Futuro não tão distante

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Catherine percebeu tardiamente que estava chorando, se afastando rapidamente e enxugando suas lágrimas com as costas das mãos. Ainda atordoado, o garoto ficou deitado por alguns segundos.

— M-Me desculpe, acabei me emocionando. — disse ela, fungando e depois voltando sua atenção para ele.

— Emocionando? Pelo quê? — indagou ele, se sentando e escorando suas costas contra o tronco da árvore.

A esverdeada o encarou por alguns segundos em silêncio, a criança que tinha sua idade era completamente diferente dela; o corpo dele parecia magro demais, o corpo cheio de cortes e machucados, totalmente o oposto de como um príncipe herdeiro deveria ser, entretanto, o mais surpreendente de tudo isso era o motivo de tal abandono.

"Foi porque ele mesmo quis"

Tenko não permitia que ninguém tocasse seu corpo, muito menos tentasse cuidar dele, o que acabou ocasionando nesse estado em que se encontrava. Sentindo aquele par de olhos vermelhos a encarando fixamente, lembrou-se que ainda não havia respondido a pergunta dele.

— Perdi minha mãe recentemente. — começou a Midoriya. — E esse jardim é tão belo que acabou me lembrando dela.

Internamente, ela se desculpava com a alma de sua mãe, por usar seu nome em uma mentira dessas, contudo, não podia evitar, ela precisava se aproximar o máximo possível daquele garoto se quisesse que tudo fosse dar certo em seu futuro; ela não sabia qual seria a última vez que voltaria ao palácio novamente, então teria que aproveitar bem essa oportunidade.

— Entendo... — respondeu o pequeno príncipe.

Depois disso, o silêncio pairou sobre eles e Catherine se viu inundada de pensamento de como deveria manter uma conversa com ele. Em todas as suas vidas, onde teve que fazer coisas mais terríveis que as outras, acabou se esquecendo de como era lidar com uma criança que não era seu irmão, ou então a insuportável da Estephane. No fim, ela decidiu que o trataria como um irmão mais novo, mesmo que tivessem a mesma idade.

— Você costuma dormir aqui? — perguntou, se sentando ao lado dele, apenas para vê-lo se arrastar para o lado oposto ao dela.

— É um lugar que eu costumo apreciar. — Sua voz era baixa e lenta, como se não falasse há dias.

— Entendo, é um lugar bem bonito mesmo.

O olhar da garota foi discretamente para as mãos dele, as unhas de Tenko estavam sujas de terra, o que mostrava que era ele mesmo quem cuidava desse enorme jardim, e isso justificava a ausência de empregados. Era realmente um lugar que ele apreciava de verdade. Mesmo sendo discreta, ele notou seu olhar e escondeu suas mãos, talvez fosse pelo sangue real que corria em suas veias, mas ele tinha os sentidos mais aguçados que de um adulto.

— Você perdeu sua mãe... — O olhar da criança caiu para as fileiras de hortênsias azuis, como se estivesse lembrando de algo. — Ela morreu de quê?

A Midoriya ficou surpresa com a pergunta, normalmente a serviçal que deveria acompanhar ele deveria intervir, avisando que era uma pergunta indelicada demais, entretanto, não havia ninguém e ela mesma não sabia nem se ele havia sido educado corretamente.

— Foi uma grave doença que a matou. — respondeu, honestamente.

Embora tenha ficado surpresa, ela não se importava em respondê-lo e também estavam em uma conversa informal aqui, sem títulos e a jovem dama apreciava isso, por algum motivo.

— A minha mãe também morreu. — contou, ela já sabia disso. — E fui eu quem a matou.

Ela também sabia disso.

A Amiga do Vilão - Tomura ShigarakiOnde histórias criam vida. Descubra agora