Talento Mágico(1)

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"Na época das trevas, quando os Deuses e os Demônios travavam uma batalha sangrenta na Terra, surgiu uma luz que traria o fim à guerra: um humano que se auto denominava uma "Feiticeira".

A feiticeira podia ser tão poderosa quanto um Deus, mas ela era uma humana, o sangue que banhava as terras era o mesmo que corria nas suas aveias.

Para ela, não fazia sentido estender uma guerra onde o único resultado era apenas a morte.

Enquanto os Deuses matavam pela sua crença e os demônios pelo seu ego, a feiticeira lutou pela paz.

Diferente deles, ela sacrificou o seu próprio corpo pelo que acreditava, selando as portas do inferno e consequentemente expulsando os Deuses pro céu com a sua magia.

Magia essa que passou a ser visada por aqueles que tinham sede de poder e pela guerra.

A feiticeira, para controlar a situação, decidiu criar a Torre Mágica, onde qualquer um poderia se tornar um mágico, ou mago, com talento.

Agora dona da Torre mágica, passou a se chamar de Arquimaga, a primeira e mais poderosa maga do mundo."

— Se ela era tão poderosa porquê morreu?— a minha voz ecoou entre as prateleiras de livros, uma pergunta destinada a ninguém em específico, apenas um fruto da minha frustração.

— O corpo dela nunca foi encontrado, sua alteza.— A bibliotecária, que tentava desfarçar seu olhar curioso com seus óculos já fazia um tempo, lembrou-me desse pequeno detalhe da história que todo o mundo sabe.

A arquimaga desapareceu há 400 anos atrás, mas por não terem encontrado nada por um século, a declararam morta.

Ainda é impressionante que tenham passado tanto tempo procurando ela, mas tem um motivo: alguns anos sem notícias da Arquimaga, começaram a surgir monstros parecidos com os demônios das histórias, só que irracionais.

Os magos, clérigos, cavaleiros tentaram lidar com a situação, mas tiveram que recorrer a Arquimaga depois de a tentativa ser um fracasso.

Entretanto, a Arquimaga não atendendeu o chamado de ninguém, muito menos do Imperador, e passou a ser procurada.

Com o passar do tempo, a procura por ela não chegou a lugar nenhum, e a situação dos monstros ficou pior. Então, o Imperador decidiu focar em encontrar outra maneira de lidar com os monstros sem a ajuda da Arquimaga, declarando ela como morta.

— Mas é impossível ela estar viva, Garlien.— Retruquei. Entretanto, tem gente, como a bibliotecária, que é mais otimista e acredita que ela ainda ta viva em algum lugar. Mas não faz sentido para mim, humanos não deveriam viver por tanto tempo.

— Temos registros dela há mais de mil anos, princesa.— Garlien insiste nesses pequenos detalhes de registros incertos, são tão poucos, que é difícil de se lembrar, mas ela tem uma memória incrível e consegue lembrar de cada um desses relatos e pesquisas sobre a Arquimaga, do mesmo jeito que lembra onde fica cada livro nessa biblioteca gigante.— O que impede ela de estar viva?

— Os demônios.— Não estou querendo dizer que a Arquimaga é fraca e morreu por um monstro qualquer, já cansamos de saber sobre a sua força inigualável.— A Arquimaga usou o próprio corpo para selar eles, como eles escaparam se ela está viva?

— Os monstros são parecidos, mas não são, comprovadamente, demônios.

— Então o que eles são?!— Suspiro, deixando o livro "A Arquimaga" em cima da pilha de documentos que eu estive lendo à horas.

— Não sabemos, mas é isso que a sua alteza tanto procura?— Ela sai de trás da mesa da recepção, passando os olhos pelos meus livros— Esgrima, Fundamentos da Mana, Administração, [...].— Está atrás de poder? A princesa, Anástacia von Löwenschwert, do Império Sawarnna, procura poder?

Não faço questão de arrumar a minha postura jogada na cadeira ou responder à altura. Ao chegar a esse ponto, não adianta tentar proteger o meu orgulho.

Eu entendo o choque de Garlien, Sawarnna é conhecido pelos espadachins talentosos que nascem na realeza, seja homem ou mulher.

Infelizmente, eu nasci sem talento, apenas sou mais inteligente que as crianças da minha idade.

O que não faz sentido?

Como a terceira criança da profecia, eu ter um talento deveria ser o mínimo.

Há 3 séculos atrás surgiu uma profecia, onde a terceira criança nascida do Imperador abençoaria o império com glória.

Desde então, cada imperador fez de tudo para ter uma terceira criança, mas sem sucesso, até eu chegar.

Entretanto, tirando a minha inteligência, não tenho nada a contribuir para o império.

Enquanto o meu pai e os meus irmãos foram às muralhas para combater os monstros, eu estou aqui: chafurdando nos livros da biblioteca Imperial.

Garlien parece perceber o meu estado e se senta na ponta da mesa ao meu lado com um sorriso simpático.

Ela sabe que a minha procura é justificativa, não é novidade no império que a terceira princesa nasceu frágil e mais fraca que o normal. Existiria uma chance de eu ter um talento escondido para combate?

— Sua alteza já ouviu falar sobre olhos roxos?— Vi seus olhos castanhos avermelhados encarar os meus através dos seus óculos. Mesmo eu tendo as íris roxas, é a primeira vez que me perguntam isso.— O primeiro registro deles foi com a grande Arquimaga. Dizem que eles simbolizam o seu talento para lidar com mana. Existem muitos magos com traços roxos nas suas íris.

— Apenas traços? Eu tenho a íris inteira roxa, isso significa que posso aprender magia?—  Pulei da cadeira com a perspectiva de ter um talento oculto para ser uma maga poderosa, talvez como a Arquimaga.

— A princesa poderia chamar um mago para verificar a sua mana, não?— Não esperei ela terminar de falar, eu já estava na porta da biblioteca me despedindo para buscar um mago.

— Obrigado, senhorita Garlien!

A Ganância de Sua AltezaOnde histórias criam vida. Descubra agora