Capítulo 14 Noite Das Garotas

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Lara Ferreira 

Eu estava precisando daquela noite. A tensão dos últimos dias parecia ter se acumulado em meus ombros como um peso impossível de suportar. Entre cuidar da minha mãe, o caos da feira e os sentimentos por Eduardo, eu estava no meu limite. Sophia sabia disso, por isso, quando ela me chamou para sair, eu nem pensei duas vezes. Era hora de desligar um pouco a mente, rir, me distrair e, por um instante, tentar esquecer que a vida às vezes parecia uma novela mal escrita.

Fomos para um barzinho aconchegante no centro da cidade. O lugar era simples, com luzes amareladas penduradas no teto e uma música suave tocando ao fundo. Parecia o tipo de ambiente que prometia uma noite leve, sem grandes surpresas, exatamente o que eu precisava.

Sophia chegou com seu sorriso contagiante, vestida com aquele vestido florido que ela adorava. Eu podia ver o brilho nos olhos dela, sempre cheia de energia e pronta para animar qualquer situação. Quando nos sentamos, ela já foi logo pedindo uma rodada de batatas fritas e duas cervejas.

— Hoje é a nossa noite, Lara! Vamos esquecer dos problemas, das responsabilidades e principalmente de certos advogados. — disse Sophia, piscando pra mim com um sorriso malicioso.

Revirei os olhos, mas não consegui segurar o riso.

— Certos advogados? Acho que você quis dizer um advogado. — respondi, rindo.

— Exatamente! Um advogado que mexe com a sua cabeça. — ela fez uma pausa dramática, apontando pra minha testa. — E com o seu coração também.

Eu suspirei, levando a cerveja até os lábios.

— Não vamos falar dele hoje. Eu tô aqui para me distrair, lembra? Nada de Eduardo, nada de Regina, nada de drama. Só risadas e batatas fritas.

— Combinado — ela levantou a mão como quem faz uma promessa solene —, nenhuma palavra sobre o homem que está bagunçando sua vida.

O garçom chegou com a primeira rodada de comida e as batatas fritas estavam tão boas que até me fizeram esquecer, por alguns minutos, do turbilhão em que minha cabeça estava. Sophia puxou assunto sobre uma nova série que ela estava assistindo, uma comédia absurda que fez com que nós duas gargalhássemos até nossos estômagos doerem.

— Você tinha que ver a cena, Lara! O cara cai da escada de uma forma tão exagerada que parecia um boneco de posto sendo arremessado! Eu quase engasguei de tanto rir.

Eu estava com lágrimas nos olhos de tanto rir.

— Sério, eu preciso ver isso. Só você pra achar essas pérolas na TV, Sophia.

Ela deu um gole na cerveja e sorriu.

— Alguém tem que manter o senso de humor por aqui, né? Você anda muito tensa, amiga.

— E com razão! — respondi, jogando um pedaço de batata nela. — Olha o tanto de coisa que tá acontecendo. Eu nem sei por onde começar. Às vezes parece que vou explodir.

Sophia me olhou com aquela expressão compreensiva, a mesma de sempre, como se estivesse pronta para me ouvir despejar todos os meus problemas ali, de uma vez. Porém, em vez disso, ela apenas me cutucou com o cotovelo e disse:

— Hoje não. Hoje você só vai relaxar. Amanhã a gente resolve o mundo, combinado?

Assenti, aliviada por ela não insistir no assunto. Por mais que Sophia fosse minha melhor amiga, e eu soubesse que podia contar com ela para tudo, havia momentos em que eu simplesmente não queria falar. Queria apenas estar presente, rindo, fingindo que a vida era simples e que tudo estava bem.

Passamos a próxima hora falando besteiras. Sophia contou histórias do trabalho dela e das pessoas que ela conhecia — uma mais engraçada que a outra. Era bom poder rir de novo, sem aquele peso constante no peito. A leveza da noite me envolvia e, por um momento, esqueci da Regina, do Eduardo, de tudo.

— Eu soube que o João da padaria levou um fora da Márcia. — Sophia comentou, com um sorriso de quem sabia que vinha fofoca boa por aí.

— Sério? Mas eles pareciam tão bem! — disse, surpresa.

— Ah, bem o quê? Ela pegou ele flertando com a cliente da mesa ao lado. Resultado: ela jogou pão na cara dele. Na frente de todo mundo!

Eu quase engasguei com a cerveja de tanto rir.

— Meu Deus! Essa cidade não tem jeito, né? Até na padaria tem drama!

Sophia riu junto e deu de ombros.

— É por isso que eu amo esse lugar. Não tem como ficar entediada.

Enquanto ríamos, percebi o quanto aquele momento era importante. Estar ali, com a minha amiga, me fazia lembrar que, apesar de tudo, eu ainda tinha espaço para sorrir. A vida era dura, entretanto, também tinha seus momentos bons, e eu precisava valorizá-los.

— Obrigada por me tirar de casa hoje — falei, sentindo uma onda de gratidão —, eu estava precisando disso mais do que imaginava.

Sophia me olhou, sorrindo com carinho.

— É pra isso que as amigas servem. Você sabe que pode contar comigo para qualquer coisa, não sabe?

Assenti, sentindo um aperto no coração, mas dessa vez não era de tristeza. Era bom saber que eu não estava sozinha.

— Eu sei. E eu sou muito sortuda por ter você.

Ela levantou a cerveja em um brinde.

— Às amigas, às batatas fritas e às noites sem drama!

Levantei a minha também, com um sorriso no rosto.

— Às amigas!

Nós brindamos, e pela primeira vez em muito tempo, me senti leve. Não sabia o que o futuro reservava, mas, naquela noite, tudo parecia estar exatamente no lugar certo.

Enquanto a noite avançava e o bar começava a esvaziar, nos preparamos para ir embora. Ao sair, o vento fresco da noite bateu no meu rosto, e eu respirei fundo, apreciando a sensação. Talvez as coisas não fossem tão ruins assim, pensei. Talvez eu conseguisse lidar com tudo, um dia de cada vez.

Sophia, sempre animada, me abraçou de lado enquanto caminhávamos pela calçada.

— Vai ficar tudo bem, Lara. Eu sei que vai.

Eu sorri, com o coração um pouco mais leve.

— Eu também espero que sim.

A tempestade que tinha chegado na minha vida logo passaria e as coisas voltariam para o seu devido lugar, portanto, eu precisava ter paciência e tentar não enlouquecer.

Entre Frutas E PromessasOnde histórias criam vida. Descubra agora