Contrast - Ziam

11). Chapter eleven

Malik e eu estávamos ligados por mais uma proposta. Tudo bem que nos tornamos mais frequentes na vida um do outro, porém gosto de pensar que isso se dá apenas pelo fato de pegar seus livros emprestados. Se vou até a cobertura dele atrás dos livros, e por ocasião acabamos na cama, já não vem ao caso. Apenas para ressaltar, seus livros me interessam mais do que os jantares, as ligações noturnas, mensagens diárias, as visitas no horário de almoço em meu restaurante —  as vezes nos beijamos no banheiro escondido do gerente, porque Andy me dá cobertura. E também têm as nossas saídas, poucas, mas têm, porque ele ainda é um homem bastante ocupado, que precisa viajar às vezes para resolver suas situações de trabalho e eu apenas um garçom, em escala seis por um, gozando de algumas novidades em minha vida, a maioria sendo proporcionadas por ele.

E apesar de tudo isso, ainda repito, se estamos nos comunicando e nos entrosando, é apenas pelo meu interesse em sua biblioteca. O sexo, a otima companhia, as risadas, momentos criados e fotos tiradas, são apenas um bônus. 

E assim os dias passaram depressa. A aguardada noite do baile chegou. Hoje saí mais cedo do restaurante e estou ansioso por essa noite. Joe também está. É tão fora da nossa realidade algo tão elegante assim. Ele foi comigo ao shopping escolher seu traje e me emocionei ao ver meu garotinho tão crescido. Seu terno será cinza, assim como o de Kit. As gravatas serão vermelhas e os sapatos marrons. Malik disse que me emprestaria algo, mas em outra noite em seu closet tinham cinco opções de trajes completos em uma arara para eu pensar. Sem contar nas malas que ele arrumou com quase metade de suas roupas só para mim. Parte delas iria para um bazar que faria da ong e a outra direto para o meu humilde guarda roupa. “Faz parte do seu glow up, babe.”, ele disse. E eu reclamei por sua teimosia, mas ele soube me dobrar com um ou dois beijos. Talvez três. Preciso ficar alerta em relação a isso e não resistir ao charme dele em momentos assim, porque acaba se tornando um perigo para mim que sou tão orgulhoso. 

E por fim, achamos que seria interessante ele usar cinza com uma gravata vermelha, enquanto eu faço o inverso. Terno vermelho com uma gravata cinza. Vai combinar com meus óculos pelo menos. Não faço questão de usar lentes, essas que Malik comprou para mim pelas minhas costas. Gosto da minha armação transparente e me sinto até mais apresentável com ela. 

Estou no ônibus agora, indo para a casa de Malik. Ele insistiu para me buscar ou pagar um carro de aplicativo, mas preferi o transporte público. Ele já estava passando quando saí do restaurante. Hoje foi um dos dias em que minha escala iniciou mais cedo, por isso saí antes das dezessete horas. Joe vai de casa e combinamos de nos encontrar por lá. 

Aproveitei o percurso para terminar a leitura do meu livro e agora estou abismado, sem saber como seguir daqui para frente. Me sinto perdido, emocionado. Ja detesto chorar, em público então chega a ser pior. Engulo essa frustração, desço em meu ponto e sigo para o seu prédio, ajeitando a minha mochila em meu ombro, que inclusive é nova. Patrocinada por ele também. 

Meus passos são rápidos e logo estou no elevador, batendo o pé de forma impaciente. Não é possível que eu tenha entendido errado? Quisera eu que fosse assim. 

E assim que as portas se abrem, me deparo com seu sorriso bonito, mas agora ele me irrita. Ele está de bermuda, sem camisa, cabelos molhados e descalço. 

— Por que fez isso comigo? — pressiono o livro em seu peito e passo por ele.

— O que aconteceu?

— Por que terminou assim? Por que ela não teve um final feliz? Por que ela não conseguiu escapar? — questiono, de braços cruzados. 

Ele se aproxima, mas me esquivo. Não quero que ele me toque.  

— Babe…

— Aí diz que é uma história real, mas eu não quero acreditar! 

Me viro, fungando como um idiota. É apenas literatura, mas me esmaga. Talvez eu tenha empatia pela história profunda que essa obra carrega.