Responsabilidade

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Fico ali encarando, de forma tão profunda, a lente dos óculos expostos na vitrine.
-Senhorita, tudo bem? Vai levar alguma coisa- O silêncio é cortado pela voz irônica e apressada de uma vendedora, que passará ali e percebeu o quão vidrada eu estava olhando para a luz das lentes.
-Ah eu? Bem, não sei bem ainda, acho que vou levar um tempinho a mais pra decidir-Lembro de ter dito isso enquanto um dilema percorria minha cabeça, eu realmente precisava me esconder? evidentemente descontente com o que eu julgava ser necessário fazer. Conforme os minutos passavam comecei a questionar ligar para Ayzumi e pedir sua opinião sobre os óculos, ao mesmo tempo sentia que deveria tomar essa responsabilidade sozinha e resolver isso por mim mesma.
-Comprar ou não? Que dilema oh senhor, sim ou não?- Me questionava em alto e bom som, e a ansiedade começará a me tomar de dentro para fora. Derrepente meus pensamentos são interrompidos por apenas um virar de lado, começo a me encarar seriamente, refletida no espelho da loja, chegando mais perto para me encarar melhor.
encarar melhor.
-Não, não acho que seja necessário, aliás, por que eu quero me esconder exatamente? Eu estou com medo de ser zoada ou estou com medo de ser caçada? Mas eu sou a caçadora! Se bem que a maioria não é assim, se me verem com essa maldição já vai ser o bastante pra tentarem me matar. Esclareço isso propriamente apenas para eu ouvir minha própria voz.
Embora o aborrecimento e a angústia de saber que posso ser caçada por meus próprios "aliados", eu sabia que aquilo era a forma mais covarde possível de lidar da situação. Então, minha escolha foi finalmente feita, eu não precisava disso, eu era forte o suficiente pra lutar contra aqueles que tentassem me caçar de forma injusta. Com isso eu apenas voltei para minha casa, sem levar nada daquela loja.

   --E ai? Comprou o que você queria filha?-Keith me pergunta assim que chego em casa. Eu já sabia que ele iria achar estranho, o fato de eu ter voltado de mãos vazias.
--Na verdade não, vamos dizer que eu não encontrei o que eu queria.-Bem, vamos fingir que eu admiti que desisti, embora eu não tenha dito isso, ele não precisa entender.
--Então...eu vou para o meu quarto, tá bom? Depois eu venho fazer um lanche.--Não está com fome mesmo filha?--Não, agora não, sério eu tô bem cheia, enfim eu vou indo hehe.-
Eu espero do fundo da minha alma que ele tenha caído nessa. Mas agora tenho problemas maiores pra tratar, será que existe alguém que está comentando sobre o caso de ontem? Eu não costumo ver muitos noticiários, mas imagino que desta vez valha a pena ligar a TV pra ver esse tipo de coisa.
E após este comercial, temos a notícia de um suposto assassinato, onde o corpo foi achado recentemente, por volta desta madrugada de sábado. Voltamos daqui a pouco com mais notícias.
Hmm... Não achei que isso iria correr tão rápido, confesso que estou um pouco nervosa, mas ele morreu de uma forma tão "irrealista", acho que ninguém vai suspeitar. Independentemente eu vou ficar aqui e ver mais, assim que o comercial passar é claro...
  Voltamos agora com mais notícias sobre o caso. A polícia achou o corpo por volta das quatro e meia da manhã, o corpo estava escondido em um beco, próximo a igreja central. De acordo com a polícia, o homem foi levado para uma autópsia e foi reconhecido, o nome do sujeito era--A fala foi cortada, parecia que nem mesmo as mídias poderiam revelar tal informação, eles apenas continuam a reportagem sem mais nem menos--A família logo foi constatada do ocorrido, e junto disto vieram novas informações. Fiquem agora com as próprias palavras da mãe do sujeito: "ele era um homem agressivo, brigava constantemente com a gente e com a mulher dele, ele saía beber quase todo dia, uma decepção".
Além das queixas feitas pela família, o homem também já foi preso por tentativa de estupro e violência doméstica.
  --Hmm foi tarde então, e sobre a causa da morte pelo visto nada ainda, e que continue assim.

