Capítulo 15 Acidente na Feira

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Era um dia típico de feira, aquele vai e vem de gente apressada, barulhos de vozes misturadas com o som das barracas montando e desmontando, e o cheiro de frutas frescas que enchia o ar. Estava lá, como sempre, vendendo minhas frutas e tentando ignorar os olhares curiosos de quem já sabia sobre Eduardo. Todo mundo na cidade adorava uma boa fofoca, e a novidade de que o "doutor" tinha terminado o noivado com a Regina Albuquerque estava na boca do povo.

Eu sabia que não ia ser fácil. Regina tinha deixado claro desde o começo que me via como uma pedra no sapato, mas nunca imaginei que ela desceria ao nível que desceu naquele dia. Estava de costas, arrumando umas laranjas quando ouvi um grito.

— Sai da frente! — alguém gritou, contudo, antes que eu pudesse me virar para ver o que estava acontecendo, senti um impacto forte nas costas e fui arremessada para frente. O chão de paralelepípedos me recebeu com dureza, minhas mãos e joelhos arderam com o contato brusco.

A dor foi instantânea. As laranjas que estavam em minhas mãos rolaram pelo chão enquanto eu tentava entender o que tinha acontecido. Quando olhei para trás, vi uma pilha de caixas de madeira espalhadas por todos os lados e, no meio do caos, Regina, com aquele olhar de superioridade e um sorriso disfarçado no rosto.

— Ai, Lara, foi mal. Não te vi ali. — a voz dela transbordava falsa inocência.

Sabia que não era acidente. Ela sabia muito bem onde eu estava, e fez aquilo de propósito. O problema é que, além da humilhação de ser jogada no chão no meio de todo mundo, algo estava errado. Quando tentei me levantar, a dor no tornozelo foi insuportável. Caí de novo, o peso da dor me puxando para baixo.

— Alguém ajuda aqui! — gritou um dos feirantes, correndo na minha direção.

Um pequeno tumulto se formou em volta de mim, gente falando, tentando me ajudar, mas tudo parecia distante. Minha cabeça latejava, o tornozelo pulsava, e minha visão estava um pouco turva. Sabia que precisava sair dali, porém, não conseguia.

— Ela precisa de um médico! — alguém disse.

Natália apareceu do nada, como uma tempestade, afastando todo mundo com um olhar sério.

— Deixa ela respirar, gente! — gritou. Ela se abaixou ao meu lado, pegando minha mão. — Você tá bem, amiga?

— Não tô conseguindo levantar... — murmurei, a voz saindo fraca.

— Vou te levar pro hospital. Fica calma. — ela olhou ao redor e pediu ajuda a um dos rapazes que trabalhava na feira para me colocar no carro.

Enquanto me carregavam, vi Regina se afastando, como se nada tivesse acontecido, a boca curvada em um sorriso de satisfação que me fez tremer de raiva. Eu queria gritar, mas a dor me sufocava. Eu sabia que ela não ia parar por ali.

No hospital, a espera pareceu uma eternidade. Natália não saía do meu lado, ligou para minha mãe, que estava em casa, sem poder fazer muito por conta da saúde. Me sentia impotente, tanto fisicamente quanto emocionalmente. Regina tinha conseguido me atingir, de uma forma literal e cruel.

Alguns minutos depois, enquanto eu tentava manter a calma, ouvi passos apressados no corredor. Era Eduardo, ofegante, com o olhar desesperado. Assim que me viu, seu rosto se encheu de alívio, mas logo foi tomado pela preocupação.

— Lara! Meu Deus, o que aconteceu?

— Foi a Regina... — murmurei, ainda com a voz fraca, enquanto ele se aproximava e segurava minha mão com firmeza.

Ele ficou em silêncio por um momento, os olhos se apertando, como se tentasse digerir o que eu tinha dito. Sabia que ele não ia gostar de ouvir o nome dela envolvido nisso, mas era a verdade.

— Ela... fez isso de propósito? — a voz dele saiu dura, cheia de incredulidade.

— Empurrou umas caixas, Eduardo. Não tem como dizer que foi sem querer. — Natália entrou na conversa, a indignação dela era clara. — Jogou a Lara no chão e ainda saiu de fininho como se nada tivesse acontecido.

Eduardo apertou os lábios, claramente furioso. Ele respirou fundo, tentando manter a calma, no entanto, dava para ver o conflito nos olhos dele. Ele sabia que Regina era capaz de muito, mas vê-la machucar alguém assim, alguém que ele... gostava, o atingia de uma forma diferente.

— Eu vou falar com ela. Isso não vai ficar assim. — ele se levantou, mas segurei sua mão com força.

— Não, Eduardo. Deixa isso pra lá. Não vale a pena. — eu odiava a ideia de mais confusão. A última coisa que queria era piorar as coisas entre nós três. Já tinha causado problema demais.

— Como assim deixa pra lá? — a voz dele era de pura indignação. — Ela te machucou, Lara!

— Eu sei, mas... Só me leva pra casa depois, tá? Não quero mais pensar nisso agora. — senti meus olhos pesarem com o cansaço e a dor.

Ele assentiu, mas dava pra ver que a raiva ainda queimava dentro dele. Eduardo odiava injustiças, e isso o corroía. Ele ficou ao meu lado enquanto o médico finalmente apareceu e examinou meu tornozelo.

— Parece que é uma torção grave. Vou fazer um raio-x para descartar fratura. — O médico disse, ajustando meu pé numa tala temporária.

Enquanto esperávamos o exame, Eduardo não parava de olhar para mim com uma mistura de preocupação e carinho. Natália tinha saído para resolver algumas coisas, e agora estávamos só nós dois.

— Eu devia ter te protegido dela. — ele murmurou, como se estivesse se culpando.

— Não tem como você controlar o que a Regina faz. — tentei sorrir, mesmo que o gesto me causasse dor. — Não é sua culpa.

— Mas eu quero que você esteja segura. — ele abaixou a cabeça, apertando minha mão. — Não suporto ver você assim, machucada por algo que ela fez.

— Eu vou ficar bem. — a dor no tornozelo ainda latejava, porém, o alívio de tê-lo ali comigo me confortava de um jeito que as palavras não conseguiam explicar. — E vou superar isso.

Naquele momento, tudo que eu queria era paz. Sabia que Regina não ia desistir tão fácil, mas, com Eduardo ao meu lado, sentia que, de alguma forma, eu ia conseguir enfrentar o que viesse.

O resultado do raio-x confirmou que não havia fratura, mas eu precisaria ficar de repouso por um tempo. Eduardo me levou para casa, como prometido, e enquanto ele me ajudava a deitar no sofá, pude ver a determinação no rosto dele.

— Eu não vou deixar que ela te machuque de novo, Lara.

E eu acreditei, mesmo sabendo que ele não tinha controle da sua ex-noiva.

Entre Frutas E PromessasOnde histórias criam vida. Descubra agora