-Um triste começo-

354 58 9
                                    




Numa pequena cidade no interior de Busan- Coréia do Sul, numa noite quente de verão uma jovem tomava a decisão mais difícil de sua vida.
Parada em frente a um pequeno portão de madeira, ela olhava para a casa grande no fundo do quintal da frente. Suas mãos tremiam, seu coração batia tão forte que ela o ouvia nitidamente em seus ouvidos.
Devagar ela se agachou na frente do portão, apoiando no chão um pequeno cesto de palha, ela esticou sua mão trêmula tirando um cobertor de cima do que estava ali. Um lindo bebê, era isso que ela olhava agora, suas bochechas fofas, seu nariz pequeno, suas mãozinhas com dedinhos finos.

-Me perdoe por isso minha pequena... Por favor, um dia, se puder, me perdoe.

Chorando a jovem moça, de cabelos escuros deu um leve beijo em seu bebê, tão delicado e cuidadoso pois a mesma não queria acord'á-lo. Ao lado do portão havia uma campainha, que rapidamente ela tocou, e logo que fez isso ela correu se escondendo atrás de algumas árvores que cercavam o lugar. Na espreita ela viu uma luz se acender perto da porta da casa, uma mulher apareceu olhando de longe o portão, mesmo sendo tarde ela se aproximou, ainda sem entender o que estava havendo ali, mas logo seus passos se apressaram quando ela avistou algo no chão. Abrindo rápido o portão ela descobriu o que era aquilo e sem pensar duas vezes ela levou o pequeno cesto para dentro.

Assim que a porta se fechou, e a luz de fora se apagou, a outra jovem que estava ainda escondida saiu, e seu choro antes contido e abafado, agora era nítido e de dor.

-Sinto muito por isso minha filha, minha pequena Dan-i.

[...]

12 anos depois
Pov Dan-i

Crescer nesse orfanato não era algo fácil, mas depois de 12 anos aqui eu já havia pegado o jeito. Aqui eu era a segunda mais velha, antes de mim tinha a Cho Sam-hi. Sam era o que eu tinha mais próximo de uma irmã mais velha, o que era bom. Tínhamos o mesmo gosto por comida, o mesmo gosto musical, e sempre estávamos juntas. Até estudávamos na mesma escola, porém Sam era ótima em esportes, e jogava no time basquete, por esse motivo começamos a nos distanciar um pouco por conta dos treinos dela. Agora eu fiquei mais sozinha, o que deu brecha para começarem com bullying comigo. As garotas de boa condição falavam mal do meu cabelo, que sempre estava preso, riam dos meus óculos, do meu uniforme velho e dos meus tênis usados. Tudo era motivo de zuação, eles passavam jogando bolinhas de papel em mim, outra vez esbarraram na minha bandeja de comida fazendo tudo ir pro chão no meio do refeitório. Mas a pior de todas foi quando eles me encurralaram na saída.

-Olha só quem temos aqui! A sem família! - uma das meninas disse fazendo os outros rirem alto.

-Porque vocês não me deixam em paz, me deixem ir embora! -Falei.

-Ir embora feiosa? É isso que eu você quer? - um dos meninos disse.

Eu tentei sair correndo, mas eles pegaram minha mochila, e me jogaram no chão, com o impacto meu óculos voou, e uma delas pisou em cima dele, o quebrando no meio. Levantei indo pra cima dela, porém os garotos me seguraram e me jogaram no chão outra vez. Dessa vez senti dor no meu pé, e comecei a chorar por isso, um choro mais de raiva do que de dor. Eles riram, e logo se cansaram de mim, me deixando ali no chão.

Voltando mancando pro orfanato eu ia me questionando até quando passaria por isso, e minha chateação era tanta que eu decidi que nunca mais pisaria na escola. Joelhos ralados e óculos quebrados, essa era eu agora.

-Dan-i??? Mas o que é isso? O que você andou aprontando? - disse a senhora Han assim que me viu entrar no orfanato.

-Eu não fiz nada senhora, eles que ...

-Não me interessa, você está atrasada, logo os voluntários chegarão, preciso da sua ajuda com as crianças menores, ande, tome um banho e venha.

Entrei no orfanato e fui direto para a ala dos alojamentos, meu quarto era o último do corredor, o menor porém tinham uma vista linda da parte de trás do lugar, onde havia uma floresta linda.
Ao longo dos anos, aqui no orfanato, uma vez por mês recebemos voluntários, muitas das vezes pessoas da igreja, ou até mesmo de ongs do centro de Busan.
Eles arrecadavam doações na cidade, como roupas, sapatos, brinquedos, e levavam pra nós. Eu ajudava a senhora Han a distribuir os brinquedos para não dar brigas.
Ainda mancando eu fui para o pátio, era uma parte aberta onde geralmente as crianças menores amam brincar. Os portões abriram às 14:00 da tarde, cerca de 10 mulheres chegaram, junto a um homem, que pela roupa, deve ser padre.
Comecei a ajudar, pegando as caixas de doações e levando pra dentro, geralmente os voluntários sempre trazem comidas diferentes, e dessa vez tinha até kimbap, que é o meu favorito. Enquanto arrumava as mesas no refeitório, uma das voluntárias acabou notando que eu mancava, e logo veio me questionar... Ela parecia nervosa, e me fez sentar vendo os meus joelhos ralados.

