Silver Tongues

Capítulo 6 - Redemption

P.o.V. Amber

Há momentos na vida em que ter diferentes perspectivas é, de fato, essencial. Necessitamos de algo novo, algo que nos tire o fôlego e que nos faça sentir um pouco fora de órbita.

Estar sempre de pé no chão as vezes cansa. É válido nos vermos envolvidos por um pouco, nem que seja, de fantasia.

A minha vida pode dar muitas voltas, mas sempre retorna neste ponto. Fantasia.

Haviam dias desde que tive uma das experiências mais incríveis de toda a minha vida, vivenciei o paraíso na terra e hoje provo o amargo do inferno, na mesma intensidade.

Bill havia sumido desde aquela noite. Ele foi para casa antes de amanhecer, não ligou, não retornou as minhas mensagens e também não apareceu em nenhuma aula durante as duas semanas que se passaram. Fantasia. Nessa altura do campeonato, era apenas nisso em que eu pensava.

Em cada dia dessas duas semanas passei por estágios diferentes, passei angustiamente pela preocupação, estive mergulhada inteiramente pela raiva, tudo isso com uma pitada de tristeza. Hoje acordei pensando sobre a fantasia, a porra da fantasia.

A urgência em maquiar toda aquela situação que me corroia por dentro, me rasgava de ponta a ponta e me fazia sentir como a vádia mais burra de toda Londres.

- Amber.. - a voz de Maya invadiu os meus pensamentos, me trazendo de volta para a realidade. Ela me olhava com o cenho franzido, já visivelmente sem paciência para comigo.

- Oi. Desculpe.. - falei, ajeitando-me na carteira, voltando a minha atenção aos livros de física que se espalhavam na mesa em minha frente.

- Eu não aguento mais te ver assim. Eu vou dar um jeito nisso.. - ela disse, jogando sua caneta dentro de um dos livros.

- Maya.. eu agradeço. - disse, pousando minha mão sobre a dela, fazendo-a me olhar com um ar de preocupação. - Você já me ajuda muito só por me aturar.. não preciso de mais nada.

A lancei um sorriso sincero, recebendo um "ok" entre lábios e um aperto reconfortante em minha mão. A observei voltar sua atenção aos livros, pude perceber sua tensão.

Encostei-me sobre a cadeira, sentindo todo o meu corpo estremecer dolorosamente, minha cabeça latejava e meu estômago doía de fome. Já estávamos a muito tempo estudando, provavelmente Maya estava com tanta fome quando eu.

- Quer saber? - falei, deixando a lapiseira que segurava de lado, recebendo um olhar confuso de Maya. - Vou pegar algo gostoso para comermos, de preferência com bastante chocolate..

- Ah, por favor! - Maya falou, fazendo uma reverência. Me levantei, pegando meu celular e balbuciando um "já volto" para ela, que assentiu e voltou aos livros.

Segui caminho primeiro ao banheiro mais próximo, sentindo cada músculo do meu corpo doer como se fossem romper a qualquer momento. Meus olhos estavam embaçados de tanto tempo que passei forçando-os nas letras miúdas dos livros. Estava exausta. E não era do estudo.

Adentrei ao banheiro, dirigindo-me à pia. Abri a torneira e me inclinei sobre a cerâmica, sentindo a água quente escorrer em meu rosto.

Senti alívio, por alguns segundos, mas a dor era inedibriante. Ouvi passos aproximando-se, fazendo-me levantar e desligar a torneira. Peguei alguns lenços de papel e enxuguei meu rosto, assistindo duas garotas entrarem no banheiro.

Me virei em direção a saída e segui caminho à cantina da escola, que ficava mais distante da biblioteca.

Observei com atenção a estrutura dos corredores, o teto era tão alto que, em certo ponto, a luz não chegava, perdendo-se na arquitetura gótica que manifestava-se vividamente em todo o prédio.