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MAÍRA

Dias atuais...

O sequestro tinha acontecido há uma semana. O barulho da janela balançando com o vento era o único som que preenchia o silêncio do meu quarto.

Meus olhos estavam fixos no céu nublado lá fora, mas minha mente estava longe, bem longe.

Cada vez que piscava, flashes daquelas mãos asquerosas do Patrick voltavam. Era como se eu estivesse presa em um pesadelo sem fim.

O sequestro... A tentativa de estupro... O medo que me congelou. Eu já tinha passado por isso antes. Por que tinha que acontecer de novo?

A lembrança do Russo, pai do Patrick, voltava de novo e de novo. Ele e o Patrick eram os monstros que assombravam minhas noites.

De repente, ouvi um leve rangido da porta se abrindo. Não precisei me virar pra saber quem era. Rafael. Eu podia sentir sua presença, mesmo sem ver ele.

Ele não disse nada no começo, mas eu senti quando ele parou perto de mim, hesitando.

Eu não o olhei. Não queria ter que encarar aqueles olhos que um dia me fizeram sentir tanto. Ele ainda tinha o mesmo cheiro de antes, aquele que eu amava. Quantas noites eu adormeci com o rosto enterrado no seu pescoço, sentindo seu perfume como se fosse o meu abrigo.

— Maíra. — chamou.

Fechei os olhos, tentando segurar a onda de emoções que começou a me inundar.

Ele pegou no meu braço.

— A gente pode conversar?

Eu me soltei, puxando meu braço de volta e finalmente encarando ele.

— O que você quer? — minha voz saiu fria.

Ele passou a mão pelos cabelos, claramente nervoso. Rafael nunca foi bom em lidar com essas coisas. Conversas profundas, sentimentos... Ele fugia de tudo isso.

— Eu precisava ver como você tava depois de tudo que aconteceu. — Ele começou, ainda evitando meu olhar. Sua voz estava tensa, carregada de emoções que ele tentava controlar. — Eu sei que você deve estar mal. O Patrick quase...

Rafael parou, o maxilar travado, enquanto seus punhos se apertavam. Ele respirou fundo, como se as palavras lhe faltassem, incapaz de dizer em voz alta o que Patrick quase fez.

— Aquele desgraçado... — Ele explodiu, finalmente levantando a cabeça, com os olhos faiscando de pura raiva. — Eu juro que, se o Marreta não tivesse resolvido isso, eu mesmo já tinha dado um jeito nele!

Rafael passava os dedos nervosos pelo cabelo. Ele parou de repente, os olhos fixos no chão, como se tivesse se perdido em seus próprios pensamentos.

— E o pior... — Ele murmurou, sua voz mais baixa agora, carregada de culpa. — O pior é que eu me sinto culpado pra caramba por tudo isso.

Eu fiquei em silêncio por alguns segundos.

— Você não tem que se sentir assim. — falei, cruzando os braços e respirando fundo. — Não tem porque se culpar, porque... a verdade é que nós não somos nada. Você não tem responsabilidade nenhuma sobre mim.

Ele finalmente me olhou.

— Não somos nada? A gente foi importante um pro outro. Você sabe disso.

Eu balancei a cabeça.

— A gente namorou, Rafael. — corrigi, minha voz soando amarga sem querer. — Eu amava você. De verdade. Mas, pelo jeito, isso deve ter sido só da minha parte, né? Porque você preferiu se afastar. Você escolheu fugir ao invés de enfrentar o Marreta.

Uma Segunda Chance: A história de Maíra e RafaelOnde histórias criam vida. Descubra agora