Capítulo 15

276 22 36
                                    

*Stanford Pines*

Assim que passei a ter consciência sobre o que estava acontecendo, me deparei com o Fiddleford de 30 anos atrás em meu laboratório. Seus cabelos louros e olhos cheio de vida brilhavam exatamente como antes.

-Ei, Ford, finalmente voltou! Veja só, tenho uma surpresa para você!- Disse o rapaz com um sotaque caipira.

Notei pelo reflexo de alguns metais no chão, que minha aparência também era jovem, nada de cabelos brancos ou rugas. Naquele momento eu pude sentir como se tudo fosse real.

-Uma surpresa? O que é?

O rapaz pegou um aquário onde havia um pequeno axolote dentro.

-Vou passar uns dias com minha mulher e meu menino. Não quero que se sinta só, então te trouxe um amigo para fazer companhia!

Após sua fala, eu instantaneamente me recordei desse dia. Lembro de Bill fazer com que eu me livrasse do anfíbio logo depois de Fiddleford ir embora. Mas dessa vez eu farei com que tudo seja diferente.

-Oh, eu adorei! Obrigado mesmo, Fiddleford! Vou cuidar dele como se fosse meu filho!

-Que bom que gostou! Bem, agora eu preciso ir. Volto em um semana, Ford.

Depois de Fiddle sair, olhei para o axolote e lembrei do grande Deus Axolote. Seus tamanhos eram tão diferentes que não havia comparação.

-Não vai perder seu tempo com isso, não é?- Olhei para trás e lá estava Bill em sua forma triangular, flutuando logo a minha frente.

-Não é perda de tempo e sim uma companhia.

-Oh Ford, não vê que isso irá te afastar do portal?! Acho que estava enganado em relação a você. Talvez eu deva procurar outra pessoa para passar minhas lições divinas. Alguém que realmente se importe e tenha noção de tamanha sorte.

-Me poupe, Bill! Isso foi um presente, não irei jogar fora! Dessa vez será diferente, não irá me manipular!

-Te manipular? VOCÊ está se manipulando! Ford, você tem um futuro pela frente! Fama e reconhecimento te aguardam com esse portal! Mas se deseja abandonar tudo só por conta de um animal idiota, a escolha é sua!

-Se é assim... eu escolho o Axolote!

Bill se aproximou de mim com uma expressão zangada. Não costumava contrariá-lo, pois sua forma de "castigo" era sumir por um longo período de tempo.

-Tenha certeza da bobeira que está falando.- Ele levou uma de suas mãos até meu pescoço e gentilmente acariciou. Logo as carícias passaram a ficar mais agressivas, me deixando aos poucos com falta de ar.

-Ah, Bill eu não... não estou conseguindo...

-O que houve, Ford? Não consegue respirar?- Perguntou, apertando cada vez mais forte. Tentei me distanciar, mas minhas pernas e braços estavam paralisados. Um fogo azul e frio passou a nos circular.- Você é um aprendiz bastante ingrato, já se esqueceu quem manda aqui?

-P-Porfavor me s-solte!

Meu corpo foi puxado para o chão, me fazendo ajoelhar perante Bill, que assumiu sua forma humana. Ele usou o dedo indicador para levantar meu rosto.

-Olhe para você, tão frágil e estúpido! Acha que tem o direito de negar algo para mim?- Bill se aproximou do aquário, e de forma agressiva o jogou no chão. Os cacos voaram para todos os lados, um deles cortou minha bochecha.

-Por que está fazendo isso?!- Gritei após um gemido de dor pelo corte.

Ao perceber que meu rosto sangrava, ele chegou pais perto e ussou a língua para limpar.

-É simples... Seu sofrimento me mantém entretido. Sua dor física e psicológica torna as coisas mais interessantes, não concorda?- Respondeu em um sussurro.

-Você é maluco!

-Só percebeu isso agora? Bem, deveriamos testar o meu limite.- Uma lâmina de ponta longa e afiada surgiu em suas mãos.- O quão alto você pode gritar?

-Bill, não se atreva!- Ele levou o objeto pontiagudo até minha camisa, e lentamente a rasgou.

-Que a diversão comece!

Antes que Bill acertasse meu peito, causando uma dor extrema, meus olhos se abriram e eu levantei do sofá em um pulo.

-S-Stanford?

-Onde ele está?!

-Do que você está falando?

Corri para a máquina de salgadinhos. Minhas mãos trêmulas me impediam de acertar a senha nas primeiras tentativas. Quando o elevador chegou ao laboratório, avistei Bill escrevendo no quadro negro.

-Ford? Não deveria estar dormindo?

-Deveria sim, mas pelo visto um certo demônio invadiu minha mente e me causou pesadelos!

-Eu não tenho nada a ver com isso! Estava trabalhando!

-E por que diabos eu sonharia com você me torturando?

-Não faço a mínima ideia. Seu subconscinente deve ter projetado esse pesadelo.

Bill não tem motivos para fazer esse tipo de coisa, e eu não posso acusá-lo sem provas...

-Seis dedos, por que não se acalma e volta a dormir? Posso cuidar para que você não tenha mais pesadelos.

-Não me parece uma má ideia...

Ele me levou até a cama improvisada e mandou que eu deitasse. Suas mãos tocaram gentilmente minha cabeça, e o fogo azul surgiu, porém suas chamas eram fracas. Senti meu corpo relaxar, e aos poucos meu cérebro não pensar em mais nada. Estava em um sono profundo sem sonhos ou pesadelos.

BILLFORD: Mentor intergalácticoOnde histórias criam vida. Descubra agora