Capítulo 2 - A espera do sinal.

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Era 8 da manhã, em um sábado nublado. Antônio estava fazendo compras para o café da manhã, percorrendo os corredores do mercado com sua lista em mãos. Tudo estava indo conforme o planejado. Após pagar suas compras, ele saiu do mercado com sacolas em mãos, pronto para mais um dia.

Enquanto caminhava de volta para casa, Antônio notou uma garota negra de cabelo liso, vestindo um moletom roxo, que parecia segui-lo. A princípio, ele pensou que fosse coincidência, mas à medida que ele andava, a sensação de ser seguido aumentava. A tensão se instalou, e Antônio começou a se movimentar mais rápido, olhando discretamente por cima do ombro.

A garota, percebendo a pressa de Antônio, acelerou o passo. Sentindo o perigo, Antônio começou a correr, suas sacolas balançando descontroladamente. A garota não hesitou e começou a correr atrás dele.

Antônio entrou em um dos becos da comunidade, sua mente correndo tão rápido quanto seus pés. Ele começou a andar em zigue-zague, tentando despistar a garota que parecia determinada a alcançá-lo. Passaram-se alguns minutos de perseguição intensa, até que Antônio, por um breve momento, conseguiu despistá-la.

Pensando que havia se livrado dela, Antônio entrou em um beco sem saída, respirando pesadamente. Mas sua esperança foi curta. A garota apareceu na entrada do beco, os olhos fixos nele.

Antônio encostou-se à parede, sem saída. A garota parou alguns metros à sua frente, também respirando com dificuldade. Houve um momento de silêncio tenso antes que a garota quebrasse o gelo.

"Espere," disse ela, levantando uma mão como um gesto de paz. "Eu não quero te machucar."

Antônio olhou para ela com desconfiança. "Então por que está me seguindo?"

"Eu precisava falar com você," respondeu a garota, dando um passo hesitante à frente. "Meu nome é Safira."

A desconfiança de Antônio diminuiu um pouco, mas ele ainda estava cauteloso. "O que você quer, Safira?"

"Eu estava do lado de fora do bar ontem à noite," explicou Safira. "Vi você, João e os outros. Preciso saber qual é a relação de vocês com João e por que ele estava lá."

Antônio franziu a testa, intrigado. "Por que isso te interessa tanto?"

Safira respirou fundo antes de continuar. "Eu faço parte de uma gangue. João era o líder da nossa gangue até algum tempo atrás. Ele decidiu abandonar toda aquela vida de crimes e fugiu, sem dar explicações. João era um dos membros mais importantes da nossa 'família'. Quando ele simplesmente sumiu, isso nos deixou desestruturados. Eu me sinto indignada que ele tenha abandonado todos nós sem uma palavra."

Antônio ficou em silêncio por um momento, assimilando a revelação. "Isso é sério. Então, você quer saber o que ele está fazendo agora e por que estava no bar ontem à noite?"

Safira assentiu. "Exato. Preciso entender por que ele voltou, se é que voltou. E preciso saber se ele é uma ameaça para nós."

Antônio respirou fundo, sentindo o peso da situação. "Olha, eu realmente não sei muito sobre o passado de João. Mas se ele está tentando deixar essa vida para trás, deve haver uma boa razão. Não acho que eu possa ajudar muito."

Safira estreitou os olhos, sua expressão ficando sombria. "Você não está entendendo. Eu não estou pedindo. Se você não me ajudar, vou garantir que seu bar nunca mais abra. E, acredite, eu posso fazer isso acontecer."

Antônio engoliu seco, mas manteve a firmeza na voz. "Desculpe, mas não posso ajudar. Não vou me envolver em algo que não entendo completamente e que pode colocar em risco as pessoas que frequentam meu bar."

Safira deu um passo à frente, ameaçadora. "Você está cometendo um grande erro, moleque. Pense bem nas consequências de se recusar a me ajudar."

Antônio segurou o olhar dela, tentando não demonstrar medo. "Já tomei minha decisão. Mas quero que saiba de uma coisa: se tentarem algo contra mim ou contra meu bar, vou reagir. E, acredite, posso fazer pior do que você imagina."

