I - Alcina Dimitrescu

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Alcina Dimitrescu

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Fevereiro de 1917.

Quando nasceu foi diagnosticada como portadora de uma rara doença - até então sem cura - a expectativa era que nem chegaria a idade adulta. Porém, para surpresa de todos ao redor, ela cresceu e tornou-se uma bela mulher; muito adoentada e frágil, mas também, muito culta e digna do seu título de nobreza.

A mãe morreu em seu parto, e o pai a repudiava desde então. Ele nunca fez questão de ser presente na vida da filha, nem sequer um abraço no aniversário dela ele dava. E durante toda a vida de Alcina, o Conde da Casa Dimitrescu fez questão de demonstrar o seu total desprezo pela existência dela.

A verdade era que seu pai nunca suportou a mera presença da jovem. Alcina não sabia se pelo fato de ter nascido mulher, ou por ter nascido doente.

O Conde ficou ainda mais raivoso quando descobriu que nenhum homem nobre queria se casar com ela, já que além da expectativa de vida ser pouca, ela não poderia gerar herdeiros, pois, era frágil demais para tal coisa.

Com isso, o homem passou a menosprezá-la ainda mais, e a tratá-la como uma inimiga.
E foi quando o médico da família deu a sentença de que Alcina teria apenas mais alguns meses de vida, que o homem passou a odiá-la ainda mais. Mandou que a deixassem no quarto trancada e sozinha.

Alcina então, passava dias de solidão e sofrimento abandonada em seu quarto, ela não tinha autorização para passear e não tinha amigas. Recebia apenas refeições, três vezes ao dia, e ajuda para banhar-se.
Sua vida era tão triste e vazia que fazia ela pensar na morte de uma maneira positiva.

O que mudou sua perspectiva foi ler um romance, bastante peculiar sobre aventuras e descobertas entre duas amigas. Após ler todo o livro em apenas uma noite, ela pensou; por que não se aventurar? Por que não arriscar? Se o seu final seria a morte, não havia nada que a assustasse.

Pensando assim, ela decidiu realizar seu maior sonho; ser livre e cantar.

Ela possuía uma voz linda e inconfundível.

E afinal, ela só tinha 26 anos e não tinha nada a perder.

A jovem então, embora debilitada pela doença sanguínea, em uma madrugada arrumou duas malas com tudo que precisava, arrombou a porta de seu quarto com um grampo de cabelo e saiu pela porta de serviço do castelo; não que fosse ser impedida, pois seu pai já a tratava como se estivesse morta. Mas ela precisava ser discreta, pois não queria mais palavras de ódio do pai, ou olhares de piedade dos empregados. E o mais importante, não queria que ninguém soubesse o seu destino final.

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Não demorou muito a chegar em um porto, ela havia lido sobre os novos navios transatlânticos, mas ver algo tão grandioso bem diante de si, era de fato fantástico.
Ela respirou fundo e seguiu seu caminho para dentro daquele navio, ele a levaria para uma aventura.

E assim, em um último ato de rebeldia, a jovem Lady Alcina Dimitrescu embarcou rumo à uma nova vida.

Art Déco - Alcina DimitrescuOnde histórias criam vida. Descubra agora