03). Chapter three

83 13 91
                                    


Está tarde, mas não muito. Nove horas da noite para ser mais exato. Como cheguei mais cedo no trabalho, pude ser liberado mais cedo também. É a primeira vez que trabalho em um lugar que não explora tanto os funcionários, muito menos os trata como se fossem inferiores. E ainda consigo levar algumas porções que sobraram para casa. 

Joe vai adorar e tenho certeza. Às terças servimos comida japonesa e ultimamente isso têm sido a perdição de Joe. Tudo graças ao namorado dele que colocou no meu menino esse costume. 

As ruas ainda estão movimentadas. Às vezes parece que Miami nunca dorme. Eu adoro essa cidade, encontrei o meu lugar aqui. É tão diferente de Londres… Eu jurava que lá seria meu lar até morrer, porque eu amava tudo o que eu tinha. Amava minha família, os bons colegas de escola, os domingos recreativos em casa após os cultos. O fato de nossa casa sempre estar cheia dos amigos dos nossos pais e os membros da igreja. Eu era um menino de oito anos muito feliz. Sentia que nada podia me derrubar. Eu tinha tanto amor e nunca me faltou nada.

E num instante onde tudo era perfeição, se tornou caos, medo e solidão. 

Apesar da angústia presente em mim por aqueles tempos, tento preservar as boas memórias sempre. E assim criei outras por aqui, com Joe, fortalecendo a nossa família de dois. Eu adoro dizer a ele como teria crescido em um lar feliz. Ele adora ouvir sobre como nossos pais eram e nossas irmãs também. Algumas fotografias eu consegui carregar comigo. Ainda somos os Payne, afinal. Somos rachados por uma ferida que jamais será fechada, porém seguimos firmes e fortes. É uma luta diária para que isso permaneça e eu dou tudo de mim para que assim seja e…

— Não acha perigoso andar sozinho a essa hora? 

Uma voz grita. E não é a voz de um desconhecido qualquer. É a voz da mula que se tornou meu castigo. 

Quando acho que me livrei do pesadelo, ele me persegue.

Reviro os olhos e aperto os passos. Malik agora está páreo comigo, andando devagar em seu conversível, ouvindo uma música que reconheço. É de uma série chamada Euphoria. Allan For Us, eu acho. Joe adora isso. 

— O senhor não têm mais o que fazer? — questiono, sentindo meu humor positivo se esvair lentamente. 

— Te seguir se tornou o meu passatempo predileto. 

— Ate quando vai encher a minha paciência?

— Ate que aceite a minha proposta. 

Rio em sua direção. 

— Esta sonhando demais, não acha? Tome o seu rumo e esqueça que eu existo. 

— Eu só preciso de uma chance, senhor Payne. 

—  O senhor não me conhece. Aliás, quem lhe garante que eu sou gay?

— E não é? — ele ri, em desdém, como se já soubesse da resposta e isso me enfurece. 

Até parece que esse crápula é o dono da razão. 

— Minha vida pessoal não é da sua conta. Vá embora antes que eu chame a polícia. 

— O que vai contar? Que invadiu meu escritório e me agrediu fisicamente e verbalmente? 

Eu paro, indignado com seu atrevimento. 

— Eu mal te toquei. Os cubos de gelo sim! A propósito, ousaria me denunciar?

— Talvez… O que eu ganho sendo silencioso? 

— Um soco na cara, o que me diz? Eu te odeio. Não me dirija mais a palavra e saia da minha vida. 

— Teimoso e gostoso na mesma medida. Está me enlouquecendo, senhor Payne. — seu tom ameniza, como algo sofrido e acho um absurdo. 

Contrast - Ziam Onde histórias criam vida. Descubra agora