Criança.

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9 anos atrás, Los Angeles, Califórnia

Meus pais sempre brigavam, mas nunca foi tão violento. Até aquela noite.

Eu tinha oito anos e estava sentada no meu quarto, fazendo uma pulseira da amizade para a minha melhor amiga Emma Vedder. Minha irmã tinha um ano de idade e estava dormindo no berço no quarto dos meus pais. Então eu ouvi gritos e corri para o andar de baixo.

Meu pai e minha mãe estavam brigando de novo, então eu me escondi atrás da escada para ver o que ia acontecer. Eu estava com medo.

Eles estavam gritando coisas tipo "Isso é da minha natureza!" e "Você não me respeita!". Os gritos acordaram June e ela começou a chorar. "Você acordou a June, seu filho da puta!"

Meu pai parou por um segundo e olhou pra ela dentro do olho "Do que você me chamou?". Minha mãe, sendo a pessoa tempestuosa que ela sempre foi respondeu " De filho da puta! Vai fazer o quê?"

Então eu vi. A cena que repete na minha cabeça todos os dias quando eu acordo e quando eu vou dormir. O que eu desejo que seja eu sonho.

Meu pai puxa minha mãe pelo cabelo e leva ela pro quarto, eu sigo porque eu estou preocupada. Ele força ela na cama e eu sabia o que ele ia fazer. Ele ia estuprar minha mãe. Com June chorando e minha mãe gritando por socorro, eu me paralisei. Só que não. A primeira coisa que eu vi foi um livro grosso, que minha mãe gostava de ler todas as noites. Ele tinha umas 1000 páginas, era de capa dura e se chamava Conde Monte Cristo.

Pego o livro rapidamente e acerto a cabeça do meu pai com ele. Ele se desestabiliza e cai no chão com força, em cima do braço dele. "Nunca. Mais. Encosta. Na. Minha. Mãe!" Eu grito enquanto chuto ele no chão, pensando na surra que ele iria me dar depois disso, quando ele levantasse.

Mas ele não levantou.

Sim, aparentemente acertar seu pai com um Conde Monte Cristo na mão pode fazer ele desmaiar.

Nesse momento, minha mãe olhou pra mim e eu sabia o que devia fazer. Eu ia ser uma boa garota e tomar conta da minha irmã, fugir antes que meu pai acordasse. Então eu pego June no colo e levo ela para o meu quarto, enquanto minha mãe pega algumas coisas delas e minhas.

Minha mãe liga o carro, e em meio as lágrimas ela me agradece por tudo que eu fiz e por ser uma boa filha. Mas eu não era. Eu só fiz o que eu queria fazer a muito tempo.

Desde esse dia eu prometi para mim mesma que eu não ia nunca mais falar uma palavra com meu pai.

The secret of usWhere stories live. Discover now