PRÓLOGO

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                 ▶️ Lança Perfume - Rita Lee, Roberto De Carvalho

Na casa de uma amiga, uma mulher morena e bronzeada contava sobre suas férias.
— E aí, como foram as férias?
— Ai, foi incrível!
— Foi, é? Conta tudo.
— Eu conheci uma gata!

Na rua, falando no celular, outra mulher também morena, mas mais magra e de pele mais clara, também dizia:
— Foi a melhor semana da minha vida.

No trabalho, conversando com sua amiga, outra mulher alta e loira falava:
— Ah, foi só uma paixãozinha de férias.

No salão de beleza, uma mulher negra contava para a manicure.
— Mas ela era uma gracinha.

Enquanto atendia uma paciente, a dentista, que parecia ser filipina, falava…
— Ela me levou em cada lugar tão legal!

No trabalho, a mulher loira voltava a falar.
— Mergulhamos com tanque…

A no celular.
— Sem tanque…

No salão de beleza.
— Nós escalamos…

Uma mulher morena, de olhos puxados e um pouco mais baixa, vestindo um jaleco branco, engavetava um corpo num necrotério enquanto conversava no celular.
— Fizemos rappel… Caramba, foi sensacional! Eu gostei muito dela.

Outra mulher, agora mais velha, também falava ao celular enquanto dirigia.
— É que bebemos um pouquinho mais.

A morena do início ainda conversava no celular enquanto andava na rua.
— Ela fez massagem nas…

E a dentista.
— Minhas costas…

A primeira na casa da amiga.
— Dançamos…

E no salão de beleza.
— Na chuva.
Um coro das mulheres ali respondeu:
— Owwnn!

A loira continuava com os outros colegas de trabalho.
— Não foi um lance só de sexo.

E a perita agora se preparando para abrir outro corpo, colocava no viva-voz enquanto seguia falando.
— Nós não temos nada uma com a outra, a gente só ficou transando.
Deu uma risadinha.

E a morena na casa da amiga, agora finalizava sua história de cenho franzido ao lembrar.
— Só que terminou meio estranho…

A loira fazendo o mesmo…
— Quando pedi o número, ela disse que era…

A morena andando na rua com seu celular finaliza.
— Casada.

E dentista novamente.
— Hétero.

No salão.
— Que era seminarista.

Uma outra mulher, loira e bombeira, no meio do trabalho conversando com sua amiga.
— Que não acredita em celular.

A mulher mais velha no carro.
— Ela simplesmente desapareceu.

A morena na casa da amiga ainda continuou.
— Eu sei que a gente só ficou, mas…

E a loira no serviço.
— Nunca vou esquecer essas férias…

A bombeira, de cabelos loiros um pouco mais escuros, termina.
— Com Natália Cardoso.

E na rua com o celular.
— Natália Cardoso.

No carro.
— Natália… Natália Cardoso.

A perita.
— Natália Cardoso.

No salão.
— Natália Cardoso…

Um homem aleatório que também falava no celular.
— Natália Cardoso.

A dentista.
— Natália Cardoso. 

                                            ~Fernando de Noronha~

No píer da praia uma mulher de cabelos castanhos, que voavam com o vento, e alta, corpo de modelo, dizia:
— Natália Cardoso, por que não disse que era agente secreta?
E agora Natália a respondeu.
— Eu prefiro operativa de inteligência… E eu não ia contar até poder confiar em você.
Cardoso tinha os cabelos presos num coque alto, uma saída de banho azul que balançava com o vento como os cabelos da sua última amante e cobria o biquíni branco e os óculos escuros. A mulher à sua frente cruzou os braços.
— Posso ligar quando você aterrizar.
— Pode ligar, mas eu estarei no Peru. Ih, falei alto demais. - Olhou para os lados. — Pera aí, pera aí, pera aí. - Aproximou a boca do relógio em seu pulso. — Câmbio, temos um sete um código azul. - A outra olhava sem entender nada. — Pegamos o lobo marcando toca com o braço direito na cumbuca e está saindo com biscoito, entendido? Okay, astevariscatoris azeres, bye bye, priiiii.
Fingiu que desligou e ela insistiu. 
— Posso ligar quando você voltar do Peru.
— Essa não é uma opção, Lígia.
— Lisa.
— Eu sei, eu troquei seu nome pra sua proteção.
Voltou a olhar para os lados e voltou até o rosto de Lisa.
— Ah…
— Agora os nossos caminhos se separam, linda.
Ela deu um passo à frente.
— Então… - E foi se aproximando de Natália. — Adeus.
Mas antes de conseguir beija-la, Cardoso voltou a falar no relógio.
— Entendido, a caminho!
E simplesmente saiu correndo antes dos lábios se tocarem, deixando Lisa parada, olhando sem entender. Na hora estava passando um jet ski e ela pulou em cima na parte de trás do banco, soltando um grunhido de dor quando sentou. A mulher que estava dirigindo olhou para trás, se assustando.
— Pera aí, o que é isso??!
Natália respondeu com um pouco de dificuldade.
— Acelera aí que eu te dou cem conto.
A mulher apenas voltou a olhar para frente rindo. 
— É pra já. Doendo muito aí embaixo?
— Pra caramba. Vai, acelera.
Deu três tapinhas nas costas dela, que acelerou e então Natália se virou para trás levemente, acenando para Lisa que de maneira apaixonada e suspirando abanou mais lentamente de volta enquanto Cardoso se afastava no mar.

Como Se Fosse a Primeira Vez • narolOnde histórias criam vida. Descubra agora