim como o amor que você sente por elas ainda está presente, manifestando-se nesse luto, o que prova que é um sentimento verdadeiro.

Desistir de viver e continuar é quase como negar o amor que elas sentiam por você! Elas gostariam que você continuasse, assim como você gostaria, se estivesse no lugar delas, não é?

 De repente o shopping começa a abrir a porta de entrada dos funcionários, rapidamente Ryuki se levanta. Ele pega sua bicicleta e diz aí homem antes de ir.

— pense em viver não só por você mesmo, mas sim para dar valor e sentido à morte delas. Carregando consigo as memórias que você construiu ao lado de sua família. Eu vou indo lá! 

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⏰ Última atualização: Sep 05 ⏰

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