The echoes of us - sunsun

1.

"And now we're just strangers, trying to find a home in a crowded space."
- Novo Amor, "Anchor"

| Sunghoon

Toda sexta-feira à noite, Heeseung e Geonu arrastam-me para uma rodada de uísque no pequeno bar escondido em um beco da cidade. O ambiente é apertado, cheio de sombras e cheiros de bebidas antigas, mas sempre tem uma mesa disponível para nós. Odeio a companhia deles, na verdade, detesto estar na companhia de qualquer um, mas encontro algum prazer no sabor amadeirado do uísque e na sensação ardente que ele proporciona à minha garganta. Eu provavelmente me arrastaria para mais horas extras ou compraria uma bebida qualquer na loja de conveniência, então acabo permitindo que Heeseung me arraste.

Conheço Heeseung há mais de uma década; ele foi meu senior na universidade. Há cerca de dez anos, Heeseung decidiu deixar o ensino para abrir sua própria empresa de tecnologia e eu investi toda minha herança nessa empresa e desde então, ele tem sido como um carrapato que não consigo remover.

Ele age como um pai, embora eu nunca tenha sentido necessidade de um. Constantemente, ele tenta me empurrar para encontros às cegas, me obriga a sair mais cedo do trabalho e insiste em me incluir em seus eventos familiares, como se fossem obrigatórios para mim. Sou seu padrinho de casamento e quase fui padrinho da sua filha mais velha, mas graças a Deus consegui convencê-lo de que seu irmão ficaria triste se fosse eu e não ele. Eu, padrinho de alguém? Eu, que nem sei como viver minha vida? Quando nasceu a mais nova, eu o convenci de que a irmã de sua esposa ficaria triste se não fosse ela. Não que eu ache que ele foi convencido, ele provavelmente entendeu que eu não queria esse fardo. Mas se ele tiver um terceiro herdeiro então eu não terei para onde correr.

- Sunghoon, você precisa logo escolher um assistente. Foi promovido e tem que ter um. Você por um acaso leu os currículos? - pergunta Heeseung com aquela expressão de pai, mesmo que ele seja só dois anos mais velho do que eu.

Apesar de ter investido na empresa eu nunca aceitei uma posição de chefe, forcei Heeseung a me deixar ser um funcionário como qualquer outro, mas acontece que a Nanomoji cresceu demais e eu inevitavelmente fui promovido.

Olhei para ele e coloquei o copo de vidro entre os lábios, ciente de que antes que eu abrisse a boca, Geonu atropelaria o assunto dizendo algo que faria a conversa se tornar sobre ele. Não tenho nada contra Geonu... bem, na verdade, tenho tudo contra Geonu. Ele é narcisista, arrogante, quer tornar tudo em uma grande competição, é inconveniente e não sabe ler o momento. Mas Heeseung gosta dele porque ele é engraçado e trabalha bem, ele de fato trabalha bem, isso é uma verdade. E como eu já esperava, Geonu atropelou o assunto.

- Falando em assistente, não quero mais o Sunoo, ele é péssimo, não nasceu para o cargo, tenho que ficar ensinando as pequenas coisas para ele... a única coisa que ele sabe é cuidar da minha agenda - diz Geonu.

Heeseung pigarreou e pegou um dos tira-gostos.

- Você insistiu para contratar esse garoto porque ele é bonito e agora quer que eu o demita? - pergunta Heeseung.

- Eu me enganei, achei que ele pudesse aprender rápido - diz Geonu, dando de ombros.

- O que foi que eu te disse na época? - pergunta Heeseung.

Geonu revira os olhos.

- Que ele era inexperiente, que só trabalhou em restaurantes e que precisaria de muito treinamento. "Se decidir ficar com ele, não vai poder pedir para ser trocado mais tarde" - diz Geonu, imitando a voz de Heeseung.

Heeseung deu um peteleco na cabeça de Geonu.

- Vai ficar com ele, tô nem aí - diz Heeseung.

Geonu olhou para Heeseung como uma criança mimada e birrenta. Eu tenho tanta aversão a ele que tenho certeza que é visível em meu rosto. A cada interação com ele, meu desprezo só aumenta. Sua atitude desprezível e a constante necessidade de se colocar acima dos outros me enojam. Ele sempre encontra uma forma de desviar a conversa para si mesmo, buscando incessantemente a validação que claramente não recebeu o suficiente na vida.