...
--Caramba! Acho que acabei pegando no sono, mas já era de se esperar, eu andei bastante hoje.
--Aya, filha? Tudo bem?--Sim, claro, eu só peguei no sono, precisa e algo pai?--Sim, eu teria que no hospital hoje acompanhar um amigo, você poderia ir comigo, não queria deixar você sozinha--Ah, tudo bem então, eu já estou arrumada de qualquer forma, já estamos indo?--Sim, pode indo pro carro, eu vou logo atrás de você.--

  Assim que a viagem começa observo tudo ao meu redor, as árvores passando em um piscar de olhos, distorcidas pela velocidade do veículo.
  De pouco a pouco a vista tomava forma, podia se perceber um ambiente hospital não muito familiar. Eu sabia que esse lugar seria um tédio completo, mas mesmo assim eu não iria deixar meu pai sozinho.
  Quando eu entrei no local eu logo me senti enjoada, eu odiava ambientes assim, tentei distrair minha cabeça com alguma coisa, olhava minhas redes sociais, jogava alguns jogos virtuais, entre outras coisas, mas nada parecia me tirar do abismo do tédio naquele momento. Uma luz se acendeu na minha cabeça quando tive a ideia de passear pelo hospital, um pouco perigoso? Talvez, mas qual seria a graça do universo se as coisas não fossem perigosas?
  Eu andei por todos os cantos que eu tinha acesso, parei quando eu ouvi uma briga. A curiosidade falou mais alto que a lógica, e acabei parando pra ouvir.

--Ela é nossa filha! Eles eram melhores amigos, ela não poderia esperar isso dele. A culpa não foi dela!-- Gritava a voz feminina, com um gosto de tristeza, arrependimento e desespero--Ela é menina, sabia dos riscos, e mesmo assim foi com ele!-- Definitivamente esse homem estava alterado. O que raios aconteceu aqui? É a única coisa que fiquei me perguntando. A resposta logo vem, quando a mulher que parece ser a mãe da garota exclama, dizendo que a filha dela não merecia ter sido violada de tal forma, eu bem que queria ouvir o resto mas não consegui. Lincando um fato ao outro eu entendi o que estava acontecendo, e acho que todos nós entendemos o que aconteceu...
  --Hey o'que você está fazendo aqui? Qual é seu nome?-- De forma repentina esse garoto apareceu aqui, parecia carismático e sociável.--Eu sou Aya, quem é você?--Ah ninguém importante, eu só vim ver se minha amiga está bem, sabe tem mulheres que são muito frágeis, não aguentam uma brincadeira.--
Eu entendi na hora o que estava acontecendo. Eu já adianto que minhas ações foram por pura e espontânea defesa. Eu agarrei ele, mergulhando meus polegares nos olhos dele, eu escutava os gritos dele, os sons dele se debatendo no chão, e quando eu menos esperava os pais da vítima e os seguranças estavam vindo na minha direção.

--Esse garoto tentou me assediar eu juro!-- Eu tentava convencer o segurança a não chamar a polícia, os pais da garota estavam chocados, mas de forma estranha os olhos da mãe estavam cheios de agradecimentos.
  Eu não consegui escapar...eu fui pega, a polícia foi chamada. Meu pai parecia confuso e nervoso, e eu estava pior ainda. Na minha cabeça a polícia deveria ser chamada para aquele garoto, não para mim! Mas do que adiantava falar, agora eu teria que me resolver com o júri, e tentar fazer ele acreditar na minha palavra, e entender que foi legítima defesa.

Contínua....
 

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⏰ Última atualização: Oct 07 ⏰

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