Safira ficou em silêncio por um momento o encarando com um olhar frio . "Isso não acabou. Vou te dar um tempo para reconsiderar. Mas lembre-se, estou de olho em você."

Antônio assentiu, ciente de que a ameaça de Safira era real e que ele poderia estar se metendo em algo muito maior do que imaginava.

Com um suspiro profundo, Antônio saiu do beco, retomando seu caminho para casa. As compras agora pareciam mais pesadas, não pelas sacolas, mas pelo peso das novas preocupações que carregava.

Ao chegar em casa, Antônio jogou as sacolas no balcão da cozinha e se sentou no sofá, tentando processar tudo o que havia acontecido. Colocou um disco de jazz para tocar, na esperança de acalmar os nervos. Mas sua mente estava em João, Safira e a gangue.

Ele sabia que precisava falar com João o mais rápido possível e entender a gravidade da situação. Se algo acontecesse ao seu bar ou às pessoas que amava, ele não se perdoaria.

Enquanto isso, João andava sem rumo pelas ruas de Fortaleza, ainda pensando em Karen. Ele queria vê-la novamente, mas também sabia que precisava lidar com seus próprios demônios antes de se envolver mais.

E assim, com os caminhos entrelaçados e o perigo à espreita, o dia nublado em Fortaleza prometia revelações e desafios para todos.

Antônio sabia que Safira não estava blefando, mas também não queria colocar a vida de alguém que ele nem conhecia em risco. Com o passar do tempo, a tensão acumulada começou a pesar sobre ele, e ele percebeu que precisava de ajuda para lidar com a situação.

Antônio pegou o telefone e discou o número de Pedro. Depois de alguns toques, Pedro atendeu com uma voz sonolenta.

"Alô?"

"Pedro, é o Antônio. Preciso que você venha até a minha casa, é urgente"

Pedro imediatamente percebeu a seriedade na voz de Antônio. "Tudo bem, vou para aí agora."

Menos de meia hora depois, Pedro chegou à casa de Antônio. Ele entrou rapidamente, preocupado com o tom da ligação.

"O que aconteceu, Antônio?" perguntou Pedro, sentando-se no sofá ao lado dele.

Antônio respirou fundo e começou a explicar a situação. "Hoje de manhã, uma garota chamada Safira me seguiu quando eu estava saindo do mercado. Ela faz parte de uma gangue e disse que João, o motoqueiro que estava ontem no Serenata era o líder dela antes de desaparecer. Agora, ela quer saber o que João está fazendo aqui e por que ele estava no bar ontem à noite."

Pedro franziu a testa. "E o que ela quer que você faça?"

"Ela quer que eu a ajude a encontrar João e entender o que ele está fazendo. Quando me recusei, ela me ameaçou. Disse que se eu não ajudar, vai garantir que meu bar nunca mais abra."

Pedro ficou em silêncio por um momento, absorvendo a informação. "E o que você quer fazer?"

Antônio suspirou. "Não quero colocar ninguém em risco, especialmente você e a Clara. Mas também não posso deixar que ela e a gangue dela façam algo contra o bar ou contra qualquer um de nós."

Pedro assentiu. "Entendo. Acho que a primeira coisa que precisamos fazer é encontrar João e falar com ele. Precisamos saber a versão dele da história e o que ele planeja fazer."

Antônio concordou. "Sim, isso faz sentido. Vamos tentar encontrá-lo o mais rápido possível. Mas precisamos ser cuidadosos. Safira e a gangue dela podem estar nos observando."

Pedro franziu a testa, ponderando sobre o que tinham acabado de discutir. Antes de saírem da casa, ele fez uma pausa e perguntou: "E se não encontrarmos João? Qual é o plano B?"

Antônio respirou fundo, o peso da situação refletindo em sua expressão. "Se não encontrarmos João, teremos que recorrer aos nossos métodos antigos. Não podemos deixar que Safira e a gangue dela pensem que podem nos ameaçar impunemente."

Pedro ficou em silêncio por um momento, a memória de tempos mais sombrios voltando à sua mente. "Antônio, você sabe que eu odiaria recorrer à violência novamente. Passamos por muita coisa para deixar essa merda para trás."

