Que se foda essa porra toda, ela pensa.Seus cabelos pingam gotículas de água que enxarcam aos poucos a região de seus ombros, escorrendo pelo tecido branco rapidamente. Sua cabeça doía dolorosamente, com pontadas fortes resultados de sua recente briga. Assim que adentrou o Dodge Challenger preto opaco, a pancada forte da porta ecoou pela garagem fechada. Com as mãos tremulas, abriu o portão com o pequeno controle e uma rápida olhada no retrovisor. O peito da jovem subia e descia de maneira necessitada de ar, já que seu coração se encontrava acelerado, como em todas suas crises. Era demais pra ela, tudo. Não queria que fosse assim, só desejava que sua vida voltasse a ser... Normal. Descontou sua frustração com a vida no volante, agarrando-o com precisão enquanto seu pé não hesitou em ir contra o pedal do acelerador.
Quando deu conta de si, estava a quilômetros de casa. Sequer parava nos sinais vermelhos, só queria ir pra longe, o mais longe possível, até desaparecer. As ruas de San Francisco numa madrugada fria e chuvosa de inverno como essa eram vazias, desertas de uma maneira sombria. O som monótono dos limpadores do para-brisa escorregando contra o vidro molhado era a única coisa que ouvia além de sua respiração ofegante. Os pneus pareciam escorregadios contra o asfalto hoje, mais que o normal, e cada virada parecia que o freio gritava mais. A cada gota de chuva escorrida no vidro diante dela, uma nova lágrima rolava por suas bochechas, como se a intensidade da chuva fosse apenas um reflexo dela, de sua alma dolorida.
Era difícil não pensar em tudo que carrega sozinha. Queria poder apenas... Colocar essas merdas pra fora, mas era tarde demais. Ela já estava engolindo a muito tempo, e não tinha mais jeito. Ela se fundiu as coisas que viveu calada, e não tinha mais como separar. Não tinha como ser ela novamente, nunca mais, e isso acertou-a em cheio, como um soco no estômago. As mãos agarraram o volante, e seus olhos se fecharam com força enquanto um choro desesperado misturado com um grito escapa de seus lábios.
Os dedos doem, a cabeça lateja, o peito rasga, seu corpo queima. Uma fração de segundo.
Engraçado pensar que apenas um segundo é o bastante.
O carro sobressaiu do chão com uma descida drástica de colina que não previu, as rodas perderam a direção imediatamente, o volante não a obedecia mais e seus olhos se abriram por um milésimo de segundo antes do carro capotar, e ela apagar.
Um zunido alto ecoava de maneira dolorosa em seus ouvidos junto com o vidro estilhaçado caindo, e não fazia ideia de quanto tempo passou apagada. Um soluço chorosamente silencioso foi solto ao perceber que o carro estava capotado e a pressão de seu corpo contra o volante embaixo dela era insuportavelmente torturante. Passou a língua pelos lábios, e o gosto metálico invadiu rapidamente sua boca. A camisa antes branca agora estava vermelha de puro sangue, sangue por toda parte.
Todo seu corpo, cada músculo contorcia-se na pior sensação de todas. E enquanto as lágrimas rolavam por seu rosto incansavelmente e caíam no painel quebrado embaixo dela, só conseguia pensar que aquilo não era um simples acidente.
Aquilo, na verdade, era exatamente o que ela merecia.
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The 30th - Billie Eilish fanfic.
FanficAnya, uma estudante universitária entediada com a rotina, vê sua vida mudar drasticamente quando um acidente fatal tira a vida de uma garota de sua faculdade, uma jovem misteriosa. Intrigada com as circunstâncias da morte e com a história que paira...