P.o.V. Bill
Alguns dias são bem melhores que outros, isso todos concordamos. Tento não ser tão pessimista, nem esquecer todo o privilégio que carrego em fazer parte de uma família com tão alto poder aquisitivo, em que nunca precisei passar por dificuldade alguma, sempre fui grato e permaneço com esse sentimento.
Mas, há momentos em que as consequências disso tudo vêm de uma maneira tão insuportável, me tiram o fôlego, me fazem definhar pouco a pouco por dentro.
Há dias como este, em que estar com as pessoas de ligação mais próxima a você é capaz de te ferir.
Eu sempre me mantive muito reservado, fui criado de uma maneira muito rígida, principalmente pela minha mãe, já que meu pai nunca deu a mínima pra nenhum de nós.
Seus filhos, de fato, são os frutos que colheu durante anos de trabalho duro, noites sem dormir, viagens, estudo e muito, mais muito adultério.
Então, é um completo deleite ao meu alter ego masoquista quando temos grandes reuniões familiares, que trazem pessoas suecas que eu nunca vi em toda a minha existência, preenchendo por 2 dias a grande mansão dos meus pais, fazendo-os andar cheios de si, mostrando todas as suas riquezas, fumando charutos e bebendo whisky velho e ruim, enquanto o saco de 1 milhão de dólares do meu papai é inflado por diversos puxa-sacos, com mínimos graus de parentesco conosco.
Acredite, se eu fosse um psicopata com tesão em dor, meu pau estaria ultrapassando a barreira do inacreditável.
Era manhã de sábado, minha porta já havia sido batida dezenas de vezes, ouvia a voz de Marie mais aguda a cada vez, sempre respondia que já estava descendo. Todos eram obrigados a se vestir formalmente durante as reuniões, era tradição. Eu sempre fui ensinado acerca da cultura sueca, isso nos mantinha perto do resto da familía, de certa forma.
Eu vestia um terno azul marinho, provavelmente engomado com a porra de algum rei sueco do século XIX, só isso explica o valor absurdo cobrado nisso. A etiqueta explicitava o preço quando fui vesti-lo mais cedo, lembro-me do suspiro desgostoso que dei assim que vi.
Andei pelo quarto, de um lado para o outro, checando o celular de 5 em 5 segundos, esperando uma mensagem de Amber. Havíamos marcado uma aula de boxe na academia que ela frequenta, às 17h no mesmo dia. Seria a minha deixa de sumir daquele lugar por algumas horas e, o melhor, na companhia da Amber.
- Bill, querido! - ouvi batidas na porta, e, em seguida, a voz da minha mãe entorpeceu os meus tímpanos. - Você está atrasando o inicio da cerimonia, precisamos de voc.. - abri a porta rapidamente, interrompendo a fala dela, que me avaliava dos pés a cabeça, estampando um sorriso satisfeito após isso.
- Me mate se eu algum dia atrasar a cerimonia. - falei, sorrindo forçadamente de orelha a orelha, fechando a porta e caminhando logo atrás dela, que estendeu a mão para que eu a ajudasse a descer as escadas.
Aquela casa era desnecessariamente grande, mas, quando havia reunião, ela diminuía abruptamente pela quantidade exorbitante de gente que a ocupava. Além dos parentes, meus pais contratavam o triplo de empregados para dar conta de todo aquele povo. E, mesmo que a casa não tivesse quartos suficientes para todos, não era um problema para o meu pai, que fazia questão de reformar desnecessariamente todas as suas propriedades antes das reuniões, a fim de hospedar a todos.
Desenhei o melhor sorriso que pude na minha cara aos que encontravam-se na sala de estar, avaliando-me feito umas das peças de leilão arrematadas por eles, que seguravam taças de espumante em plena 9h da manhã. Senti meu estômago embrulhar. Apenas congelei o sorriso e segui cumprimentando todos presente no cômodo, podia sentir o olhar purgante da minha mãe furando buracos em minha pele, não adiantava o quão perfeito eu ensaiasse ser, para ela nunca seria suficiente.
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Silver Tongues
Hayran KurguAmber White é uma jovem escritora, estudante do ensino médio que delineia sua vida em busca de inspirações, vivências e novas experiências. Quando seu destino cruza com o do misterioso jovem Bill Skarsgård pelos corredores de sua escola, sua curiosi...