Au Jiara - One shot

JJ

O sorriso de Kiara era uma daquelas coisas que sempre conseguiam me tirar do sério, mas de um jeito bom, sabe? Enquanto ela falava, a voz dela suave, eu me pegava cada vez mais hipnotizado pela maneira como seus olhos brilhavam quando relembrava as histórias da infância. O jeito que ela ria de si mesma, de suas antigas ilusões, era ao mesmo tempo inocente e encantador. E ali, naquele restaurante que eu conhecia tão bem, percebi que não era só a comida que estava tornando a noite especial.

Era ela.

O jeito que ela estava vestida, naquele vestido que parecia ter sido feito para ela, realçava cada curva de um jeito que estava começando a mexer comigo de um jeito que eu não esperava. Meus olhos escorregavam pelo seu pescoço, seguindo até a clavícula, a pele dela suave e sedosa sob a luz suave do restaurante. Eu podia sentir o calor aumentando em mim, uma chama de atração que estava ficando difícil de controlar.

Enquanto ela continuava falando, eu tinha que me esforçar para manter o foco nas palavras dela, mas minha mente estava começando a divagar. Pensamentos começaram a se infiltrar, pensamentos sobre como seria sentir o calor dela mais perto, sobre como seria beijá-la ali, naquele momento. Eu queria saber como seria deslizar minhas mãos por aquela pele macia, sentir a curva de seu corpo contra o meu. O perfume dela estava me deixando atordoado, uma mistura doce que só fazia aumentar o desejo que estava crescendo dentro de mim.

Eu me peguei desviando o olhar para os lábios dela, que se moviam suavemente enquanto ela falava, e tudo o que eu conseguia pensar era em como seria beijá-la, sentir seu gosto. A maneira como ela jogava o cabelo para trás, sem nem perceber o impacto que tinha sobre mim, estava me deixando louco.

Kiara me olhou, aquele brilho nos olhos dela que sempre conseguia me desarmar, e eu sabia que estava encrencado. Por que eu nunca contei a verdade a ela? Essa pergunta pairava na minha mente enquanto a observava falar, como se cada palavra dela fosse uma pequena faísca que reacendia tudo que eu vivi no passado. A verdade era que, naquele tempo, eu estava fodidamente apaixonado por Kiara. Desde aquelas noites em que ficávamos até tarde conversando sobre qualquer coisa, desde os momentos em que o sorriso dela era o suficiente para iluminar o meu dia, mesmo nos momentos mais sombrios. Mas as coisas eram diferentes, muito mais difíceis para mim. Eu tinha um milhão de razões para manter meus sentimentos escondidos, principalmente porque acreditava que ela me via apenas como o melhor amigo dela. Eu não queria arruinar o que tínhamos, não queria que as coisas ficassem estranhas entre nós, então calei tudo. Me convenci de que o melhor era deixar assim, como estava, mantendo a fachada de amizade enquanto meu coração ardia por ela em segredo.

Mas agora, aqui estávamos nós, anos depois, e aquela fachada estava começando a desmoronar. A revelação de que ela sentia algo por mim, que talvez sempre tivesse sentido, me pegou de surpresa. Foi como se alguém tivesse arrancado o tapete debaixo dos meus pés, e eu ainda estava tentando recuperar o equilíbrio.

E então, enquanto a observava ali, sentada à minha frente, tão linda e tão real, me perguntei por que continuei escondendo a verdade. Por que nunca tive a coragem de dizer a ela o que realmente sentia? Talvez porque o medo de perder tudo fosse maior do que o desejo de arriscar. Ou talvez porque, no fundo, eu sabia que, uma vez que as palavras fossem ditas, não haveria volta. E, honestamente, eu não sabia se estava pronto para isso.

Ela está tão perto e essa chama entre nós queimando cada vez mais forte, eu sabia que não poderia continuar fingindo. Havia algo entre nós que precisava ser confrontado, algo que não poderia ser ignorado por mais tempo. E a verdade era que, apesar do meu medo, eu estava mais do que disposto a arriscar tudo por ela. Porque, no final das contas, o que tínhamos era especial demais para ser deixado apenas no passado.

— JJ, por que naquela época você se afastou de mim? Eu te procurei, mas você nunca quis saber de mim. O que aconteceu? Você nunca procurou por mim. Eu não sabia onde você estudava, o que fazia, via você vez ou outra, mas você apenas acenava. — As palavras dela me atingiram como um soco no estômago, inesperadas e diretas. Eu podia ver a sinceridade no olhar dela, a dor genuína por algo que aconteceu anos atrás, mas que ainda não tinha sido resolvido. Meu coração começou a bater mais rápido. Eu já havia pensado sobre esse momento, sobre a possibilidade de ela perguntar o que realmente aconteceu naquela época, mas sempre me convenci de que conseguiria desviar o assunto, manter o passado enterrado onde eu acreditava que ele deveria ficar. Mas agora, com os olhos dela fixos nos meus, eu sabia que não havia como fugir. E talvez, eu também não quisesse mais fugir.

Respirei fundo, tentando organizar meus pensamentos, mas as palavras começaram a sair antes mesmo que eu pudesse pensar nelas.

— Na verdade, eu procurei sim por você. — As palavras saíram quase que por reflexo, carregadas de uma verdade que eu mantive trancada por tanto tempo. — Eu queria ter contato com você. Queria muito. Mas... tinham coisas que iam além do que eu podia falar naquela época.

Os olhos de Kiara se estreitaram levemente, e eu podia ver que ela estava tentando entender, tentando juntar as peças do quebra-cabeça que eu havia montado ao meu redor.