Antônio assentiu, compreendendo a relutância do amigo. "Eu sei, Pedro. Também não quero isso. Mas se for necessário para proteger nossas vidas e o Serenata, não teremos escolha. Precisamos estar preparados para qualquer coisa."

Pedro suspirou profundamente, a tensão claramente visível em seu rosto. "Tudo bem. Concordo com você. Se não tivermos outra opção, faremos o que for necessário. Mas vamos tentar resolver isso da maneira mais pacífica possível antes de chegarmos a esse ponto."

Antônio colocou a mão no ombro de Pedro, em um gesto de apoio. "Obrigado, Pedro. Vamos encontrar João e ver o que ele tem a dizer. Com sorte, não precisaremos recorrer a essa medida."

Pedro franziu a testa novamente e perguntou: "Mas como exatamente vamos encontrar João? Não temos ideia de onde ele possa estar."

Antônio refletiu por um momento antes de responder. "Se João não aparecer no bar esta noite, temos outra opção. Podemos recorrer a Karen. Ela tem uma certa intimidade com ele e é uma cliente frequente do bar. Talvez ela saiba onde encontrá-lo ou pelo menos nos dê uma pista."

Pedro assentiu lentamente. "Isso faz sentido. Karen parecia ter uma ligação com João ontem à noite. Ela pode ser nossa melhor chance de encontrá-lo sem causar alarde."

Antônio concordou. "Exato. Vamos esperar e ver se ele aparece no bar hoje. Se não, falamos com Karen. Ela pode nos ajudar a resolver isso antes que a situação piore."

Pedro olhou para o relógio, calculando o tempo que tinham até o bar abrir novamente. "Temos algumas horas até a noite. Vamos nos preparar e esperar pelo melhor, mas estar prontos para o pior."

Antônio deu um tapinha no ombro de Pedro. "Isso mesmo. Vamos enfrentar isso juntos, como sempre fizemos."

Com um plano em mente e a determinação renovada, os dois amigos se separaram para se preparar para a noite que viria. O destino de todos parecia estar em uma delicada balança, e encontrar João era a chave para restaurar o equilíbrio e garantir a segurança de todos.

12:00
Residencial Tulipas

João estava em seu apartamento, um refúgio que ele havia encontrado no Residencial Tulipas. Apesar de sua aparência de amante do rock, ele sempre teve um gosto eclético para a música, apreciando especialmente a música brasileira. Naquele momento, ele estava ouvindo Tim Maia, uma de suas maiores paixões musicais. A música "Que Beleza" tocava suavemente, preenchendo o apartamento com suas vibrações positivas.

O refrão da música sempre o fazia lembrar de uma pessoa em especial: Karen. Desde o encontro no bar na noite anterior, ela não saía de seus pensamentos. Seu sorriso, o jeito que o olhava, tudo parecia perfeito demais para ser real. Ele se perguntava como uma garota como Karen havia entrado em sua vida de maneira tão inesperada e o quanto isso estava mexendo com ele.

Enquanto a música continuava, João pegou uma foto que tinha em uma pequena mesa ao lado do sofá. Era uma foto antiga de sua época na gangue, antes de decidir abandonar aquela vida de crimes e buscar uma nova direção. Ele havia feito muitos inimigos, e a possibilidade de Safira ou outros membros da gangue o encontrarem o deixava apreensivo. Ele sabia que sua decisão de sair sem explicações deixara muitas questões em aberto, mas ele simplesmente não podia continuar naquele caminho.

Perdido em seus pensamentos, João se levantou e foi até a janela, olhando para a vista da cidade. Fortaleza, com suas praias e vida agitada, era o lugar onde ele esperava reconstruir sua vida. Ele sabia que precisava resolver sua situação com a gangue, mas não sabia como fazer isso sem colocar Karen ou outras pessoas inocentes em risco.

A música de Tim Maia continuava tocando, enchendo o ambiente de uma tranquilidade momentânea. João fechou os olhos por um instante, permitindo-se apenas sentir a música. Ele sabia que tinha decisões difíceis a tomar, mas por agora, apenas por um breve momento, ele queria se perder na melodia e na lembrança de Karen, a única coisa boa que havia surgido em sua vida ultimamente.

