Era uma noite fria e úmida quando John e Paul voltavam de uma coletiva de imprensa em uma cidade a alguns quilômetros de Londres. O motor do carro ronronava suavemente, cortando a estrada deserta enquanto os faróis iluminavam a névoa fina que pairava sobre o asfalto. A rádio tocava uma música qualquer, de uma banda local que John mal conseguia identificar. O ar dentro do carro estava denso com o aroma do cigarro que Paul segurava entre os dedos. Ele estava encostado na janela, perdido em seus próprios pensamentos, observando as árvores e estrelas no meio da escuridão da estrada de terra.
John sentia o peso da ansiedade se espalhando em seu peito. Ele olhava para a estrada, mas seus olhos inquietos frequentemente se desviavam para Paul, que parecia imerso em uma melancolia distante. John franziu o cenho e, sentindo a necessidade de quebrar o silêncio que parecia sufocá-lo, pigarreou suavemente.
- Hey, Paul - chamou ele, tentando soar casual, mas o tom de sua voz traiu uma pontada de impaciência. Paul não respondeu de imediato, apenas tragou mais um pouco do cigarro, deixando a fumaça escapar lentamente de seus lábios.
John apertou o volante com um pouco mais de força, seus dedos ficando brancos contra o couro.
- McCartney! - repetiu, agora com um toque de insistência infantil.
Quando Paul finalmente virou o rosto para ele, John o encarou com um biquinho pidão nos lábios, uma expressão de vulnerabilidade que ele raramente deixava transparecer. Seus olhos escuros revezavam entre o rosto de Paul e a estrada à frente, um misto de frustração e um desejo não declarado.
Paul levantou uma sobrancelha, intrigado. Ele conhecia aquele olhar; já havia visto John usá-lo muitas vezes antes, especialmente quando queria algo que só Paul poderia oferecer. Paul suspirou, apagando o cigarro no cinzeiro.
- O que foi, John? - perguntou suavemente, sua voz cortando o silêncio entre eles.
John sorriu de canto, um sorriso que era ao mesmo tempo tímido e provocador.
- Estou entediado - confessou, seus dedos tamborilando no volante em um ritmo que denunciava sua inquietação. - Me dá um pouco de atenção, Macca.
Paul riu baixo, aquele riso rouco que John tanto adorava, e se inclinou um pouco mais perto, o suficiente para sentir o perfume característico de John, um misto de tabaco e algum tipo de loção.
- Você está dirigindo, Johnny. Melhor manter os olhos na estrada - provocou, mas havia um brilho de interesse em seu olhar, como se estivesse esperando para ver o que John faria a seguir.
John sorriu, um sorriso malicioso que se espalhou lentamente por seu rosto, transformando a linha de sua boca em algo entre o desdém e a súplica.
- Eu prometo não tirar os olhos da estrada - murmurou, sua voz rouca, quase num sussurro. - Mas, por favor, me dê um pouco de atenção. Fala comigo, me toca... como você faz quando estamos só nós dois.
Paul sentiu um arrepio percorrer sua espinha. Ele sabia exatamente o que John estava pedindo. Desde que aquele primeiro beijo aconteceu, em um momento inesperado de riso e bebida, eles haviam cruzado uma linha invisível que os levara a territórios desconhecidos e perigosamente excitantes. Alguns beijos furtivos nos bastidores, mãos que se encontravam no escuro, toques mais ousados quando ninguém estava por perto. Mas agora, no silêncio íntimo do carro, a intensidade parecia maior, como uma tempestade prestes a explodir.
John parecia hipnotizado pela ideia, sua mão livre tamborilando no volante num ritmo nervoso. Ele lançou um rápido olhar de safado para Paul, o canto de seus lábios ainda curvado em um sorriso que prometia coisas que ambos ainda estavam descobrindo.
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Two of Us - McLennon
RomanceJohn Lennon e Paul McCartney, voltando de madrugada para casa após uma coletiva de imprensa nos arredores de Londres, se permitem viver uma paixão inesperada, numa noite que mudaria suas vidas para sempre. Anos depois, com a relação abalada por nov...