3. Ecos do Abismo

0 0 0
                                    

O Abyssal Voyager continuava seu trajeto pelas profundezas escuras e inexploradas do Pacífico Sul. A cada mergulho que a equipe realizava, mais se distanciavam do mundo conhecido, mergulhando em um reino de sombras e mistérios. Os instrumentos a bordo, calibrados para detectar e analisar os mais sutis fenômenos acústicos, agora captavam uma cadência que parecia quase deliberada, como se o próprio abismo chamasse por eles, uma canção sombria ecoando nas profundezas.

A Dra. Lena Halberg passava horas diante dos monitores, ouvindo e reouvindo os ecos captados, tentando decifrar padrões ou mensagens ocultas. Os sons eram diferentes de tudo o que a ciência conhecia; não eram as canções das baleias, nem o cricrilar dos crustáceos, mas algo profundamente alienígena, algo antigo e imensamente poderoso que pulsava no silêncio do mar.

A equipe de geologia submarina, liderada pelo Dr. Emilio Sanchez, também começou a notar anomalias inquietantes. As formações rochosas nas proximidades da área de investigação não correspondiam às típicas estruturas vulcânicas ou sedimentares conhecidas. Eram irregulares, com ângulos que desafiavam a lógica, como se esculpidas por mãos gigantescas ou moldadas por uma força desconhecida e colossal. O desconforto crescia entre os membros da equipe, enquanto tentavam racionalizar o que estavam testemunhando.

A bióloga marinha, Dra. June Kowalski, tentava catalogar as criaturas que ocasionalmente passavam pelos holofotes do submarino, mas muitas delas escapavam às tentativas de classificação. Eram seres de formas bizarras, com múltiplos olhos que brilhavam com uma luz própria, e movimentos que sugeriam uma inteligência perturbadora, como se cada criatura estivesse ciente da presença dos exploradores humanos.

À medida que se aprofundavam, incidentes estranhos começaram a ocorrer. Equipamentos falhavam sem explicação aparente, e alguns membros da tripulação relatavam ter visto figuras fugidias nas sombras, acompanhadas por sussurros que pareciam vir das paredes do submarino, palavras incompreensíveis carregadas de uma ansiedade primordial. O medo começava a se instalar, uma tensão palpável que fazia cada um questionar não só a missão, mas também sua própria sanidade.

Numa noite particularmente sombria, quando a única luz vinha dos instrumentos piscando ritmicamente, um eco particularmente forte sacudiu o casco do Abyssal Voyager. Todos a bordo sentiram como se uma mão gigantesca tivesse tocado a embarcação. A Dra. Halberg, com a respiração suspensa, ajustou os sensores para ampliar o som, seu coração acelerando com a expectativa e a apreensão.

O que eles ouviram não foi um ruído qualquer, mas uma vibração profunda e ressonante que parecia carregar consigo a tristeza e a fúria de um deus esquecido. Era um som que não apenas se ouvia, mas que se sentia, reverberando através das estruturas ósseas e do mais íntimo do ser, uma chamada do abismo que ressoava em suas almas.

Os dias seguintes foram consumidos por uma investigação frenética. A equipe enviou drones ainda mais profundos, que retornavam com imagens de estruturas que pareciam artificiais, arranjos de pedras gigantescas que evocavam os círculos de Stonehenge, mas situados nas profundezas de um oceano onde a luz do sol jamais alcançava. O caráter inexplicável daquelas formações alimentava a paranoia crescente.

A teoria que começava a se formar na mente da Dra. Halberg era tão extraordinária quanto aterradora: estariam eles explorando não apenas uma região geológica desconhecida, mas um local de culto ou um monumento criado por — ou para — algo muito além da compreensão humana. A presença que sentiam, cada vez mais palpável, talvez fosse um guardião ou mesmo a própria entidade adorada nas eras imemoriais. E agora, despertada pelo intrusivo zumbido dos motores humanos, começava a se manifestar.

Abismo dos Ecos Perdidos: Abyssodon - ByLiFearOnde histórias criam vida. Descubra agora