Enquanto isso, Antônio e Pedro estavam se preparando para a noite, esperando encontrar João e resolver a situação antes que escalasse. A rede de eventos estava se entrelaçando, e cada movimento feito naquele sábado nublado poderia mudar o curso de muitas vidas em Fortaleza.

14:00
Apartamento Comfort

Gabriel acordava naquele momento, sentindo os efeitos de uma forte ressaca. A dor de cabeça era intensa, e ele lutava para se levantar da cama. Com passos lentos e vacilantes, ele se dirigiu ao banheiro, precisando urgentemente de um pouco de água fria no rosto para recobrar a consciência.

Depois de alguns minutos no banheiro, Gabriel finalmente se sentia um pouco melhor. Ele olhou seu reflexo no espelho, observando os olhos vermelhos e o rosto abatido. "Nunca mais vou beber tanto assim," murmurou para si mesmo, sabendo bem que provavelmente repetiria o mesmo erro no futuro.

Com o corpo e a mente um pouco mais revigorados, ele saiu do quarto e foi em direção ao apartamento de Alexandre. Ao chegar na porta, Gabriel bateu algumas vezes. "Alexandre? Está acordado?" perguntou, esperando uma resposta.

Após alguns segundos, Alexandre abriu a porta, parecendo tão mal quanto Gabriel. "Bom dia," disse Alexandre, com um tom sarcástico. "Ou devo dizer boa tarde?"

Gabriel deu uma risada fraca. "Acho que boa tarde é mais apropriado. Como você está depois de toda a bebedeira de ontem?"

Alexandre suspirou, esfregando as têmporas. "Sinto como se um caminhão tivesse passado por cima de mim. Preciso de um café forte e talvez algo para comer. Vamos descer até o café do hotel?"

Gabriel assentiu. "Boa ideia. Acho que um café vai fazer maravilhas agora."

Os dois amigos desceram até o café do hotel, onde pediram cafés bem fortes e alguns pães para tentar acalmar os estômagos revoltados. Sentaram-se em uma mesa perto da janela, de onde podiam ver a praia de Fortaleza ao longe.

Enquanto tomavam seus cafés, Gabriel não conseguia tirar Clara da cabeça. A imagem dela tocando saxofone no bar ainda estava vívida em sua mente. "Sabe, Alexandre, não consigo parar de pensar na Clara. A garota do saxofone. Ela tem algo especial."

Alexandre sorriu, tentando aliviar a tensão da conversa. "Parece que alguém está apaixonado. Vai fazer algo a respeito?"

Gabriel deu de ombros. "Não sei. Talvez. Primeiro, preciso me recuperar dessa ressaca. Mas definitivamente quero vê-la de novo."

Alexandre assentiu, compreendendo o amigo. "Vamos dar um jeito nisso. E talvez hoje à noite a gente possa voltar ao bar. Quem sabe ela não esteja por lá novamente?"

Gabriel concordou, sentindo-se um pouco mais animado com a perspectiva. "Sim, talvez seja uma boa ideia. Só precisamos pegar mais leve na bebida desta vez."

Os dois amigos riram, tentando afastar a ressaca e a dor de cabeça com a conversa leve e o café quente. A tarde avançava, e ambos sabiam que a noite traria novas possibilidades e encontros.

Passou-se um tempo e Alexandre estava se preparando para sair do quarto quando ouviu uma batida na porta. Ele abriu e encontrou um dos empregados do hotel, um jovem de uniforme impecável.

"Senhor Alexandre, tem uma ligação para o senhor na recepção," informou o rapaz, com um tom respeitoso.

Alexandre, intrigado, agradeceu e seguiu o empregado até a recepção do hotel. Pegou o telefone que o recepcionista lhe entregou e disse: "Alô?"

"Alexandre, é a mamãe," disse a voz preocupada do outro lado da linha. "Seu pai precisa iniciar um tratamento árduo e trabalhoso daqui a alguns dias. Ele gostaria de ver você antes de ir para longe fazer o tratamento."

Alexandre sentiu um aperto no peito. Seu pai estava lutando contra o câncer há algum tempo, e o pensamento de que ele poderia estar piorando o preocupava profundamente.

