Epílogo: Mensagem na Garrafa

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Momentos antes de Abyssal Voyager ter de fato alcançado sua implosão.
A escuridão que envolvia o Abyssal Voyager era total, quebrada apenas por luzes piscantes no painel de controle e o pulsar intermitente do sistema de emergência. No centro da sala de comando, Dr. Lena Halberg tremia, sua respiração ofegante ecoando no espaço metálico ao seu redor. Ela estava sozinha, o último vestígio de uma equipe agora dilacerada pela pressão mental e física das profundezas.

A implosão que havia tomado conta do submarino não foi repentina. Lena se lembrou do momento em que o Abyssal Voyager começara a sucumbir sob a força avassaladora do mar. Os tremores ressoavam como um alerta, um aviso de que a estrutura não suportaria por muito mais tempo. No entanto, antes que o colapso final ocorresse, algo a havia empurrado para a sala de controle, como se uma força invisível quisesse que ela registrasse seu último testemunho. E agora, ao olhar para as telas, a realidade da situação tornava-se cada vez mais opressiva.

Todos os outros haviam desaparecido nas profundezas. Alguns, levados por suas próprias mentes quebradas, outros arrastados pelo mar, incapazes de suportar o que tinham testemunhado. O Abyssodon, a entidade que habitava o abismo, os cercava de maneiras que desafiavam a lógica. A pressão parecia vir não apenas do oceano, mas da presença invisível da criatura, que fazia o próprio mar curvar-se à sua vontade.

A mente de Lena oscilava entre a lucidez e o delírio. Ela sabia que precisava deixar um registro, algo que pudesse alertar o mundo, que pudesse servir de advertência. Mas seria o suficiente? A humanidade ouviria seu aviso, ou continuaria a explorar os confins da Terra, cavando cada vez mais fundo, até despertar algo ainda mais terrível?

Com dedos trêmulos, ela começou a gravar sua última mensagem, mesmo sabendo que o tempo se esgotava rapidamente.

“Aqui é a Dra. Lena Halberg, última sobrevivente da expedição Abyssal Voyager. Se esta gravação chegar a algum lugar, saibam que fomos longe demais. O que descobrimos no fundo do Pacífico... não é apenas uma criatura. É uma força que desafia toda a nossa compreensão. Abyssodon, como o chamamos, não é simplesmente um ser orgânico. Ele é uma manifestação do que não podemos entender... talvez do que nunca deveríamos tentar compreender.”

Ela parou, sentindo o submarino tremer ao seu redor. O som familiar – aquele som profundo e rítmico, como o bater de um coração titânico – ressoava, cada vez mais perto.

“O som... o som foi o começo. Achamos que era uma simples anomalia acústica, um fenômeno marinho. Mas agora sei que é um eco. Um eco de algo que esteve aqui muito antes de nós. Algo que vai permanecer muito depois. Não sei se haverá salvação para nós, para a Terra. Talvez já seja tarde. Talvez o que encontrarmos lá embaixo seja o reflexo de nossa própria destruição.”

As luzes do painel piscavam mais uma vez, e a energia começava a falhar. O ar começava a rarear. Restava pouco tempo.

“Se alguém ouvir isto, por favor... parem. Parem de escavar, de explorar as profundezas. Não podemos lidar com o que está lá. Alguns segredos são feitos para permanecer enterrados, no fundo do abismo. E esse... esse é um deles. O oceano não é apenas um vasto corpo d'água. Ele é um portal, uma fronteira para algo muito mais antigo, algo que nunca deveria ter sido tocado.”

Ela olhou para a cápsula de dados, selada e pronta para ser liberada. Era sua única esperança de que a mensagem sobrevivesse, que o aviso pudesse chegar à superfície, mesmo que ela não conseguisse. Lena segurou o dispositivo, sentindo o peso do conhecimento proibido.

“Abyssodon... ele está acordado. E agora... estamos à sua mercê. Não há como escapar. Adeus.”

Com um último suspiro, Lena Halberg acionou o botão de liberação. A cápsula de dados foi ejetada para o oceano, desaparecendo nas correntes. Ela a observou por alguns momentos, sua última esperança flutuando para a superfície, enquanto o som – o Bloop, o batimento profundo e final da criatura – ressoava novamente.

Foi então que tudo desmoronou. A pressão externa, já insuportável, atingiu um pico aterrorizante. O submarino começou a ceder, as paredes vibrando e gemendo sob a força do abismo. Naquele instante de horror, Lena percebeu que o som não era apenas um sinal de sua ruína, mas uma orquestração do Abyssodon, manipulando o ambiente ao seu redor.

A última coisa que Lena viu antes da escuridão total tomou conta foi o oceano, vasto e incompreensível, como um véu que esconde horrores inomináveis nas suas profundezas insondáveis.

O Abyssal Voyager afundou silenciosamente, tragado pelo abismo que guarda segredos insondáveis, enquanto a cápsula de dados subia, um testemunho perdido do terror que aguardava abaixo.

Anos mais tarde, em uma costa distante e esquecida, pescadores encontrariam uma estranha cápsula nas redes, corroída pelo tempo e pela água salgada. Ao abri-la, ouviriam as últimas palavras de Lena Halberg, um eco da insanidade que se espalharia como um sussurro nas margens do entendimento humano. E assim, o aviso de Lena seria deixado ao vento, uma mensagem que talvez, ou talvez não, fosse ouvida antes que fosse tarde demais.

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⏰ Última atualização: Sep 25, 2024 ⏰

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Abismo dos Ecos Perdidos: Abyssodon - ByLiFearOnde histórias criam vida. Descubra agora