Talento Mágico(3)

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Silêncio, todos precisam dele, independente do quanto. Não foi diferente para mim, mas eu precisava mais do que silenciar o mundo. Precisava silenciar a minha mente.

Por esse motivo que a biblioteca virou o meu refúgio. Apesar do Palácio não ser barulhento, existia algo na biblioteca que parecia isola-la do mundo— Vento, pássaros ou passos, nada além do barulho de livros era ouvido. E, mesmo se existissem alguns pequenos barulhos, eu estaria muito imersa num livro para percebe-los.

Parando para pensar, a biblioteca é gigante, nunca encontrei a fonte da maioria dos barulhos que era possível ouvir dentro dela. Normalmente assimilava eles com Garlien organizando os livros.

Garlien era a única pessoa que eu via na biblioteca. Talvez existissem outras— por causa do som constante de folhear livros—, mas, mesmo se eu ficasse o dia inteiro procurando, nunca as encontrava e, em vez disso, acabava-me perdendo.

A biblioteca parecia infinita, mas diante de tantos mistérios, o que mais me chamava atenção era a falta de janelas. Apesar de grande, não existia um único lugar nela que não fosse iluminado— mesmo o palácio com suas milhares de janelas de mosaico tinha os seus pontos fracos.

Essa minha curiosidade levou-me a perguntar uma vez para Garlien onde ela escondia as velas e como conseguia acender todas, mas sua resposta apenas me trouxe mais perguntas: Garlien disse que velas não eram permitidas na biblioteca por causa do risco de queimar os livros e que a luz da biblioteca era natural; e eu, que entrava na biblioteca quando o sol nascia e saia quando anoitecia, não pude argumentar.

Todavia, aqui estava eu, pela primeira vez, na biblioteca durante a noite.

Tudo estava escuro como um breu e apenas soube onde estava quando dei de cara com as estantes de madeira entalhada que só podiam ser encontradas na biblioteca.

Mas, antes mesmo que eu tivesse oportunidade de fazer mais bagunça, um som de passos ecoou na escuridão e a medida que chegava mais perto foi possível ver a luz de um lampião.

— Anástacia?— Garlien apareceu de trás de uma das estantes, vestindo uma camisola enquanto esfregava os seus olhos cansados, sem seus óculos, enquanto segura um lampião com a outra mão.— O que faz aqui?

Por que estou aqui? Honestamente, não consigo-me lembrar. Eu acordei e comecei a andar pelo palácio em busca de Frehrrir, então fui para o dormitório dos serventes, onde encontrei...

Ploft!

Ouço o barulho de um livro caindo da estante do meu lado, mas quando viro para ver-lo eu sinto o cheiro de enxofre invadir as minhas narinas e todo o meu corpo para diante o olhar da criatura, ou melhor, Frehrrir.

Ela tinha virado um monstro e logo depois se matou. Ou pelo menos era isso que eu me lembrava ter acontecido, mas ela estava aqui, de novo, viva.

— Oh! Então finalmente aconteceu!— Vejo Garlien passar por mim para chegar na criatura, como quem recebe uma ótima notícia de braços abertos.— Minha querida Frehrrir!

Ela passa os dedos carinhosamente pela carne corroída do rosto da criatura, contornado principalmente os seus olhos esbugalhados. A criatura, no entanto, apenas a encara com os seus olhos que brilhavam num roxo escuro.

— O que quer dizer com finalmente?— Minha voz saiu tremula na tentativa de controlar o impulso de acusa-la, mas mesmo assim sai como um soluço incontrolável.- Você tem algo haver com o que aconteceu com ela!?

— A princesa não acha que ela está mais linda agora?- Garlien vira para mim, abraçada à criatura, igual quem mostra o próprio filho com roupas novas. Entretanto, quando olha o meu rosto, parece desanimar.— ... Tanto faz, de qualquer forma isso não é o mais importante agora, se você está aqui com ela, significa que despertou!

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⏰ Última atualização: Oct 03 ⏰

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