Estações - 𝗝𝗲𝗻𝗻𝗮 𝗢𝗿𝘁𝗲𝗴𝗮

Iɴᴠᴇʀɴᴏ - É frio demais lá fora

Os problemas fazem parte da vida, cada um tem os seus, mas ninguém pode negar o fato de as coincidências acontecem, afinal, encontrar uma pessoa com a mesma situação de vida que você pode ser libertador. Porém, ser surpreendentemente parecido com alguém também pode assustar; te deixar com medo.

Um exemplo bem claro disso é mostrado quando você tem um irmão gêmeo, a situação pode triplicar caso sejam trigêmeos, porém a questão principal é: como alguém pode ser tão parecido com você se, em toda a sua vida, você teve o mínimo contato com o indivíduo? É exatamente isso que eu estou tentando descobrir, eu espero achar a minha outra metade logo.

— Um café expresso quentinho com dois croissants de chocolate? Ah, nesse frio parace um ótimo pedido, Sra. D'Angel. – Bruno, o garoto que estava ali todos os dias, falou com seu entusiasmo de sempre e sorriso no rosto, ele nunca estava de mau humor, diferente dos outros atendentes da cafeteria. — sente-se e fique à vontade, seu pedido chega em cinco minutos.

Com um leve aceno de cabeça, eu me sentei em uma das cadeiras mais ao fundo do estabelecimento, esperando sem pressa. O local não estava tão cheio, mas eu tive que dividir a mesa com alguém, sendo assim, escolhi a que mais parecesse silenciosa, evitar tumultos e conversas extravagantes de adolescentes sempre foi o meu foco principal.

Colocando o meu caderno de desenho sobre a mesa, comecei com rabiscos suaves, entretanto, eu sabia que um par de olhos não ignorava nenhum dos meus mínimos movimentos, aparentava estar impressionada e com um desejo interno de falar. — Desculpe, eu vi que você está me olhando. Posso te ajudar?

A morena se assustou, seus olhos castanhos com as pupilas dilatadas foram para longe, negando-se a olhar para mim, a franja sobre sua testa foi ajeitada e ela nitidamente não se sentiu tão confortável. — bem... Sabe... Eu achei seus desenhos bonitos, eu não sei desenhar, por isso estava olhando, você tem talento...

A voz dela é tão doce quanto favos de mel frescos, suas bochechas em um tom rosado, assim como seu nariz, eu não sabia se a causa de tal reação corporal fosse sua vergonha ou o frio que nos cercava do lado de fora, ela era adorável, como um verdadeiro anjo que havia se perdido do caminho do céu por pura ingenuidade e pureza.

— Às vezes, tudo o que você precisa é praticar. Eu não aprendi a desenhar assim que tentei pela primeira vez; é um processo que leva tempo, e tudo tem seu próprio tempo. – afirmei, sentindo um sorriso gentil se formando em meus lábios, claramente contente por dar-lhe esperança de que, com o tempo, tudo é possível.

Novamente, os olhos da mulher se distanciaram de mim, eu finalmente pude notar as olheiras sob as pálpebras, ela não deve ter tido uma boa noite de sono. — acho que sim, eu já tentei praticar, mas me sinto péssima nisso... A propósito, eu me chamo Jenna, porém, você pode me chamar de Marie.

— Eu me chamo Amara, Marie. Agora diga-me, seria Jenna Marie? – ela riu enquanto balança a cabeça em concordância, a risada como o ar que enchia meus pulmões, ela me fez respirar mais livramento com um único som genuíno, a risada dela é verdadeira. – Isso pode soar como Mary Jane, se invertemos o nome com a pronúncia um pouquinho diferente.

— Você acha? Uhm... Para falar a verdade, eu tenho 22 anos e nunca encontrei o meu Peter Parker. – seu sorrio pareceu flertador, como uma uma isca tentadora para qualquer peixe que estivesse ali por perto, ela estava jogando as cartas na mesa, porém, talvez eu não deva aceitar da forma mais fácil.

— Porventura, uma Gwen Stacy lhe cairia bem. – foi tudo o que eu disse, mas, assim que falei, o sorriso dela desapareceu, como se toda a sua alegria tivesse sido consumida por lembranças doloridas do passado, Jenna foi magoada, e ela não havia superado, ainda não.