Beatriz cresceu sob o olhar vigilante de João, seu pai, um homem que acreditava firmemente que o controle era a chave para proteger a família. Desde muito jovem, Beatriz foi moldada pelas regras e exigências dele. João era rígido, inflexível e fazia questão de supervisionar todos os aspectos da vida de sua filha: as roupas que ela vestia, as amizades que cultivava, e até mesmo o que ela lia ou assistia. A ideia de Beatriz sair para festas ou dormir na casa de amigas era algo completamente fora de questão. João via o mundo como um lugar cheio de perigos, e ele estava determinado a mantê-la longe de qualquer um deles.Ao lado de João, estava Jurema, sua mãe. Diferente do pai, Jurema era uma mulher silenciosa, que se adaptava às vontades do marido sem nunca levantar a voz. Aceitava sua vida como esposa submissa, não por concordar, mas por sentir que não tinha para onde ir. Com poucos recursos e nenhum apoio familiar, Jurema se via presa em um casamento com um homem que não só controlava a casa com mãos de ferro, mas também traía sua confiança com outras mulheres. Beatriz sabia das infidelidades do pai, e isso apenas aumentava seu ressentimento e confusão. Como ele poderia ser tão exigente com ela, enquanto quebrava as próprias regras que impunha?
Essa dicotomia entre a imagem de proteção que João projetava e a traição que ele personificava era um dos maiores fardos de Beatriz. Ela cresceu acreditando que amor e controle eram sinônimos, que para ser protegida, ela precisava obedecer sem questionar. Isso a tornou uma jovem insegura, que se sentia incapaz de tomar decisões próprias ou de confiar em seus instintos.
Beatriz sempre foi uma garota reservada. Na escola, seu jeito tímido e introspectivo fazia dela o alvo perfeito para o bullying. Seus colegas zombavam de suas roupas conservadoras, de sua falta de vida social e de seu comportamento retraído. Ela se sentia à parte, como se vivesse à margem do mundo ao seu redor, observando, mas nunca participando de verdade. Cada palavra cruel deixava cicatrizes, e ela começou a se perguntar se algum dia seria capaz de viver uma vida normal, longe das sombras que seu pai lançava sobre ela.
Aos 18 anos, Beatriz conseguiu seu primeiro emprego. Trabalhar em uma grande loja de comércio foi seu primeiro passo rumo à independência, algo que ela almejava, mas que também a aterrorizava. Pela primeira vez, ela estava fora da bolha controladora de seu pai, e o mundo parecia vasto e incerto. Na loja, Beatriz desempenhava suas tarefas com dedicação, mas sempre com aquele receio constante de errar, de não estar à altura das expectativas. Ela sabia que qualquer falha poderia ser motivo para novas imposições de seu pai, que via seu trabalho apenas como uma extensão de sua necessidade de controle.
Apesar de estar no início de sua liberdade, Beatriz ainda não sabia como viver sem o peso da aprovação do pai. A insegurança a acompanhava em cada escolha que fazia, e ela se sentia dividida entre o desejo de ser livre e o medo de enfrentar o desconhecido. Mesmo assim, ela persistia. Sabia que, de alguma forma, precisava encontrar seu caminho, por mais difícil que fosse.
Beatriz ainda tinha muito a descobrir sobre si mesma e sobre o mundo, mas, no fundo, ela sabia que aquele emprego era o primeiro passo para algo maior. O primeiro passo para, talvez, escapar da vida que seu pai havia planejado para ela.
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Lições: O Primeiro Amor
Romance"Lições: O Primeiro Amor" acompanha a jornada de Beatriz, uma jovem de 18 anos criada sob rígidos controles familiares, e Michael, um rapaz de 20 anos que enfrenta os conflitos com seu pai controlador. Ao se apaixonarem, eles descobrem as dificuldad...