"Eu vou, mãe. Vou vê-lo," respondeu Alexandre, tentando manter a voz firme.

"Obrigado, meu filho. Ele ficará feliz em te ver," respondeu a mãe, com uma mistura de alívio e preocupação na voz.

Alexandre desligou o telefone e voltou para o quarto. Ele encontrou Gabriel ainda se recuperando da ressaca, mas já mais consciente.

"Gabriel, recebi uma ligação da minha mãe. Meu pai vai iniciar um tratamento e quer me ver antes de ir. Não vou poder ir ao Serenata com você esta noite," disse Alexandre, visivelmente preocupado.

Gabriel, percebendo a seriedade da situação, assentiu. "Claro, Xande. Vá vê-lo. Eu cuidarei das coisas por aqui. Pode contar comigo."

Alexandre agradeceu e começou a arrumar suas coisas para sair. Pouco tempo depois, ele estava na saída do hotel, pronto para pegar um táxi. Antes de partir, ele se despediu de Gabriel.

"Cuide bem da empresa e de tudo enquanto eu estiver fora," disse Alexandre.

Gabriel afirmou com um sorriso encorajador. "Pode deixar. Cuida bem do seu pai."

Com as despedidas feitas, Alexandre partiu em direção ao táxi mais próximo, deixando Gabriel sozinho na entrada do hotel. Com a partida do amigo, Gabriel sentiu uma mistura de emoções, mas sabia que precisava se manter forte e focado nos desafios que viriam pela frente.

Decidindo aproveitar o tempo que tinha antes de voltar ao bar Serenata, Gabriel decidiu dar um passeio pela praia. Apesar do risco iminente de chuva, a brisa fresca do mar e a tranquilidade do ambiente eram exatamente o que ele precisava para clarear a mente e se preparar para a noite que viria.

Enquanto caminhava pela areia, Gabriel deixou seus pensamentos vagarem, perdendo-se na imensidão do oceano e na beleza do pôr do sol que começava a tingir o céu com tons dourados e alaranjados. Por um momento, ele se permitiu esquecer as preocupações e simplesmente aproveitar o momento de paz e serenidade que a praia oferecia.

No fundo, ele sabia que a noite seria cheia de desafios e incertezas, mas por enquanto, ele estava determinado a aproveitar esse breve momento de tranquilidade antes de enfrentar o que viesse pela frente. Com isso em mente, ele continuou seu passeio pela praia, pronto para o que o destino reservava para ele.

Já era quase 16:00, e Gabriel havia passado um bom tempo na praia, desfrutando da brisa do mar e da tranquilidade do ambiente. Decidiu voltar para o calçadão da praia e dar mais uma volta antes de retornar ao seu apartamento. Enquanto caminhava, absorvia a atmosfera serena ao seu redor, apreciando a beleza da paisagem.

De repente, um som familiar alcançou seus ouvidos: o suave e envolvente som de um saxofone. Gabriel parou no meio do calçadão, seguindo o som até encontrar sua fonte. E lá estava ela, Clara, a garota que o havia encantado no bar na noite anterior. Seu coração deu um salto de alegria ao vê-la, e ele se viu incapaz de desviar o olhar.

Clara estava lá, no meio da multidão, tocando seu saxofone com habilidade e paixão. Seu estilo simples, com uma camisa colorida, shorts e sandálias, destacava ainda mais sua beleza natural. Gabriel sentiu-se como se estivesse diante de um anjo, e cada nota que ela tocava parecia tocar sua alma.

Quando Clara terminou sua apresentação, foi aplaudida calorosamente pela multidão ao seu redor. Gabriel também aplaudiu, incapaz de conter sua admiração. Quando os olhos de Clara encontraram os dele, algo mágico pareceu acontecer entre eles. Ela se aproximou dele com um sorriso radiante, e Gabriel sentiu como se estivesse flutuando em nuvens.

"Clara," ele murmurou, sua voz embargada pela emoção. "Você é incrível. Eu não consigo acreditar que estou te vendo novamente."

