Capítulo 2

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Reprodução.

- Eles te querem porque você é uma mestiça. - Repetiu afirmando para a mulher à sua frente.

A mais de quatro anos não conversavam sobre isso tão diretamente. A mais de quatro não não se permitia ao menos pensar sobre isso tão diretamente.

- Também não sei como descobriram. - Quebrou o silêncio como se pudesse ler os pensamentos que se formavam na cabeça de Diana - Essa é a minha segunda maior preocupação. A primeira é o que eles querem com você.

A mente elencou todos os nomes que sabiam de seu segredo, não conseguiu encher uma mão e não conseguia imaginar ninguém lhe entregando. A palavra mestiça rodava a cabeça impedindo que qualquer outra entrasse e colocasse ordem. Era isso que era, mestiça, metade humana, metade vampiro. Tinha descoberto da pior forma, mas era verdade e era imutável.

Tinha passado a maior parte de sua vida como humana, alheia a toda vida de matança e sangue, até que tudo lhe foi tirado. Diana lembrava muito bem do monstro que havia se tornado na época que Luís surgira em sua vida, lembrava de todos os rostos que tinha assassinado e sabia com uma consciência muito perturbadora que esse monstro ainda vivia dentro dela. Luís por outro lado lidava com esse tipo de caso a séculos, havia construído um lugar para chamar de seu onde resolvia esse tipo de problema. Diana não o viu recuar, rejeitar ou vacilar enquanto contava todos seus pecados. O homem permaneceu em silêncio confessional, já tinha ouvido muitos tipos de horrores antes, já fizera também. Ali não era júri, juiz ou executor, apenas ouvinte. Apenas alguém que pudesse contar-lhe sua história, sua maldição. Se Deus não lhe tivesse dado um destino tão sombrio Luís poderia ter seguido uma carreira devocional, pois sabia todas as penitências possíveis que Diana infringiria física e mentalmente a si mesma pelo resto da vida pelo sangue que havia derramado e derramaria. E ainda assim a mulher não o viu recuar, rejeitar ou vacilar. Até que lhe contou sobre seu maior pecado.

Diana nunca foi transformada em vampiro. Ela nascera. Assim como nascera humana.

- Diana, eu tenho mais de 200 anos de vida. Eu nunca encontrei nenhum outro do seu tipo. E não acho que isso deva ser um bom sinal. Até onde sei, a Corte Europeia está tendo problemas de transformação. Eles não estão conseguindo transformar humanos em vampiros verdadeiros. Talvez eles estejam tão desesperados que estejam indo atrás de reprodução. E bem, temos um exemplo, um semi exemplo, que viveu até a idade adulta bem aqui na nossa frente.

Diana tinha lido alguns relatórios sobre coisas parecidas, mas nada concreto. A Corte Europeia era histórica, inabalável. Essa era a imagem que queriam passar a todo custo pelo menos. E mesmo com independência política a Fortaleza ainda tinha suas alianças, ninguém vivia sozinho no mundo.

- Eu iniciei essa conversa perguntando se você confiava em mim e vou repetir. Você confia em mim, Diana?

Não tinha dúvidas.

- Confio.

- Peço para que me ajude então. Como você sabe, iremos receber uma comissão da Corte Europeia por um tempo. A solicitação deles foi mais do que qualquer outra coisa uma intimação, seria uma grande afronta política negar. Eles estarão de olho em você, mas você também estará de olho neles.

Um estalo no fundo da cabeça ecoou. Esse era o ponto onde brilhava. Diana era uma boa estrategista, era majestosamente boa em enterrar sentimentos e planejar. E era isso que faria, se tinham decidido sair da Europa para investigar sua vida e usar suas cicatrizes como experimentos de laboratório, então também não se importava em jogar. Um sorriso perverso apareceu no canto da boca, sabia que Luís gostava tanto quanto ela.

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