III - Chegando ao des(conhecido).

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Nova York, janeiro de 1919.

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Laura instalava-se em seu apartamento na cidade de Nova York, em um bairro escolhido a dedo por ela. O lugar era conhecido por ser o reduto dos artistas; poetas, músicos, escritores, boêmios... O prédio estava localizado na Greenwich Village, um local conhecido por sua vida noturna vibrante e descontraída também.

Depois de viajar longos meses de Paris até Nova York, ainda não tinha quase nada de roupas e de mobília em seu apartamento, mas já tinha comprado uma máquina de escrever. Ao decidir ir criar uma nova realidade para sua vida, a jovem mulher recolheu todas suas economias e todas as suas joias em uma pequena bolsa de mão, que fora a única coisa que levou ao desaparecer. 
Ela folhava o jornal do dia em busca de algum anúncio de um possível emprego. Logo avistou algo que a interessou. O anúncio dizia:

Teatro Baccarat contrata escritor!
O teatro Baccarat vem anunciar a vaga de escritor para peças e eventos poéticos.
Interessados, devem escrever um conto ou poema curto e enviar a correspondência para a direção do teatro até 20/01/1919.
Atenciosamente, a Direção.

Os olhos da jovem escritora brilharam e a empolgação logo tomou conta de seu corpo.
Ela correu até sua máquina de escrever e sob o pseudônimo de Madame Pyhare pôs-se a escrever um breve poema:

A Noite

A noite tem um cheiro
Um cheiro gostoso e único
Um cheiro de aconchego na escuridão
Um cheiro misterioso como o perfume de mulher.

Quando esse perfume me invade
Uma presença feminina e obscura me cerca
Não consigo vê-la, mas consigo senti-la
Tão misteriosa quanto o breu de uma noite sem lua.

Deixo que ela se aproxime
Envolvo-me em seu perfume
Encanto-me em seu mistério
Dou a ela a luz da minha alma.

Sigo-a em meio ao nada
Toco-a em vão
Anseio por ver seu rosto
Afogo-me ao cair no precipício de abrir os olhos e ver que é dia.

Madame Pyhare.

Laura sempre pensava em uma figura feminina magnética quando escrevia um poema ou um conto de romance. Uma mulher misteriosa, de belos olhos e poética.
Esse rascunho de mulher só existia em sua mente, ou melhor; em seus sonhos. Às vezes ela era assombrada em sonho por essa mulher, ela nunca conseguia ver e rosto de sua musa inspiradora, mas via a silhueta perfeita; alta, cabelos escuros que se misturava à noite e um perfume de rosas negras inconfundível. Mas que quando Laura acordava de seu sono, a imagem da mulher se desfazia e habitava somente em seus pensamentos. 

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Após uma semana, Laura recebeu uma correspondência com a resposta da direção do Teatro. Eles haviam gostado de sua escrita e queriam vê-la, ainda daquela tarde. Rapidamente a jovem fez sua higiene, - vestiu-se adequadamente - dando graças a Deus por ter tido tempo de fazer compras de novas roupas, mal bebeu uma xícara de café e saiu. 

As ruas de NY eram muito movimentas, muitos comércios, automóveis e muitas pessoas em um mesmo lugar. Fora do seu bairro parecia que o brilho diminuía, porque as pessoas pareciam mal-humoradas e sempre estavam com pressa.
Laura odiava essa parte. 

Art Déco - Alcina DimitrescuOnde histórias criam vida. Descubra agora