Clara sorriu timidamente, corando levemente com o elogio. "Obrigada," ela disse, sua voz suave e melodiosa. "É bom te ver de novo também. Você estava no bar ontem à noite, certo?"

Gabriel assentiu, sentindo-se um pouco nervoso agora que estava tão perto dela. "Sim, eu estava lá. Eu te vi tocando e... bem, eu fiquei impressionado. Você é realmente talentosa."

Clara sorriu ainda mais, parecendo genuinamente feliz com o elogio. "Obrigada, Gabriel. Significa muito para mim ouvir isso de você."

Os dois ficaram em silêncio por um momento, apenas se olhando, perdidos um no olhar do outro. Era como se o mundo ao seu redor tivesse desaparecido, deixando apenas os dois ali, imersos naquela conexão especial que compartilhavam.

Finalmente, Gabriel tomou coragem e estendeu a mão para Clara. “Você gostaria de dar um passeio pela praia comigo? Eu adoraria conversar mais e conhecer você melhor.”

Clara sorriu e aceitou a oferta, entrelaçando seus dedos nos dele. E assim, os dois começaram a caminhar pela praia juntos, perdidos em sua própria pequena bolha de felicidade e expectativa. O destino tinha reservado um encontro inesperado para eles naquela tarde, e agora, estavam prontos para descobrir para onde isso os levaria.

Gabriel e Clara passaram uma tarde maravilhosa juntos, rindo, conversando e apreciando a companhia um do outro. Em um momento especial, Gabriel comprou uma pulseira para Clara de um dos vendedores ambulantes na praia, e ela corou de felicidade ao recebê-la. Foi um gesto simples, mas que significou muito para ela.

Quando o relógio se aproximava das 18:00, Clara olhou para o céu que começava a escurecer e percebeu que precisava se preparar para o próximo show no Serenata. Ela virou-se para Gabriel, com um olhar misto de felicidade e urgência.

“Gabriel, eu preciso ir para casa e me arrumar para o show desta noite no Serenata,” disse ela, um pouco relutante em deixar aquele momento. “Gostaria de ficar mais tempo, mas não posso.”

Gabriel sentiu uma pontada de decepção, mas compreendeu. “Claro, Clara. Eu entendo. Mas... você gostaria que eu te deixasse em casa com meu carro? Seria um prazer.”

Clara sorriu, tocada pela oferta, mas balançou a cabeça. “Obrigada, Gabriel, mas acho melhor não. Meu irmão, Pedro, ficaria muito desconfiado em me ver com você tão de repente. Ele é superprotetor.”

Gabriel assentiu, respeitando a decisão dela. “Entendi. Bem, vou ao Serenata esta noite para te ver tocar novamente. Mal posso esperar.”

Clara sorriu radiante e se aproximou de Gabriel, dando-lhe um beijo suave na bochecha e um abraço apertado. “Obrigada, Gabriel. Você me fez muito feliz hoje. Até mais tarde.”

Ela se afastou lentamente, caminhando em direção ao ponto de ônibus. Gabriel ficou ali, observando-a ir embora, sentindo uma mistura de alegria e ansiedade pelo reencontro mais tarde naquela noite. Clara subiu no ônibus que a levaria de volta ao seu bairro, olhando para a pulseira no pulso e sorrindo ao pensar no dia que passaram juntos.

O sol começava a se pôr, e Gabriel sentiu uma onda de antecipação pelo que a noite traria. Ele sabia que queria ver Clara novamente e descobrir mais sobre essa conexão especial que sentia com ela.

Clara chegou em casa ainda sentindo o calor do abraço de Gabriel e o peso leve da pulseira nova em seu pulso. Mas sua alegria foi rapidamente substituída por uma sensação de apreensão quando viu seu irmão, Pedro, parado na porta, já pronto para sair. Ele a observava com um olhar meio recioso.

“Clara, onde você estava?” perguntou Pedro, sua voz carregada de preocupação.

Clara tentou manter a calma enquanto se aproximava dele. “Eu estava na praia, Pedro. Tocando saxofone, como sempre faço.”

Pedro estreitou os olhos, ainda desconfiado. “Você está com um sorriso diferente hoje. E essa pulseira nova?”

