Pirulito e Beijo de Boa Noite

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𝓚𝔁𝓢

Kunikuzushi estava sentado à mesa do escritório, os dedos se movendo rapidamente sobre o teclado, completando os últimos detalhes de um relatório importante. Sua concentração era visível; o som do ar-condicionado e o leve murmúrio dos colegas ao fundo eram ignorados enquanto ele ajustava as últimas linhas do documento, que precisava entregar ao chefe naquela tarde. Quando finalmente terminou, soltou um suspiro aliviado, salvou o arquivo e levantou-se, dirigindo-se à sala de seu superior.

Bateu à porta e entrou, segurando a pasta com os papéis finalizados. O chefe, Sr. Dawei, estava atrás da mesa, os olhos percorrendo a tela do computador. Kunikuzushi entregou o trabalho, sentindo o peso de horas de esforço ser transferido para as mãos de seu patrão. Contudo, antes mesmo que pudesse receber algum reconhecimento, Dawei o encarou com uma expressão confusa.

— E o outro arquivo que pedi ontem? — questionou o chefe, sua voz carregada de frustração, olhando para o funcionário com desdém.

Kunikuzushi franziu o cenho, claramente confuso.

— Outro arquivo? — repetiu, tentando manter a compostura. — O senhor não mencionou nada sobre outro arquivo.

A tensão no ar aumentou. O chefe o encarou por alguns segundos, os olhos estreitando-se.

— Claro que mencionei — insistiu, sua voz ficando mais firme. — Eu pedi especificamente que você cuidasse disso. Preciso dele para amanhã.

Kunikuzushi sentiu a frustração borbulhar dentro de si. Tinha certeza absoluta de que nenhum outro pedido havia sido feito, e a acusação injusta estava prestes a fazê-lo perder a paciência. Suas mãos se fecharam em punhos discretos ao lado do corpo, o orgulho ferido implorando para que ele revidasse com gosto, o veneno escorrendo pela boca. Mas, conhecendo o temperamento de Dawei e temendo as consequências de um confronto, respirou fundo e forçou um sorriso amargo.

— Certo, vou trabalhar nisso hoje mesmo — disse, tentando manter o tom tranquilizador. O chefe pareceu satisfeito e balançou a cabeça, já voltando a focar no que estava fazendo.

Kunikuzushi sabia o que aquilo significava: horas extras não remuneradas. Outra noite em claro para completar uma tarefa que nem ao menos lhe havia sido comunicada. Ele saiu da sala, sentindo a raiva se acumular no peito, mas decidido a não deixar que aquilo transparecesse mais do que já havia.

Ao sair do escritório, notou a presença de Kaedehara, um de seus colegas de trabalho, que se aproximava ligeiramente. Kazuha sempre mantinha uma atitude serena e amigável, e logo foi cumprimentado calorosamente por Dawei. O diretor esbanjava sorrisos e tapinhas nas costas, como se o grisalho fosse seu funcionário favorito.

Era de se esperar.

Kunikuzushi não conseguiu evitar revirar os olhos. A preferência era óbvia, e ver o chefe demonstrar abertamente sua predileção o irritava ainda mais. Era sempre Kazuha que recebia os elogios e a atenção, enquanto ele, por mais que se esforçasse, raramente recebia um simples “bom trabalho”.

Enquanto voltava à sua mesa, engolindo a amargura da sua vida, Kunikuzushi sabia que aquela noite seria longa. E mais uma vez, ele se perguntava por quanto tempo poderia suportar essa rotina desgastante e desigual.

Ele sabia exatamente o motivo por trás do favoritismo tão descarado: ele não passava de um beta comum, ordinário, alguém facilmente substituível no vasto esquema da empresa. Enquanto Kazuha, por outro lado, era um alfa. E não qualquer alfa, mas daqueles que pareciam ter tudo sob controle, como se nada fosse capaz de abalá-lo. Era conhecido por sua incrível capacidade de equilibrar o trabalho e a vida pessoal, liderar qualquer setor, fazer conferências com clientes e resolver problemas, algo que impressionava tanto seus superiores quanto seus colegas. Parecia impossível que alguém conseguisse ser tão competente, mas, bem, era Kazuha — o ser perfeito que todos babavam aos pés.

Além das Horas Extras - {Kazuscara}Onde histórias criam vida. Descubra agora