"You can drive all night
Lookin' for the answers in the pourin' rain" — Cigarette Daydreams, Cage the Elephant|Sunghoon
Minha cabeça latejava, como se alguém estivesse martelando repetidamente dentro dela. Revirei a gaveta da escrivaninha, mas, como já esperava, nenhum analgésico. Lembro exatamente quando tomei o último, lembro até de ter pensado em comprar mais na volta para casa e, claro, não comprei. E a culpa é toda do Kim Sunoo.
Eu sei, eu sei, não faz o menor sentido culpar ele por eu não ter comprado os analgésicos. São duas coisas totalmente diferentes, mas a verdade é que eu tô tão cansado de me sentir responsável por tudo. Então, mesmo que não tenha lógica nenhuma, às vezes acabo colocando a culpa nele. Claro, vou manter isso só pra mim – não vou sair por aí dizendo "não comprei os analgésicos e a culpa é sua", isso não faz nem um pouco de sentido, né? Mas, de algum jeito, só de deixar isso na minha cabeça, parece que o peso sai um pouco dos meus ombros.
Eu só posso ser maluco.
A dor de cabeça me puxa de volta dos meus pensamentos. Suspirei e me vi sem escolha a não ser chamar o garoto magrelo.
Não sei exatamente quando passei a odiá-lo. Talvez tenha sido na primeira semana em que foi transferido para mim, uns dois meses atrás. Ou talvez antes, quando o via pelos corredores, sempre sorrindo, sempre... alegre. Isso já me irritava. Agora que trabalho com ele, esse incômodo virou algo muito pior. Ele não faz ideia do que está fazendo, nunca fez. E eu sei com absoluta certeza que ele nunca foi treinado para esse trabalho. Não há como ele ter sido. Ninguém poderia ser tão... confuso, tão inepto, se tivesse recebido o mínimo de orientação. Eu diria que é impossível alguém ser tão ruim assim sem esforço.
Ele confunde as datas de tudo. A cada semana, é a mesma história: ele me passa prazos errados, compromissos trocados. Sempre estou corrigindo seus erros. “Não, Sunoo, isso é para a próxima terça, não para hoje.” “Isso deveria ter sido feito ontem, não amanhã.” É exaustivo. Eu poderia tolerar alguém incompetente, talvez até ignorar, se essa pessoa ao menos se mostrasse ciente do próprio fracasso. Mas Sunoo? Não. Ele faz todas essas merdas e ainda sorri, como se estivesse no controle de tudo, como se nada tivesse importância.
Peguei o telefone, liguei para ele. Claro que ele atendeu no primeiro toque, como sempre.
— Senhor Park? — A voz dele soava alegre demais, como sempre.
— Venha até aqui. E traga um analgésico, se tiver — falei, lutando para não parecer tão irritado, mas fracassando como de costume.
Em questão de minutos, a porta se abriu. De novo, Sunoo fez questão de ser silencioso. Desde o dia em que eu gritei com ele por entrar fazendo barulho demais, ele tem se esforçado para ser invisível. E honestamente, isso só piora as coisas. Ver ele tentar evitar que eu exploda é mais irritante do que o barulho que fazia antes. Quem diria que eu sentiria falta do som da porta batendo?
— Eu só tenho esse analgésico. Serve? — Ele me estendeu o remédio com aquele maldito sorriso no rosto, como se estivesse oferecendo algo precioso.
— Qualquer um serve, Kim Sunoo — falei, seco. Qualquer remédio bastava para essa dor de cabeça infernal, mas a verdade era que lidar com Sunoo estava me dando outra dor de cabeça.
Ele se aproximou, e por um segundo observei como ele movia o corpo, sempre um pouco desajeitado mas ao mesmo tempo elegante? Não sei como explicar é uma coisa que só sabe quem vê. E os hematomas em suas mãos eram difíceis de ignorar. Como ele conseguia se machucar tanto, só andando por aí? Sua mão roçou a minha enquanto me passava o analgésico, e eu senti o contraste: sua pele era tão fina e marcada, como se ele estivesse à beira de se quebrar. Será que ele se machuca só de viver?
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The echoes of us - sunsun
FanfictionSunghoon é um homem reservado e desconfiado, que prefere a solidão à companhia das pessoas ao seu redor. Sua vida é meticulosamente organizada para evitar interações desnecessárias, especialmente com aqueles que, como Sunoo, exibem uma leveza e aleg...