Clara olhou para o irmão e suspirou, decidindo contar a verdade, mas apenas parte dela. “Eu conheci alguém na praia. Um rapaz que estava no bar ontem à noite, Gabriel. Ele comprou a pulseira para mim. Foi um gesto gentil, só isso.”

Pedro cruzou os braços, ainda não totalmente convencido. “E ele não tentou nada além disso?”

Clara balançou a cabeça, sorrindo levemente. “Não, Pedro. Ele só quis ser gentil. Conversamos, ele me ouviu tocar e passamos um tempo agradável juntos. Ele vai ao Serenata esta noite para me ver tocar de novo.”

Pedro suspirou, finalmente relaxando um pouco. “Tudo bem, Clara. Mas só tome cuidado, ok? Você sabe como as coisas podem ser.”

Clara assentiu, abraçando o irmão. “Eu sei, Pedro. Obrigada por se preocupar. Agora vou me arrumar para o show. Não quero me atrasar.”

Pedro sorriu e deu um tapinha no ombro dela. “Certo. Vamos lá, então.”

Os dois entraram em casa, prontos para mais uma noite de música no bar Serenata, enquanto Clara tentava acalmar seu coração acelerado pela antecipação de ver Gabriel novamente.

Enquanto todos estavam se preparando para mais uma noite no Serenata, talvez você esteja se perguntando: onde está Karen? Pois bem, Karen passou o dia todo posando para fotos de uma revista. Ela era uma das modelos mais desejadas de Fortaleza, mas esse trabalho a cansava tanto física quanto mentalmente. Ter que seguir dietas rígidas, fazer isso ou aquilo, esconder-se da multidão louca da sua cidade era frustrante. Por mais que ela gostasse de ser famosa, esse lado da fama era destrutivo.

Era precisamente por isso que ela frequentava o Serenata. Lá, não era como outros lugares. Era um lugar simples, mas de prestígio, onde ela podia se sentir confortável e ser ela mesma, longe dos holofotes e das expectativas.

Depois de um longo dia testando roupas, tirando fotos e posando, Karen decidiu ir ao Serenata novamente naquela noite. Ela se arrumou de maneira despretensiosa, usando uma calça baggy, um tênis vermelho e uma camiseta vermelha. Estava ansiosa para uma noite tranquila.

Porém, antes de sair, seu pai a chamou, com um olhar preocupado. “Karen, quem era o garoto que a deixou em casa ontem à noite? Um de meus empregados o avistou.”

Karen suspirou, sabendo que não poderia esconder nada do pai. “Pai, ele é apenas um conhecido, um cara legal que conheci no Serenata. O nome dele é João.”

Seu pai franziu a testa, visivelmente preocupado. “Você sabe que precisa ter cuidado, Karen. Não quero que se envolva com pessoas que possam colocar sua reputação em risco.”

Karen assentiu, compreendendo a preocupação do pai, mas também sentindo a necessidade de defender sua liberdade. “Eu sei, pai. Mas o João é diferente. Ele me tratou com respeito e gentileza. Eu só queria um pouco de normalidade, entende?”

O pai de Karen suspirou profundamente, mas decidiu não pressioná-la mais. “Tudo bem, Karen. Só peço que tome cuidado. Eu confio em você.”

Ela sorriu, aliviada. “Obrigada, pai. Eu prometo que vou me cuidar. Agora, preciso ir. Vou ao Serenata para relaxar um pouco.”

Com isso, Karen saiu de casa, sentindo-se um pouco mais leve. Enquanto caminhava em direção ao bar, pensava em João e na noite anterior. Estava ansiosa para vê-lo novamente e ver como a noite se desenrolaria no Serenata.

Dando exatamente 19:00, o Serenata estava cheio hoje. As mesas estavam ocupadas por pessoas conversando animadamente, e a atmosfera estava vibrante com a expectativa da música ao vivo. Antônio, como sempre, estava atrás do balcão atendendo os clientes e servindo as bebidas, tentando se distrair do que havia ocorrido pela manhã com Safira. Ele mantinha um sorriso no rosto, mas por dentro, sua mente estava a mil.

Pouco tempo depois, Clara e Pedro chegaram ao bar. Clara, com seu saxofone em mãos, e Pedro, com um semblante concentrado, cumprimentaram Antônio com sorrisos amigáveis.

