1- Encontro

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Era incrível como aquele sol de outono sempre o irritava. Adorava a estação, mas aquele sol ardido que sempre o cegava as 16h o tirava do sério desde menino la no interior de Minas Gerais. E não era diferente daquele momento em São Paulo, subindo a rua da consolação.

Seu coração estava leve e satisfeito depois da palestra linda que tinha ministrado no teatro Commune, seu peito subia e descia de forma ritmada com os passos rápidos que dava, relembrando os rostos ansiosos e cheios de expectativas dos alunos de artes cênicas que ali estavam. Que saudade de dar aula, que saudade de subir em um palco. Fazia tanto tempo. Cinco anos desde a ultima vez. Cinco anos desde...

Amaury sacudiu a cabeça na esperança de afastar aqueles pensamentos, não gostava de pensar nesses anos longe daquilo que mais amava, daquilo que mais amou. Seu peito sempre ardia quando sua mente vagava e ia parar nas lembranças que ele tanto fugia e se envergonhava.

Decidiu atravessar a rua para fugir daquele sol e procurar algum lugar para tomar um café com leite. Estava cheio de fome e não queria esperar até chegar ao hotel para comer algo. A região ali era cheia de opções e certamente acharia algum lugar que o agradasse. Tinha uma certa lembrança da indicação de um café quase chegando na estação paulista e caminhou naquela direção.

Seus pensamentos ainda vagavam pelos rostos jovens e ansiosos que o fitavam cheios de vida e desejos. Era engraçado como tudo aquilo parecia distante, mesmo tão perto. Sentia o tempo lhe escapar pelos dedos, ao mesmo tempo que tinha a sensação de nunca ter saído dos palcos, lhe parecia que fazia uma vida inteira sem tocar os pés em um. Talvez porque cinco anos poderia ser uma vida inteira sem o que o seu coração mais ansiava.

Já estava quase chegando quando um cheiro muito forte de bolo de fubá o atingiu, olhou para o lado e estava na frente de uma cafeteria com o mesmo nome da que ele tinha em mente, mas na rua lateral. O cheiro era tão forte que ele não conseguiu dispersar e entrou no local, animado para experimentar o que o tinha chamado até ali. Caminhou a passos largos até o balcão para fazer seu pedido, mas, ao faltar apenas um passo, sua visão periférica foi atraída por um reflexo familiar.

O mundo pareceu parar ou os segundos se tornaram mais lentos? Amaury não saberia dizer. Quando virou o olhar para ver o que tinha chamado sua atenção, seu coração deu um solavanco tão forte que sentiu dor em sua caixa torácica. Os cabelos ruivos estavam um pouco mais cumpridos que o normal, as ondas formavam aros por toda a cabeça levemente inclinada para baixo. Seus olhos grandes estavam fixos no celular e sua expressão era séria, concentrada.

Amaury queria fugir, queria correr, queria evaporar. Ao mesmo tempo que também queria correr para ele, queria puxa-lo para seus braços e sentir seu cheiro. Queria ver seu sorriso, seus olhos fechando e sua covinha surgindo. Naquele exato momento, dentro de uma cafeteria em uma rua qualquer, ele era feito de saudade. Cada molécula de seu corpo exalava saudade por aquele homem ruivo sentado a poucos metros dele. Saudade de tudo o que significava a existência daquela pessoa tão perto e tão longe.


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Diego estava cheio de coisas para entregar antes de ir para o Rio de Janeiro no próximo mês. Teria show dali a dois dias e precisava entregar pelo menos o esboço da próxima música, já que ficaria alguns meses sem produzir nada musical. Seu apartamento estava o mais perfeito caos com as coisas do show e da mudança, Larissa precisava ir buscar algumas coisas da Diego, mas ainda não havia conseguido tempo. Ele precisava comprar ainda algumas coisas que faltavam, principalmente de maquiagem, mas estava completamente sem cabeça.

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