Você deve estar se perguntando como cheguei até aqui, certo? Ou talvez não. Talvez você não se importe. Eu também não me importaria, na verdade. Mas, já que estamos aqui, por que não deixar as palavras fluírem?
Desde que me entendo por gente — ou pelo menos desde que aprendi a segurar um lápis — tenho jogado palavras por aí. No papel, na janela, no vento. A janela sempre foi minha aliada. Não sei se o vento as leva para alguém... talvez para você. Já imaginou? Talvez uma dessas cartas tenha caído no seu quintal e você nem percebeu. Ou pior, caiu na mão de alguém que acha que tudo isso é uma crise adolescente. Eu não culparia.
Que drama, não é? Eu avisei que ia ser assim. Se estiver achando muito, a saída é ali.
Eu tinha cinco anos quando comecei a escrever. Cinco anos e um mundo inteiro de coisas que eu não entendia. E, se quer saber a verdade, acho que ainda não entendo. Escrevia sobre o que me sufocava — literalmente e metaforicamente. O cheiro forte de álcool que vinha do quarto dos meus pais era minha trilha sonora. Isso, e o som dos copos batendo na mesa, tipo um concerto da desgraça. Escrevia porque não sabia gritar. Aí, um dia, joguei a primeira carta pela janela. Foi libertador, tipo uma sessão de terapia. Ou pelo menos eu queria que fosse.
Mas aí você lembra que terapia é para quem tem dinheiro. Eu tenho papel e uma janela. O mundo real é assim.
Minha avó dizia que eu tinha alma de poeta. Eu gostava de acreditar nisso. Mas, pensando bem, acho que ela falava isso porque "garoto com problemas sérios de expressão emocional" soava feio demais. E agora, com 14 anos... Não, espera, com 16 anos e sem ela aqui para segurar minha mão, só sobraram as cartas. E a babá. Ah, sim. A famosa babá dos 12 gatos. E sua casa que cheira a zoológico depois de um apocalipse. Pior ainda, a comida dela tem o mesmo gosto do cheiro da casa. Parece que estou sendo envenenado em doses homeopáticas.
Delicioso, não é?
Ah, e tem mais uma coisa: a "babá" não é muito fã de cartas jogadas pela janela. Descobri isso quando ela encontrou uma das minhas. Ela olhou para mim como se eu fosse algum tipo de sociopata em treinamento.
Ela olhou para mim, com aquela cara que só pessoas com 12 gatos sabem fazer, e perguntou: "Por que você faz isso, menino?" Eu juro, fiquei tentado a responder "porque não posso jogar meu pulmão pela janela, então me contento com as palavras." Mas, pela primeira vez na vida, me contive. Só disse que eu gostava de escrever.
Eu tentei explicar, mas adivinhe? Ninguém entende. E eu não culpo ninguém. Afinal, por que alguém iria se importar com cartas escritas por um adolescente dramático que praticamente vive numa casa que fede a areia de gato suja?
Mas você está aqui, então talvez seja diferente. Ou talvez você só tenha tempo sobrando.
Eu? Eu vou continuar jogando cartas ao vento. Quem sabe uma delas chega a algum lugar útil. Ou acaba no fundo de uma lata de lixo. Ambas são opções válidas.
Mas agora você está curioso, certo? Quer saber mais sobre esse garoto que joga cartas pela janela. Quer entender o que se passa na minha cabeça. Tudo bem, eu deixo. Vamos começar do começo.
Minha avó sempre dizia que eu era um mistério ambulante. Não sei se isso era elogio ou só o Alzheimer dela falando mais alto. Ela era a única pessoa que parecia se importar comigo, mesmo que, às vezes, esquecesse o meu nome. Meus pais? Eles preferem uma garrafa de uísque a um filho, quem sou eu para competir, não é?
Eu sei, o clima aqui está leve como um enterro. Prometo que vai ficar ainda melhor.
A verdade é que eu sempre fui um pouco quebrado. Nasci assim, por obra e graça de duas pessoas que achavam que misturar álcool com drogas durante a gravidez era uma excelente ideia. Bronquite asmática e diabetes? O pacote completo. De vez em quando, me pergunto se meus pulmões vão parar de funcionar primeiro ou se minha glicose vai decidir me matar antes. Emoção constante.
Se você acha que estou exagerando, tenta viver com falta de ar enquanto toma insulina. Diversão garantida.
Quando eu tinha 14, minha avó morreu. E, junto com ela, se foi a única parte da minha vida que fazia algum sentido. Meus pais acharam que mudar de casa resolveria tudo, porque, aparentemente, trocar de cenário faz milagres. Agora, aos 16, moro num prédio que fede a mofo e frustração. Ah, e com uma babá que vive num zoológico de gatos. A casa dela tem um cheiro... inconfundível. Sabe aquele odor de areia de gato que não foi trocada há dias? Agora imagine isso multiplicado por 12.
Se algum dia eu morrer por intoxicação de ar com cheiro de gato, você vai saber quem culpar.
Mas, vamos lá, eu sou Jungkook. Tenho 16 anos, escrevo cartas que ninguém lê e tenho uma queda por transformar tragédias em piadas ruins. Talvez uma dessas cartas chegue até você. Se chegar, bom... Me avisa. Pode ser que, pela primeira vez, eu tenha acertado o destinatário.
[...]
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Cartas de um Desmiolado || Pjm + Jjk
Fanfic[EM BREVE] Jungkook sempre teve uma vida difícil. Filho de pais alcoólatras e usuários de substâncias ilícitas, ele foi criado pela avó, a única pessoa que parecia se importar com ele. Desde pequeno, ele encontrou nas cartas uma maneira de expressar...