“E aí, Antônio, como vai?” Clara perguntou alegremente, tentando levantar o ânimo do barman.

“Oi, Clara. Oi, Pedro. Estou bem, obrigado. E vocês? Prontos para mais uma noite de música?” respondeu Antônio, tentando soar animado.

Pedro assentiu. “Claro, Antônio. Como sempre. Daqui a pouco vamos nos preparar para o show.”

Antônio sorriu e deu um tapinha no ombro de Pedro. “Ótimo. Vou deixar tudo pronto por aqui.”

Clara e Pedro foram até os fundos do bar para se prepararem, enquanto Antônio continuava a atender os clientes. Ele olhou ao redor, observando as expressões de alegria e descontração das pessoas, e tentou se focar no presente, deixando de lado as preocupações da manhã. A música e a companhia dos amigos eram seu refúgio, e ele esperava que a noite no Serenata fosse um sucesso, apesar de tudo.

Logo em seguida, Gabriel chegou ao Serenata, usando uma calça jeans rasgada preta, um tênis branco e um moletom preto. Ele não parecia em nada com o mauricinho da cidade que normalmente era, mas a mudança no visual o fazia sentir-se mais à vontade. Ao entrar, seus olhos rapidamente encontraram Clara, que se preparava para o show. Eles trocaram olhares e Clara sorriu, visivelmente feliz ao vê-lo. O que deixou Gabriel ainda mais contente foi notar que Clara ainda usava a pulseira que ele a deu.

Pedro, observando a troca de olhares entre os dois, sentiu uma ponta de apreensão. Ele se sentia um pouco substituído e protetor em relação à irmã, mas tentou manter a calma e a concentração para o show. Ele sabia que era importante focar na música e no desempenho da noite.

Logo depois, Karen chegou ao Serenata, caminhando com elegância até o balcão. Ela se sentou e deu uma boa noite a Antônio, referindo-se a ele de maneira brincalhona como “garçom” e pedindo um drink.

“Boa noite, garçom. Poderia me preparar um drink especial hoje?” disse Karen, sorrindo.

Antônio sorriu de volta, apreciando a leveza que Karen trazia ao ambiente. “Claro, Karen. Vou preparar algo especial para você.”

Enquanto Antônio preparava o drink, ele notava a energia positiva no bar. Gabriel observava Clara com admiração, Pedro se preparava para a performance, e Karen parecia relaxada e contente. A noite no Serenata estava apenas começando, e prometia ser memorável para todos.

Até que João chegou em sua moto, estacionando-a do lado de fora do Serenata. Ele entrou no estabelecimento, o som das conversas e da música ambiente cessando brevemente enquanto todos olhavam para o novo visitante. A presença de João fez Antônio ficar apreensivo novamente, lembrando-se da ameaça de Safira mais cedo naquele dia.

A poucas quadras do bar, três figuras observavam atentamente a chegada de João. Era Safira, acompanhada por dois homens. Um deles, inquieto, perguntou a Safira: “Quando devemos agir?”

Safira, com um olhar frio e calculista, respondeu calmamente: “Aguardem meu sinal. Vamos fazer isso no momento certo.”

Dentro do bar, João caminhou até o balcão, onde Karen já estava sentada. Ele sorriu ao vê-la, e Karen retribuiu com um sorriso caloroso.

“Boa noite, Karen,” disse João, sentando-se ao lado dela. “Parece que você não perdeu tempo em vir aqui de novo.”

Karen riu levemente. “E você? Pensei que não te veria tão cedo. Algo te trouxe de volta.”

Enquanto eles conversavam, Antônio observava de longe, tentando manter a calma. Ele sabia que precisava falar com João, mas não queria alarmar os clientes. Gabriel, ao notar a tensão no ar, também ficou atento, mas tentou se focar em Clara, que estava se preparando para o show.

O ambiente do Serenata estava cheio de expectativa e incerteza. A noite ainda tinha muito a revelar, e todos dentro do bar, conscientes ou não, estavam à beira de algo significativo.

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⏰ Última atualização: Sep 14 ⏰

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