A sensação de ser "fantasma"

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11 de junho

Como é viver se sentindo a sobra? a sensação de angustia por não se sentir em lugar nenhum, olhar para suas "amigas" e não se sentir de certa forma em casa ou até na sua própria não se sentir confortável, não é estranho suas amigas te tratarem diferente porque você está mais quietinha? ah...talvez eu seja sensível demais, talvez eu me importe muito com os outros ou tenho muita consideração pelas minhas amizades...costumo a escrever na escola para esquecer que talvez eu tenha que estudar e encarar o povo daqui, não tem nenhum garoto sequer decente aqui, meu pai diz que eu tenho que focar nos estudos mas como vou focar...se tudo o que fazem na minha escola é falar da minha aparência ou do que eu tô fazendo ou deixando de fazer. Sinto falta da minha mãe, será que ela ia gostar daqui? será que ela ia gostar do jeito que me visto na adolescência? e será que meu pai ainda sente falta dela? São tantas perguntas e nenhuma pode ser respondidas.

- Olívia! - Diz a professora ao ver eu escrever e rabiscar em meu caderno - É pra prestar atenção na aula, se não quiser pode se retirar da sala de aula. - Escuto risos após a professora me dar bronca -

- Sim senhora. - Fecho o meu caderno -

- Que vergonha, se fosse eu nem aparecia mais na sala de aula - Escuto alguém falar alguns burburinhos, decido não escutar -

A aula tinha acabado, e eu fiquei sozinha no recreio novamente, ver minhas amigas se divertindo e me excluindo por que sabem que meu tempo aqui é "curto" então não tem o por que se apegar, não é? que ridículo...a Ásia é tão diferente em vários aspectos com a Austrália, eu sinto saudades da minha verdadeira casa, aqui te tratam mal pelo simples fato de você ser mestiça, por você ter a pele mais escura e olhos puxados, ninguém é humano aqui? ninguém é amigo de ninguém aqui? que lugar lixo...Eu me acostumei com o bullying de certa forma, mas não me acostumei com a solidão, eu quero aprender amar, quero sentir a sensação de ter uma amizade verdadeira, de poder contar com tudo mas com limites sabe? eu também quero conhecer pessoas novas, rapazes bonitos e...me apaixonar pela primeira vez. A minha melhor amiga anda mais com as outras três do grupo, ela sempre diz que está ocupa pra conversar "não posso agora oli" "ah foi mal tenho que arrumar a casa" "to estudando" ou simplesmente me deixa no vácuo, recentemente eu tenho chorado um pouco na escola por saudades da minha casa e da minha mãe, as meninas sabem da minhas dificuldades, mas continuo sentindo excluída.

- Tá triste de novo, Olívia? - Chloe fala e logo depois suspira ao olhar para mim -

- Nada, só estava escrevendo...meus pensamentos da aula - Fecho meu caderno e me levanto ao ver elas -

- Soubemos que você volta semana que vem para Austrália, já ficamos cansada de você ficar triste - Aquela sua risada ao final da frase que me deu vontade imensa de chorar -

- A vida não vive só de tristeza, Olívia - Como se elas se importassem -

- Quem foi que contou para vocês?

- A gente acabou descobrindo, amiga, você sabe que pode contar com a gente. - Eu sei que não posso contar -

- Primeiro vocês cansam de mim e agora...eu posso contar com vocês? - Eu encaro as garotas com cara de dúvida -

- Olha...nós falamos na brincadeira né? jamais cansaríamos de você, só queremos o seu bem.

- Realmente! você é nossa amiga.

Eu respirei bem fundo para não me estressar, como pode mudar de opinião tão rápido? Eu sou apenas uma tampa buraco? O que eu sou realmente?

- A aula já vai começar.

A única aula que eu compreendia tudo era a de inglês, o professor costumava a ser legal e eu podia escrever a vontade no meu caderno sem ser julgada, nunca senti tanta vontade de chorar como hoje no recreio, por que nós pessoas intensas sofremos tanto? pergunta besta...Eu não costumava a ser quieta nas aulas, gostava de conversar e responder os professores, participar das aulas, mas...tudo mudo uma hora outra, e pelo vistos os outros perceberam o quanto eu mudei por conta do afastamento das minhas amizades, faz parte do aprendizado da vida né?

- Filha! - Falou meu pai esperando no portão da escola, ser pai solo não deve ser fácil para ele, mas ele sabe que é meu tudo -

- Você chegou mais cedo pra me buscar? - Entrei no carro, logo ele deu a partida indo para casa -

- Já fez as suas malas? - Ele suspirou fundo - Por que anda tão desanimada? Aqui não te fez bem?

- ... - Eu segurei as lágrimas - Parece bobo, mas eu me sinto sozinha, ninguém me trata bem e esse lugar não lembra nada da minha mãe, Pai, esse lugar é frio, triste e sombrio.

- Quem te fez mal não te merece minha filha, não se importa com pessoas que daqui uma semana, já não vão estar mais na sua vida. - Ele solta um sorriso ao tentar limpar uma lágrima minha -

Naquele momento eu só fiquei em silêncio e sorri de volta para ele, sai correndo do carro em direção a porta, da porta para tirar os sapatos e logo fui pro meu quarto me jogar na cama, meus pensamentos agora podiam rolar a vontade, sem meus próprios julgamentos e minha ansiedade, olhei para minha mala feita e suspirei fundo, eu queria deixar esse lugar mas ao mesmo tempo não, simplesmente eu estava me prendendo a algo que não existe mais, eu não pertenço a esse lugar, foram 6 meses legais...com sofrimento, óbvio, mas agora eu preciso voltar a me sentir bem e em casa, eu preciso voltar a ser quem eu sou, a quantidade de vezes que pensei em acabar com tudo nesse lugar por opiniões alheias...que ridículo isso, a Olívia do passado teria nojo total disso. Eu apaguei de tanto chorar e pensar nos meus erros, tentando me culpar pelas atitudes das outras pessoas, vai ficar tudo bem, no final sempre fica tudo bem, é só não desistir de si mesmo.

é só não desistir
de si mesmo

The Way We Meet  | Oscar Piastri Onde histórias criam vida. Descubra agora