Capítulo 3: O Encontro

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Beatriz estava concentrada, ajeitando uma prateleira de sapatos na seção feminina da grande loja onde trabalhava. As últimas semanas haviam sido extremamente cansativas. Trabalhar fora de casa pela primeira vez lhe dava uma sensação de independência, mas ela ainda se sentia tímida e deslocada em meio aos outros funcionários. Tudo era novo para ela — as rotinas, as conversas, e até mesmo o jeito como as pessoas a tratavam fora do controle rígido de seu pai.

Enquanto colocava um último par de sapatos na prateleira, ouviu uma voz atrás dela.

— "Você sabe onde ficam os sapatos masculinos?" — perguntou o rapaz, com um tom casual, mas cheio de confiança.

Beatriz se virou lentamente e deu de cara com Michael, um dos novos funcionários da loja. Ele estava com um dos braços debruçado a prateleira, com um sorriso de canto nos lábios, como se aquilo fosse apenas uma brincadeira.

— "Ah, sim... Fica... Fica no fundo da loja, à direita." — Beatriz respondeu, um pouco hesitante, sentindo as palavras saírem apressadas.

Michael arqueou uma sobrancelha, claramente intrigado com a timidez dela.

— "Obrigado, mas eu já sabia. Só queria ver se você sabia também." — Ele piscou, deixando escapar uma risada leve.

Beatriz sentiu o rosto esquentar de leve. "Ele estava brincando comigo?", pensou. Não sabia se deveria rir ou ficar embaraçada, mas algo em Michael a desarmava. Ele era uma pessoa totalmente diferente de qualquer outra que ela já havia conhecido. Descontraído, confiante, e, de certa forma, atraente de um jeito despreocupado.

— "Então, você é nova aqui, né?" — Michael continuou, inclinando-se um pouco para frente, claramente interessado em prolongar a conversa.

— "Sim... Faz pouco tempo." — Beatriz respondeu, ainda sem saber bem como reagir àquela abordagem.

— "Relaxa, a gente se acostuma. Logo você vai estar achando tudo uma chatice." — Ele sorriu novamente, mostrando que estava à vontade com a situação.

Beatriz não sabia o que responder, ela não estava habituada a ter esse tipo de relação. Crescera com tantas regras, que conversas casuais com garotos como Michael eram praticamente inexistentes em sua vida. Ela deu um sorriso tímido, mas evitou manter o olhar muito tempo.

— "Meu nome é Michael, aliás. Prazer." — Ele estendeu a mão para ela, com um gesto simples, mas cheio de intenção.

Beatriz hesitou por um segundo, mas aceitou o aperto de mão.

— "Beatriz." — respondeu, sua voz quase um sussurro.

— "Beatriz..." — Ele repetiu o nome, como se quisesse gravá-lo na memória. — "Bonito nome. Combina com você."

Beatriz sentiu o coração acelerar um pouco. Michael estava ali, sorrindo de um jeito que a deixava desconcertada. Para ela, acostumada com as regras do pai e o ambiente controlado de sua casa, aquilo parecia um mundo novo. Um mundo em que as pessoas interagiam de forma espontânea e leve.

— "Bom, acho que vou procurar aqueles sapatos masculinos de verdade agora." — Michael brincou, dando um último sorriso antes de se afastar.

Beatriz o observou caminhar pelo corredor até desaparecer entre as prateleiras. Não sabia exatamente o que pensar. Michael era... diferente. Ele tinha uma presença forte, mas não do tipo que intimidava, e sim do tipo que atraía. Ela sentia uma mistura de curiosidade e nervosismo, algo que nunca tinha sentido antes.

Ao longo dos dias seguintes, Beatriz e Michael passaram a se cruzar com mais frequência. Pequenas conversas começaram a se tornar parte da rotina. Ele sempre encontrava um jeito de falar com ela, fazer uma piada ou simplesmente perguntar como estava indo. Beatriz, aos poucos, começou a relaxar. Algo nela se permitia sentir mais leve na presença de Michael.

Um dia, enquanto organizava uma pilha de caixas de sapatos, Michael apareceu novamente, como se tivesse o dom de surgir nos momentos mais inesperados.

— "Você já percebeu que é sempre a gente que acaba fazendo as tarefas mais chatas da loja?" — Michael comentou, apoiando-se no balcão ao lado dela.

Beatriz riu, algo que começou a acontecer frequentemente quando ele estava por perto.

— "Acho que você está certo." — disse ela, ainda sorrindo.

— "Deveríamos reivindicar uma promoção. Ou, sei lá, um bônus pela monotonia." — Ele brincou, piscando para ela.

— "Boa sorte com isso." — Beatriz respondeu, desta vez com mais confiança.

Michael riu, parecendo satisfeito com a resposta dela.

— "Você está melhorando, Beatriz. Está até começando a entrar nas minhas piadas. Isso é um bom sinal." — Ele disse, com um sorriso largo.

Beatriz sentiu o calor da aprovação. Pela primeira vez, ela se sentiu à vontade com alguém fora de seu âmbito familiar. Mas o que ela não sabia, naquele momento, era que essa conexão com Michael traria mudanças significativas para sua vida, de maneiras que ela ainda nem imaginava.

Lições: O Primeiro AmorOnde histórias criam vida. Descubra agora