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RAFAEL

Eu já tinha visto a Maíra sofrer antes, mas nada me preparou pra ver ela assim. O olhar dela, vazio, distante, me fazia sentir como se eu estivesse preso em um pesadelo. E o pior? Eu sabia que tinha sido parte do que a colocou ali. Parte da dor, parte da angústia. Eu, que prometi pra mim mesmo que sempre ia proteger ela, acabei sendo a causa da sua maior decepção.

Sabia que não tinha mais como voltar atrás, não dava pra consertar tudo o que quebrou entre nós. Mas eu precisava que ela soubesse de uma coisa: eu a amava mais que tudo nesse mundo.

Maíra sempre foi tudo pra mim, desde sempre, mas ela nunca soube disso. Ela achava que eu tinha largado ela, jogado tudo fora por covardia ou por algum motivo que ela nunca entendeu. Só que a verdade era muito mais complicada do que isso.

— Eu era um moleque, Maíra. — comecei, tentando fazer a voz sair firme, mas falhando. — Eu tinha medo. Medo de perder o pouco que ainda me restava.

Ela me olhou, sem entender. A confusão estampada nos olhos.

— Você acha que eu não queria ficar com você? — continuei. — Eu não tinha mais ninguém. Meus pais morreram, eu tava sozinho. E quem me acolheu foi o Marreta e o William. Eles eram como irmãos pra mim, os únicos que eu tinha. Eu não podia perder isso também.

Ela ficou em silêncio, os olhos fixos em mim, esperando. Queria que ela entendesse. Queria que ela soubesse o quanto eu me arrependi.

— O Marreta sempre foi explosivo, você sabe como ele é. Eu sabia que ele jamais aceitaria o que eu sentia por você. Você era a imãzinha dele, era intocável. Bom, eu sabia que se ele descobrisse, as coisas iam desandar de um jeito que eu não tinha como controlar.

Maíra apertou os lábios, mas não disse nada. Eu sabia que ela ainda não confiava em mim, e com razão.

— William sabia de tudo. Ele sabia o quanto eu te amava, Maíra. Mas foi ele que me aconselhou a te deixar. Ele achava que isso seria melhor pra você. "Deixa ela te esquecer, cara", ele disse. "Investe na Luciana, ela vai te fazer bem. E a Maíra vai seguir em frente, vai ser melhor pra todo mundo."

Eu queria acreditar que ele tava certo. Achei que, se você me visse com outra pessoa, ia seguir em frente e as coisas voltariam ao normal. Que o Marreta nunca ia precisar saber, e que eu não perderia os únicos dois irmãos que eu tinha. Eu fui um idiota.

Eu apertei os olhos, sentindo a garganta travar, mas continuei.

— Mas eu sempre senti sua falta. — Confessei. — Todas as noites que eu olhava pra Luciana e tentava me convencer de que aquilo era o certo... tudo o que eu via era você. Só você.

Ela piscou algumas vezes, lutando contra as lágrimas que já começavam a se formar. Mas eu continuei, precisava que ela ouvisse tudo.

— Você nunca saiu da minha cabeça, Maíra. Nunca. E cada vez que eu tentava enterrar esses sentimentos, mais eu afundava.

Ela engoliu em seco.

— Você me machucou, Rafael. — A voz dela saiu quase um sussurro, mas o impacto das palavras foi como um soco.

— Eu sei. — Minha voz falhou por um segundo. — Achei que afastar você seria o melhor pra todo mundo. Mas eu tava errado. Eu destruí o seu coração, e o meu também. E até hoje eu não consegui me perdoar por isso.

Ela riu, uma risada sem humor, cheia de dor.

— Melhor? — Ela repetiu, balançando a cabeça. — Você acha que te ver com outra pessoa ia fazer eu te esquecer? Você não sabe nada sobre o que eu sentia por você. Nada!

— Talvez não. — Admiti, com o peito apertando mais a cada palavra. — Mas uma coisa eu sei. Eu nunca consegui te esquecer. Nunca amei ninguém como eu amei você, meu bem.

Maíra desviou o olhar, as lágrimas que ela tentou segurar agora escorriam silenciosas.

Um desespero tomou conta de mim.

Me ajoelhei na frente dela, sentindo o peso da minha própria fraqueza. Minha voz saiu trêmula, mas eu não podia mais parar.

— Me perdoa, meu amor. Eu sei que eu não mereço. Eu sei que errei. Mas eu tô aqui, te pedindo uma chance de consertar isso. — Olhei pra ela, com o coração acelerado.

Ela soluçou.

— Eu tenho medo, Rafael. — Maíra disse, com a voz fraca. — Eu não sei se consigo passar por isso de novo. Eu não sei se consigo confiar em você. Eu... — Ela respirou fundo, tentando se recompor. — Eu tô com medo de sofrer de novo.

Eu tinha quebrado o coração dela antes, e agora ela tava com medo de eu fazer isso de novo.

— Eu sei que você tá com medo, e você tem todo o direito de sentir isso. — Segurei a mão dela, apertando de leve, esperando que ela não me afastasse. — Mas eu prometo que, se você me der uma chance... eu vou fazer de tudo pra não te machucar de novo. Eu vou te provar que sou o cara que você merece.

Ela me olhou, as lágrimas ainda caindo, mas sem a dureza de antes.

— Você ainda me ama, Maíra? — Minha voz saiu baixa, quase um sussurro.

Ela fechou os olhos por um segundo, tentando se controlar. Quando os abriu de novo e me encarou, eu tive certeza que sim.

Ela ainda me amava.

— Eu nunca deixei de te amar, Rafa. — Ela disse, finalmente. — Mas eu também não sei se posso confiar em você de novo.

Eu segurei o rosto dela com as duas mãos, o coração disparado.

— Uma chance. Só uma chance. — Supliquei. — Eu vou provar pra você que vale a pena.

Ela hesitou, a respiração pesada, enquanto me olhava com os olhos cheios de lágrimas.

O silêncio entre nós parecia durar uma eternidade. Eu sabia que a decisão dela ia definir nosso futuro.

Finalmente, ela soltou um suspiro longo, passando a mão pelos olhos pra limpar as lágrimas.

— Eu não sei. — Ela disse, a voz trêmula. — Eu só... preciso de tempo.

Eu assenti, me levantando devagar, sem tirar os olhos dela.

— Tudo bem, meu amor. Eu vou esperar o tempo que for. Eu sempre vou estar te esperando, Maíra. Sempre.

Ela não respondeu, mas o silêncio dela, dessa vez, não parecia um fim.

Parecia um começo.

Uma Segunda Chance: A história de Maíra e RafaelOnde histórias criam vida. Descubra agora