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Futebol e álcool

Já no carro, me encontro bêbado, mas não só de álcool, mas de ódio também. Ferran, por outro lado, está simplesmente bêbado, sem nenhuma carga emocional além da euforia de quem não tem noção de nada. Dirijo em direção ao campo, com uma mão no volante e a outra segurando uma garrafa. Já estou ferrado mesmo, então por que não me afundar mais um pouco? Ferran, no banco do passageiro, tagarela sem parar, cantando junto com a música que toca no carro, completamente alheio ao caos que se desenrola na minha cabeça. As luzes do semáforo insistem em permanecer vermelhas, um bloqueio físico que parece refletir o mental. Olho para a garrafa na minha mão. Já está quase no fim, e o gosto já nem me incomoda mais. O que me incomoda mesmo é a realidade que me espera no final dessa corrida. Gavi, a ressaca emocional, e o fato de que, de uma maneira ou outra, essa noite só vai piorar. Ferran, claro, não percebe nada disso. Ele segue cantando, oscilando entre desafinar e rir, enquanto o mundo à minha volta parece desmoronar lentamente, gota a gota, como o álcool na minha garganta.

Conforme nos aproximamos do destino, meu nervosismo aumenta, mas o cenário à frente é diferente do que eu esperava. O campo de futebol que se revela não é nada simples, pelo contrário, é sofisticado, um verdadeiro complexo esportivo de luxo.

Os portões de entrada são de ferro preto, com detalhes modernos e bem cuidados, ladeados por um jardim impecável, com grama aparada milimetricamente e pequenos arbustos que adornam o caminho. As luzes dos refletores são fortes, iluminando o campo de forma quase cirúrgica, sem deixar um único ponto em sombras. A grama é artificial, daquele verde perfeito, com linhas brancas recém-pintadas, dando um ar quase irreal ao espaço. Puta cenário bonito.

Os vestiários, localizados ao lado, parecem mais um pequeno clube, com fachadas de vidro e paredes brancas. Um estacionamento amplo se estende em frente, com carros bonitos estacionados como se fizessem parte da decoração. A arquibancada é pequena, mas estilosa, com cadeiras acolchoadas e uma área VIP cercada por vidros. Paro o carro próximo à entrada principal, sentindo o contraste entre o ambiente e a bagunça que eu sou nesse momento. A garrafa vazia no colo, o som irritante da risada de Ferran ao lado, e o fato de que eu estava a um passo de ter que buscar esse moleque.

— Mermao, que porra de lugar bonito, quero ser jogador de futebol agora! — Ferran exclama, visivelmente animado, quase pulando no banco do passageiro. Ele bate no painel e pede para eu abaixar os vidros. Bufo, cansado, esfrego o rosto com a mão livre antes de apertar o botão e deixar o ar fresco da noite entrar. — Olha isso! — Ele grita, empolgado, como uma criança que acabou de descobrir um parque de diversões. — Eu não sabia que o teu cunhado jogava bola. Que foda, mano! — Ele está realmente impressionado, quase como se o luxo do campo estivesse se transferindo diretamente para o entusiasmo dele. Os olhos de Ferran percorrem cada canto daquele complexo esportivo, e ele continua comentando, rindo, parecendo ignorar completamente o estado caótico da nossa situação.

Com Gavi prestes a aparecer e a responsabilidade de buscar o irmão da Ana, a última coisa que eu precisava era lidar com as palhaçadas do Ferran nesse estado. Ferran precisa urgentemente ficar sóbrio, do nada, como num passe de mágica, rezando mentalmente para que algo aconteça. Mas a realidade é outra. Ele está longe de estar sóbrio e, pelo jeito, a situação só vai piorar quando Gavi aparecer e perceber o desastre ambulante que eu trouxe comigo.

— Mas que merda eu tava pensando? — Murmuro para mim mesmo, me perguntando como me meti nessa situação. Estava prestes a subir os vidros quando vejo duas silhuetas surgirem na beira do campo. Gavi, ao lado de outro garoto, ambos vestidos com trajes esportivos — meiões, shorts finos, o típico visual de quem acabou de sair de um treino ou jogo. Gavi troca um aceno rápido com o amigo e começa a se afastar, caminhando em direção ao meu carro.

𝘛𝘦𝘯𝘵𝘢𝘤𝘪𝘰𝘯Onde histórias criam vida. Descubra agora