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MAÍRA

Eu estava sentada na cama da Safira, olhando pro chão como se as respostas pra tudo estivessem ali, mas não estavam.

Era tanta coisa presa dentro de mim que eu nem sabia por onde começar. Safira, como sempre, estava ali do meu lado, me dando apoio e esperando eu falar.

Era tudo tão difícil.

— Eu tô cansada, Safi. — soltei, tentando não chorar de novo. — Cansada de fingir que tá tudo bem, cansada de não saber o que eu quero, cansada de escolher errado e me machucar, e...

Safira me olhou, preocupada.

— O que aconteceu, amiga? — Ela perguntou baixinho, pegando minha mão. — Você sabe que pode falar comigo, né?

Respirei fundo e assenti, com lágrimas caindo. Eu sabia que precisava falar, mas parecia que toda vez que eu tentava, a voz sumia.

Eu precisava tirar isso de dentro de mim. Desesperadamente.

— Eu nunca te contei, mas eu e o Rafael... a gente já namorou, há muito tempo atrás. — confessei, sentindo um nó na garganta.

Ela piscou, surpresa, e se ajeitou na cama.

— Como assim, Maíra? Quando isso aconteceu? — Ela perguntou, quase sem acreditar.

Eu respirei fundo e continuei.

— Foi na adolescência, Safi. A gente tinha um namoro escondido. — confessei. — Mas ainda sim, eu amava tanto ele. Mas do que qualquer coisa. Eu faria qualquer loucura que ele me pedisse, amiga. Até fugir, se ele quisesse... só pra ficar com ele.

— Eu nunca imaginei isso... — ela disse, ainda surpresa com a testa franzida. — Mas o que aconteceu? Por que vocês terminaram?

Eu olhei pra ela, sentindo a dor voltar, e as lágrimas que caíam cada vez mais forte.

— Ele sumiu, Safira. Começou a me evitar, fingiu que eu nem existia e depois... ele ficou com outra, bem na minha frente.

A lembrança ainda doía, e eu respirei fundo, tentando segurar a emoção.

— Foi como se tudo o que a gente viveu não tivesse significado nada pra ele. Como se só eu amasse de verdade.

Safira balançou a cabeça, incrédula.

— E você ainda sente alguma coisa por ele?

Eu limpei as lágrimas com a manga da blusa, mas era inútil.

— Nunca deixei de amar. — falei, baixinho. — Mesmo depois de tudo... eu não consegui esquecer. E isso me assusta, porque eu quero saber como é ser feliz de novo, mas eu quero isso com ele. Só que eu tô morrendo de medo de passar por tudo de novo, de me machucar de novo.

Safira me puxou para um abraço apertado, e eu fiquei ali, chorando no ombro dela.

— Eu não sei o que fazer, amiga. Me ajuda.

Eu suspirei, limpando o rosto com as mãos. Parecia que a cada segundo, eu ficava mais confusa. Como eu ia saber se Rafael tinha realmente mudado?

— E se eu for atrás dele, Safira? — perguntei, minha voz baixa, quase um sussurro. — E se ele me machucar de novo?

— Amiga, eu entendo seu medo. — ela disse, me soltando um pouquinho pra me olhar nos olhos. — Mas olha só, se você ainda sente tudo isso por ele, talvez seja a hora de falar o que tá guardado. Ter uma conversa franca, o que acha?

Eu queria acreditar nisso, mas o medo me paralisava. Como eu ia saber se ele tinha mudado? Como confiar nele depois de tudo?

— É só que... — eu hesitei, as palavras se embolando na garganta. — Eu tenho medo de ser a mesma coisa. De ele sumir, me evitar de novo. Eu não vou aguentar passar por isso mais uma vez.

— Ninguém pode te garantir nada, amiga. — ela disse, com a voz suave. — Mas e se ele estiver arrependido? E se ele tiver mudado de verdade? Você vai ficar se perguntando isso pra sempre se não fizer nada. Às vezes, a gente precisa se arriscar, mesmo que dê medo.

Eu fiquei em silêncio, digerindo as palavras dela. E se ela tivesse razão? Talvez fosse hora de parar de fugir e enfrentar meus sentimentos.

A porta do quarto abriu de leve e o Marreta apareceu. Meu coração quase saiu pela boca, porque eu sabia que ele tinha escutado.

— Você ouviu tudo? — Perguntei, sentindo o pânico crescer.

Marreta balançou a cabeça.

— Ouvi. — ele respondeu, entrando no quarto e encostando na parede. — E vou te falar uma coisa, Maíra. Lá atrás, eu teria dado um jeito de separar vocês. Eu ia acabar com esse namoro de vocês se soubesse.

Meu coração apertou na hora. Era isso que eu temia, que ele nunca aceitasse.

— Mas, depois de tudo... — ele continuou, dando de ombros — Eu aprendi que aquele cara, por mais medroso que seja, é confiável. Rafael é amigo, de verdade. Ele sempre foi um moleque cheio de medo, mas é leal.

Eu fiquei encarando o meu irmão.

— Você acha que eu devo perdoar ele? — Perguntei.

— Não sou vidente, mas o cara é um bom amigo, é meio emocionado. — ele respondeu, olhando nos meus olhos. — Até demais, pro meu gosto. — resmungou.

Isso era verdade. Rafael sempre teve o coração mole, e aquilo havia sido uma das muitas coisas que me fizeram olhar pra ela com outros olhos além da amizade.

— Ele foi moleque, te tratou mal, mas todo mundo erra. Eu não sou exemplo de nada, mas se tem uma coisa que eu sei, é que o Rafael aprendeu com os erros, até mesmo com o pé na bunda que levou da Luciana, que ele nem devia gostar de verdade.

— Você acha?

— Tenho certeza, Maíra. — respondeu? Marreta.

Eu continuei quieta, sem saber o que dizer. Safira tava me olhando, com aquele olhar de "você tem que decidir".

— No fim das contas, quem decide isso é você . — Marreta falou, se afastando da parede e já indo em direção à porta. — Mas acho que tá na hora de você ser feliz com aquele idiota.

— Mas e se... — comecei a falar, mas Marreta me interrompeu.

— Se continuar pensando no "e se", você nunca vai sair do lugar. — ele disse, direto. — Você ainda ama o Rafael, tá na cara. Vai lá e resolve isso, de uma vez por todas.

E com isso, ele saiu do quarto, me deixando ali, com a cabeça a mil.

Eu olhei pra Safira, tentando processar tudo. Será que eles estavam certos? Será que eu tava pronta pra enfrentar meus medos e ver o que ainda existia entre eu e Rafael? Só de pensar nisso, meu coração acelerava, mas eu sabia que não podia fugir pra sempre.

Uma Segunda Chance: A história de Maíra e RafaelOnde histórias criam vida. Descubra agora