Talvez eu me importe.

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18 de junho

Cheguei na escola e minhas amigas me receberam com abraços e risadas, passamos as aulas revisando para as provas e fomos até o refeitório juntas, fizemos até planos de fazer vídeo chamada de quando eu voltar para Austrália pra não ficarmos tão separadas.

Parecia um sonho

- Olivia acorde! - Escuto meu professor me chamar, era apenas um sonho...era apenas um sonho.-

- Desculpe Senhor.

Eu olho para trás e elas me encaravam com um olhar de preocupação, não consegui ter nenhuma reação além de quer chorar, calma Olivia, isso tudo vai passar...Esse inferno todo de emoções que estão me desequilibrando ou talvez eu me importe muito com tudo ao meu redor, será que é algo passageiro de adolescente? ah isso é cansativo demais...hoje não tô conseguindo escrever nada, talvez minha cabeça esteja silenciosa e não quer pensar em paranoia para me machucar mais ainda de acontecimentos que não aconteceram, pensar em coisas que não aconteceram só antecipa para acontecer...então só para, Olivia.

A aula foi a mesma, me mantive acordada nas aulas e por incrível que pareça...um peso acabou de sair das minhas costas e do meu peito, as meninas vieram se despedir de mim e foram sinceras comigo, talvez eu estava culpando elas pelo falto bobo que elas não saberiam o que fariam ou como seria sem mim aqui ou só não saberiam o que falar para mim, olha como nossa mente é nossa própria inimiga né? na nossa conversa eu só consegui chorar, achei que nossa amizade estava acabada, mas eu só estava me isolando para me proteger do meu trauma de abandono.

A vida é fácil, somos nós que
complicamos ela, mas eu
ainda sentia alguma errada nisso.

Eu cheguei em casa e arrumei as últimas coisas que tinha que arrumar, tirei a foto que tinha da minha mãe que estava colada na porta do meu guarda roupa, suspirei fundo e guardei ela na minha bolsa de mão, senti um cheiro gostoso vindo da cozinha, meu pai ainda tentava preparar os meus pratos que minha mãe fazia, sai correndo do meu quarto e me sentei na cadeira tentando não fazer tanto barulho, arrumei alguns talheres e coloquei minha mão no rosto, ele tava fazendo peixe grelhado, que milagre, ele nunca faz peixe para nós comermos, logo ele viu minha presença, ele se virou rapidamente.

- Filha! - Falou com um sorriso colocando as panelas na mesa -

- Temos algum evento especial para você fazer peixe? - Falei pegando os talheres e soltando um riso -

- Sim, nossa última refeição aqui - Ele falou se sentando na cadeira e logo soltou um sorriso fraco -

- Pai... fala a verdade, viemos a Coreia na tentativa para encontrar a mãe? todas as vezes que viajamos para esses países esses países é para encontrar a mãe? - Suspiro ao falar e encaro o mesmo com uma expressão de dúvida -

Ele ficou em completo silêncio, deu um sorriso fraco novamente, ele perdeu total esperança...eu estraguei novamente tudo, comi um pedaço do peixe calada segurando um pouco a vontade de chorar até ver meu pai falar.

- As vezes eu sinto vontade de saber como ela tá, mas querendo ou não temos que viver o presente, Olivia, nem todos os adultos tem tempo para resolver seus problemas, por que isso tão de repente? Você sabe que o pai trabalha- Ele solta um sorriso - Tá tudo bem, você pode me perguntar o que você quiser, filha, sempre vai ser nós dois, diferente dela, eu não vou te deixar.

Ele passou a mão em meus cabelos e então eu sorri de volta comendo a comida, eu sinta o amor, meu pai era único e verdadeiro comigo. Eu acabei capotando de sono, acordei cedo e prendi meu cabelo com um coque alto, colocando uma blusa despojada, um short e um crocs básicos, em poucos minutos já estávamos no aeroporto que por sinal estava lotado, por que tanta gente estava indo nessa época do verão para a Austrália? esperar incansavelmente enquanto desenho e escrevo no meu caderno, o dia por incrível que pareça estava beeem ensolarado, 32ºc eu acho, a Ásia costuma a ser muito quente nessa época do ano, a mãe dizia que aqui era muito abafado e que deixavam até gelo nos bancos, de novo eu pensando na minha mãe, ok mudando o roteiro dos meus pensamentos, vai que eu ache um garoto bonito na escola nova da Austrália? um sei lá...gostosão tímido, tá bom Olivia esses pensamentos estão indo além.

*Mensagem para grupo de amigas*

- Estou embarcando no voo :)

Desliguei rapidamente o celular, não queria ficar ansiosa com coisas bestas, por mais que eu me importe ainda com isso, peguei uma água que a aeromoça estava distribuindo, meu assento era ao lado da janela, coloquei meus fones de ouvido e logo olhei para o lado e vi meu pai lendo um livro sobre economias com seu óculos no meio do nariz, soltei um riso de leve e peguei meu caderno, dessa vez para desenhar a vista, não iria demorar tanto para chegarmos na Austrália, o sol estava tão lindo, parecia que avião atravessava as nuvens, peguei meu celular após terminar o desenho e vejo que todas as meninas visualizaram minhas mensagens e continuaram outro assunto.

Respira Olivia, há pessoas que você
considera amigas que não te consideram
como sua amiga...é normal

É normal sentir tudo muito intenso, eu desliguei de vez o celular e arquivei aquele grupo, que cada uma viva do jeito que quiser agora (na real eu me importo muito ainda com elas, será que é só paranoia da minha cabeça? será que só não penso demais?)


19 de junho

Chegar na Austrália depois de tanto tempo era reconfortante, aquele cheirinho de casa no ambiente, a praia ao lado, a minha casa costumava ser pertinho da praia, nunca me senti tão feliz em saber que teria minha pele bronzeada novamente. Entrar na minha casa, com um cheirinho de mofo de junto por que estava muito tempo fechada e ao mesmo tempo o cheirinho de praia, me sentei no sofá, meu pai tinha ido ver meu novo uniforme, uma nova vida ia começar mas eu ainda estava presa no passado, suspirando fundo e olhando para o teto, no meu fone tocava Sparks do Coldplay meu coração pesava um pouco por me sentir sozinha sempre a todo momento, eu odeio me sentir vítima mas eu também gosto de me permitir sentir os meus sentimentos para não sofrer, eu odeio reprimir eles.

Acordei na hora certa, se mudar para uma escola diferente no meio do ano, mas eu sabia como era isso então não estava tão ansiosa, peguei meu celular e lá estava minhas amigas conversando e nem sequer perguntaram se eu estava bem. Arrumei aquele uniforme que por incrível que pareça era muito confortável, a saia tinha uma barra de proteção com uma bermuda em baixo, a camisa de gola era bem gostosinha para se usar num dia quente como esse, chegando naquela escola a última coisa que eu queria era falar com alguém, talvez minha cabeça estava tão focada nos últimos acontecimentos, ao entrar na minha sala, pela primeira vez, pela primeira vez mesmo

eu achei um garoto
bonito

The Way We Meet  | Oscar Piastri Onde histórias criam vida. Descubra agora