O que seriam dezesseis anos, em geral?
Dezesseis anos é a idade que os jovens começam a ir à festas, conhecer lugares novos e se apaixonar pela primeira vez.
Tem pessoas que se casam aos dezesseis, outros tem filhos, e alguns até morrem.
Pode-se dizer que dezesseis anos já é uma vida, uma grande história para ser contada.
Entretanto, existe Christofer Vilar, um loiro dos olhos azuis em seus dezesseis anos que nasceu e cresceu em Santa Maria.
O ano era de 2004. As calças coloridas e apertadas de cintura baixa ainda faziam sucesso, os amigos adoravam passar horas trocando mensagens pelo MSN, outros ficavam presos em frente às televisões no canal MTV Brasil para assistir os clipes de Britney Spears ou do Eminem, já os casais apaixonados iam ao cinema para assistir o mais novo filme do homem aranha do Tobey Maguire.
Mas Christofer? O garoto que cresceu na simplicidade só tinha um sonho: Ser um grande médico, e sua inspiração estava estampada nas revistas Cremers, aquelas que ele contava as moedas para comprar e passava tantas horas lendo e revirando com paixão.
Sua inspiração tinha nome: Marcela Watanabe. Nascida e crescida em Porto Alegre, Marcela era filha de uma imigrante japonesa que casou-se com um brasileiro. Criada nos subúrbios metropolitanos, a jovem teve de se esforçar muito para alcançar seus objetivos, tornando-se então naquela época uma neurocirurgiã com muita influência na medicina. E nos seus 32 anos, conseguiu dar abertura ao seu mais importante projeto: A clínica de saúde Monte Belo.
Era esse quem Christofer tinha como exemplo, essa quem ele queria ser quando crescer: Alguém que desafiou os paradigmas para alcançar seus sonhos. Lutou, correu e se esforçou. As gotas de suor tiveram recompensas.
Se ela pôde, ele também podia. Tinha consciência que para ele poderia ser ainda mais fácil, tendo coisas como raça e gênero ao seu favor.
Entretanto sua admiração por Marcela podia beirar ao que chamamos de... Primeira paixão.
Estava debruçado sobre seus lençóis junto com alguns cadernos e livros que usava para revisar uma matéria, mas primeiro estava relendo mais uma vez uma edição antiga da Cremers que contava um pouco sobre uma das pesquisas de Marcela e sobre a inauguração de sua clínica. Enquanto isso seu amigo, Rafael, jogava Need for Speed em seu Playstation 2. Soltou um suspiro frustrado, largando o controle sobre a cama.
— Porra, Chris! Eu trouxe o play pra gente jogar e tu só sabe ficar babando nessa merda de mulher — ao falar isso, arrancou a revista das mãos do loiro, que o lançou um olhar amaldiçoado. — Se ainda fosse uma playboy, mas é só gente de jaleco — folheou, passando os olhos sobre as imagens sem um real interesse.
Christofer se levantou da cama em um pulo, pegando a revista de volta.
— Se você olhasse além da aparência, talvez não fosse tão chifrudo como é — resmungou, tentando encontrar novamente a página que estava lendo sobre Marcela.
Rafael sentiu que deveria se ofender, mas só deu risada, apoiando o queixo sobre a palma da mão.
— Me lembra o motivo da fascinação pela japinha mesmo?
— "Não é sobre ser mais forte ou mais inteligente, é sobre saber onde você quer chegar e nunca parar de caminhar até lá." — Chris repetiu as palavras dela quando a perguntaram sobre como conseguiu financiamento para abrir sua primeira clínica. — Tu entende, Rafa? Não é só um rostinho bonito, é uma mulher de valor. Ela era gente como a gente, mas isso não a impediu de chegar longe. É isso o que eu quero pra mim, pra minha vida.
O moreno suspirou, espreguiçando-se e bocejando.
— Tá... Eu entendi do teu sonho de ser médico e tals... Só tô falando que tu só tem dezesseis anos e tudo bem viver um pouquinho, sabe? Essa fase não volta nunca mais e se tu a perder agora, vai surtar antes dos vinte. Tenho certeza que até a Doutora Japinha aproveitou a adolescência dela.
— Para de chamar ela assim, e se eu não fizer nada agora, vou ficar para trás — baixou a cabeça para encarar o rosto de Marcela estampado no papel couchê. Aquele sorriso vitorioso.
Marcela Watanabe era mais que uma paixão de adolescência, ela era sua inspiração e motivação. Ela o fazia acreditar, o ajudava a se levantar da cama com um propósito e sonho.
Rafael voltou a falar, arrancando Chris de seu devaneio.
— Cê não vai ficar para trás. Você estuda dia e noite, todos reconhecem seu esforço de longe. Agora, antes que você frite, dá uma atenção pro seu véio? — Em sua mão tinha um segundo controle.
Revirando os olhos, Christofer deixou a revista de lado, pegando o controle.
— Tá...
— Aí sim, Doutor! E se esforça um pouco, pois vou ganhar, viu?
— Vai sonhando, bicho.
E uma nova partida de Need For Speed começou. Enquanto os dois jogavam concentrados, Rafael ainda queria conversar:
— Mas e aí, qual o plano pra casar com a Doutora Japinha?
— Já falei pra parar de chamar ela assim. E eu não sei, vejo isso quando for morar em Porto Alegre.
Uma risada cínica saiu do fundo da garganta de Rafael.
— Mentira! Eu perguntei brincando, mas você realmente tem isso em mente?
A sombra de um sorriso tomava os lábios do loiro, que deu de ombros.
— Sempre sonhar grande, não é?
— Ela não é tipo... Dezesseis anos mais velha que você?
— Panela velha que faz comida boa. Espere mais dois anos, Marcela, e eu irei até você.
Rafael continuou rindo, mas seu coração fora tomado por uma sensação de alívio. Seu amigo estava sempre tão sério e concentrado, que quando agia como um adolescente qualquer, parecia até canção para seus ouvidos.
— Sabe... Muitas vezes fico achando que vou morrer solteiro, depois dos trezentos e quarenta e um chifres. Mas quando vejo você doido por uma mulher dezesseis anos mais velha, penso que talvez o amor da minha vida nem tenha nascido ainda.
Christofer parou de apertar o controle para encarar seu amigo. Uma careta retorcida em desgosto.
— Que horror, Rafael! — Deu um soco em seu braço. — Nunca mais me vem com esses papos esquisitos.
Rafael continuou rindo, não ligando para a indignação do amigo.
De repente alguém abre a porta do quarto sem bater. Era Lúcia, mãe de Christofer.
— Meu filho, você nem sabe! — A mais velha parecia animada.
O garoto revirou os olhos, bufando.
— Mãe! Eu já falei pra bater antes de entrar!
— Isso é mais importante! Tu não vai acreditar o que acabou de passar no jornal do almoço, é sobre aquela mulher japonesa que tu gosta!
As batidas cardíacas de Christofer foram errôneas nos segundos seguintes, quase como se tivesse tropeçado. Virou-se em direção da mãe.
— O que aconteceu? — Questionou, ansioso.
Um grande sorriso nasceu nos lábios da mulher.
— Você sabia que ela estava grávida? Ela acabou de ter um bebê!
E Christofer caiu duro no chão.
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Amor em Plantão
RomansaGabriela Watanabe, a jovem e rica herdeira do renomado Hospital Monte Belo em Porto Alegre, filha de uma das mulheres mais influentes na medicina da época. Teria um futuro promissor, se não fosse por sua aversão pela medicina que afastava do seu leg...