Prólogo

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Fevereiro de 1846, Londres, Inglaterra

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Fevereiro de 1846, Londres, Inglaterra

"Eu queria ser lembrada, queria fazer algo que todos lembrassem e comentassem. Eu queria ser alguém."

Esses pensamentos me acompanhavam enquanto caminhava até uma gráfica não muito longe de casa. Eu estava com minha capa, escondendo meu escaldante cabelo ruivo e metade das minhas feições.

Cresci ouvindo os comentários sobre minha mãe, Penelope, ser a infame Lady Whistledown, uma colunista "venenosa." Mesmo depois de ter parado de escrever, mamãe era lembrada e falada.

E papai... papai escrevia diários de viagem que eram adorados por absolutamente todas as pessoas da Inglaterra!

Ambos seriam sempre lembrados.

Eu até tinha certeza de que meus irmãos mais novos também seriam eternamente lembrados. Thomas era sagaz, ótimo em jogos e um viajante que deixava sua marca por onde passava. Jane tinha ouvidos para todas as fofocas e mantinha um diário sobre tudo que ouvia, como seu próprio Whistledown particular. E ela jura que vai convencer mamãe a voltar a ser Lady Whistledown! Eu não duvido nem um pouco; Jane é determinada como um touro! E George... George era a pessoa mais inteligente que já conheci. Ele não dominava apenas as letras, mas também números, mapas, socialização... Ele poderia muito bem derrubar a monarquia, se quisesse!

E eu? Eu não tinha nada de especial. Números bagunçam minha cabeça, sou tímida demais e nunca presto atenção nas fofocas! E enjoo até em viagens de carruagem. Eu jamais achei que teria algum talento.

Até que resolvi escrever.

Começou de forma simples. Apenas peguei uma pena e coloquei meus pensamentos para fora. Aquilo foi se transformando em uma história — uma outra versão de mim, completamente diferente.

Com a ajuda de alguns livretos de Thomas, concluí uma história que não era apenas sensual, mas também inspiradora e feminista!

Eu só esperava que a editora entendesse isso e publicasse o que eu havia escrito.

Talvez não fosse muito bom — não tive coragem de mostrar, muito menos contar a alguém sobre essa história — mas eu queria uma chance de ser lembrada.

Cheguei em frente à gráfica editora CF, uma estrutura de pedra branca de dois andares. Homens saíam e entravam, alguns carregando jornais, livros, manuscritos e malas.

Decidida, entrei na editora.

Depois de trocar algumas palavras com o recepcionista, fui levada até o editor-chefe.

Sr. Norris, dizia o crachá na mesa. Ele era um senhor de cabelos brancos e usava óculos estranhos.

— Sente-se, senhorita — disse o Sr. Norris, apontando para uma das duas cadeiras à sua frente. Obedeci, tentando não demonstrar nervosismo. — Levou sorte, senhorita. A editora literária não está muito cheia hoje, então posso atendê-la agora mesmo.

— Obrigada — respondi, lutando para conter meu pé, que queria quicar no chão.

— Então, o que você tem aí? Posso ler?

Assenti e passei meu manuscrito para ele. Na primeira página lia-se "A Sombra do Amor", que contava a história de uma herdeira chamada Abigail e de um caçador de fortunas, Thorne, e o romance proibido entre os dois.

Comecei a roer as unhas enquanto o Sr. Norris lia. Eu estava contando as lágrimas... Ele já estava na vigésima primeira, e trinta minutos haviam se passado...

— Ótimo! — disse ele, fechando o manuscrito, me assustando.

— Ótimo? — perguntei, confusa.

— Vamos publicar seu livro! — respondeu ele com um sorriso. — Li poucas páginas, mas já percebi que sua narrativa é capaz de prender o leitor mais exigente. Isso vai vender como água!

Sorri de alegria. Era exatamente o que eu queria: a publicação do meu livro!

— Vocês vão mesmo publicar? — perguntei, ainda sem acreditar.

— Sim! — O Sr. Norris me olhou atentamente. — O que acha de ganhar quarenta por cento das vendas? Ou prefere receber todo o dinheiro pelo manuscrito agora?

— Quarenta por cento — falei rapidamente. Não estava preocupada com o dinheiro.

Eu seria lembrada! Para sempre eu seria lembrada.

— Ótimo. E qual é o nome do autor? Imagino que você seja apenas uma representante. — Ele tirou os óculos estranhos.

Infelizmente, a sociedade ainda era machista demais. Se esses livros saíssem com meu nome, eu não arruinaria apenas a mim, mas minha família também...

— Agathe — suspirei. — Agathe B.

Era o nome perfeito, meu nome, apenas trocando algumas letras. O suficiente para ser reconhecida, mas jamais comprovado. Assim, ninguém poderia me considerar arruinada pelo que escrevi!

Oh céus... Eu seria uma escritora!

As Linhas do DesejoOnde histórias criam vida. Descubra agora