-Me diga quem fez isso com você? Foi alguma das suas tutoras? Alguém aqui está fazendo algo pra você? - perguntou a mulher.

Eu sou nova, mas sei que qualquer palavra dita errada agora, essa estranha pode querer criar um caso, e eu posso até ser transferida de orfanato, o que definitivamente eu não quero.

-Não senhora! Aqui nos tratamos como uma família, ninguém aqui faria algo assim comigo, isso foram só algumas garotas na escola. -terminei meio aborrecida.

-Tem tido problemas na escola é?

-Sim. Mas eles vão acabar muito em breve! -Falei convicta.

-Como assim?-estranhou a mulher.

-Eu não vou mais ir para escola... Se eu não for ninguém vai me bater ou me zoar por ser órfã.

-Olha aqui menina, independente de como esteja sendo sua vida na escola, isso não é motivo pra você parar de estudar! O que você vai fazer da sua vida, hã??
Você é nova demais pra trabalhar, e quando tiver idade pra isso, não irão te contratar por você não ter seus estudos... Você não pensa em fazer uma faculdade?

-Penso... Meu sonho é ser veterinária!

-Então pronto... Pense nisso daqui pra frente, sempre que as coisas estiverem ruins ou difíceis, pense em todos os bichinhos que você irá salvar no futuro, e não desista disso até você chegar lá!-disse num sorriso gentil.

Estranhamente eu me acalmei, eu realmente quero muito um dia ter o meu próprio hospital veterinário, aqui no orfanato temos 3 cachorros e 2 gatos, que eu mesma resgatei, e que cuido com todo amor do mundo.

Uma pessoa chamou a moça que saiu logo. Aquele dia terminou como qualquer outro, as crianças menores estavam felizes, correndo e brincando, e depois que os voluntários se foram, eu e a senhora Han separamos os "presentes".
Ela pegava, e eu ia entregando para os pequenos ansiosos que estavam sentados no chão da sala do lugar.

-Dan-i. esse aqui é pra você! - A senhora Han disse me olhando com uma caixa branca na mão.

Eu logo estranhei, pois há muito tempo não sobram doações pra mim, tudo acaba ficando para os menores.

-Pra mim? tem certeza disso senhora?

-Lee Dan-i, é seu nome aqui na caixa não é?

Me aproximei pegando a caixa na mão, as crianças gritavam : abre, abre!
E eu abri, dentro da caixa tinha um uniforme novinho, uma mochila, e um par de tênis brancos. Tudo tão lindo que me emocionei.

[...]

Já a noite, perto da hora de dormir, eu olhava o meu uniforme que eu já havia passado e deixado em um cabide no canto do quarto. Minha porta se abriu, e a Sam surgiu...

-Posso entrar?

-Você já entrou Sam! -sorri.

-Soube que hoje foi divertido?

-É foi sim...

-Soube também que você até ganhou presentes, onde estão?- perguntou curiosa olhando em volta.

Mostrei pra ela tudo o que ganhei, e ela ficou mais feliz que eu ...
Passamos uma parte da madrugada conversando, na real cochichando, até porque uma das regras aqui é: DORMIR DEPOIS DAS 21:00.

-Então você vai mesmo aceitar essa bolsa de estudos fora Sam?- perguntei sentindo um nó na garganta.

-Acho que sim! Quando mais uma garota pobre e órfã poderia ter a oportunidade de estudar fora do país amiga?

-É, você tem razão! -suspirei...

-Olha DanDan, eu prometo que serei a melhor jogadora de basquete deste mundo, e quando eu ficar bem famosa e rica te ajudo a abrir seu hospital, ou clínica veterinária. Você só precisa me prometer também que não vai desistir do seu sonho, que vai se empenhar em passar no vestibular e vai entrar na faculdade de Busan... Você me promete? - finalizou levantando o dedinho.

-Sim, eu prometo!

Demos os dedinhos como sinal de selo das nossas promessas naquela noite. E eu me lembraria dessa promessa sempre nos próximos anos.

*Esse capítulo foi pra inserir a história de Dan-i, assim como farei com a de JungKook no próximo!
Obrigada pela leitura, e não se esqueçam que aqui vocês podem votar, e deixar comentários também!*

MINHA GAROTA.Onde histórias criam vida. Descubra agora