Capítulo 17 Encontro Explosivo

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Lara Ferreira

Sabe aqueles encontros que você sabe que vão dar errado antes mesmo de acontecer? Era assim que eu me sentia naquela noite, sentada no restaurante com Sophia, tentando aproveitar o jantar, mesmo com uma nuvem de tensão pairando sobre nós. A comida estava boa, o vinho melhor ainda, mas o que realmente me incomodava era a presença de Regina.

Ela estava na mesa ao lado, e eu sabia que não demoraria muito até que ela fizesse algum tipo de movimento. Regina não era do tipo que deixa passar uma oportunidade de provocar. Eu não a via desde o acidente na feira que ela provocou propositalmente. 

Sophia, estava sentada à minha frente, completamente alheia à tensão. Ou pelo menos parecia estar. Eu já sabia o que estava por vir e me preparava mentalmente. Eu conhecia Regina o suficiente para saber que ela não conseguiria resistir a uma chance de tentar me desestabilizar.

— Você está bem? — Sophia perguntou, levantando uma sobrancelha enquanto cortava o pedaço de filé no prato.

Assenti, forçando um sorriso. Porém, sabia que ela podia sentir o peso da situação. Não dava para ignorar a presença de Regina, que nos lançava olhares dissimulados de vez em quando. Ela estava acompanhada de duas amigas, mas claramente o foco dela estava em mim. No fundo, eu já sabia que ela não iria embora sem fazer algum tipo de cena.

De repente, como se a minha intuição fosse uma profecia, ouvi a voz dela soar como uma faca afiada no ar.

— Ah, Lara! Que surpresa te encontrar por aqui. — Regina disse, levantando-se da mesa e caminhando em nossa direção com aquele sorriso cínico no rosto.

Olhei para Sophia de relance, e ela me devolveu um olhar de calma, quase como um lembrete mudo de que eu precisava manter a cabeça no lugar. Respirei fundo antes de responder.

— Regina. — respondi, tentando manter minha voz neutra. — Também não esperava te ver por aqui.

Ela se aproximou mais, os saltos estalando no chão de mármore do restaurante, e apoiou a mão no encosto da minha cadeira. Eu podia sentir o peso de sua presença, como se ela estivesse tentando intimidar, mesmo sem dizer nada de imediato.

— Parece que você gosta desse restaurante, não é? Essa é a primeira vez que venho e a última, afinal de contas, o ambiente não é dos melhores. Tem certos clientes que não gostaria de ver outra vez.

Meu coração batia mais rápido, mas me mantive serena. Não ia dar a ela o gostinho de uma reação.

— Esse restaurante é um dos meus preferidos. — respondi, dando de ombros. 

Ela deu uma risadinha, aquele som que sempre me irritava profundamente. 

— Estou comemorando, sabe? — ela lançou um olhar para as amigas, que riram em uníssono, como se estivessem dentro de uma piada interna que eu não entendia. — Conquistas pessoais, sabe como é. Algumas pessoas sabem crescer. Outras... estagnam.

Olhei diretamente nos olhos dela, sentindo a irritação subir pela minha espinha, no entanto, antes que eu pudesse responder, Sophia interveio.

— A maturidade também se reflete em como a gente trata os outros, não acha, Regina? — ela disse, com um tom de voz tão suave que quase parecia uma oferta de paz. Quase.

Regina se virou para Sophia, estreitando os olhos. Por um momento, achei que ela fosse recuar, mas isso seria pedir demais.

— Ah, claro... queridinha. — Regina respondeu com desdém, claramente irritada por ser confrontada. — Acho que quem está de fora não entende bem a dinâmica das coisas, né? Algumas histórias não são para todos.

— Talvez não sejam mesmo. — Sophia disse, levantando os olhos do prato. — Mas certas atitudes dizem muito mais sobre quem as tem do que sobre quem as recebe.

Eu quase ri, porém, me segurei. Sophia sempre teve uma habilidade incrível de colocar as pessoas em seu lugar sem precisar levantar a voz ou parecer agressiva. E isso estava irritando Regina visivelmente.

Ela me lançou um olhar furioso, entretanto, disfarçou com aquele sorriso de plástico.

— Bom, eu só queria mesmo cumprimentar. — Regina disse, dando um passo para trás, mas ainda sem tirar os olhos de mim. — Espero que aproveite o jantar. Quem sabe você não decide mudar algumas coisas, né? Nunca é tarde para crescer.

Eu não respondi, não precisava. O silêncio, às vezes, fala mais do que qualquer palavra.

Ela se virou e voltou para a mesa dela, claramente insatisfeita por não ter conseguido me desestabilizar. Olhei para Sophia, que me observava com um sorriso tranquilo.

— Obrigada. — disse, soltando a respiração que eu nem percebi que estava prendendo.

— Por nada. — ela respondeu, voltando a cortar o filé. — Sabia que ela viria, mas honestamente, esperava algo mais criativo.

Rimos, e de repente, a tensão da sala parecia ter se dissipado. Regina ainda estava lá, mas agora era apenas uma figura distante, sem o poder que ela achava que tinha sobre mim. Eu podia sentir que a tentativa dela de me irritar havia falhado, e isso a incomodava profundamente.

Conforme o jantar avançava, tentei focar na conversa com Sophia. Falamos sobre trabalho, vida pessoal, planos futuros. Era uma distração bem-vinda, e a cada risada, eu me sentia mais leve.

No entanto, Regina não estava disposta a deixar as coisas terminarem assim. Quando ela e as amigas terminaram de jantar, passaram pela nossa mesa a caminho da saída. Ela parou por um breve segundo, inclinando-se apenas o suficiente para sussurrar.

— Você continuará sempre sendo uma feirante, Lara...

Eu nem me dei ao trabalho de olhar para ela. Continuei olhando para o meu prato, ignorando sua presença, sabendo que a melhor forma de lidar com alguém como Regina era não dar a ela mais poder do que ela já acreditava ter. Ouvi seus passos se afastando e, quando finalmente ela saiu pela porta, o ar no restaurante pareceu ficar mais leve.

— E então, mais vinho? — Sophia perguntou, levantando a garrafa com um sorriso malicioso.

Assenti, sorrindo de volta. A noite ainda era nossa, e eu não ia deixar Regina arruinar isso. O que ela não entendia, e talvez nunca fosse entender, era que a verdadeira força não vinha de confrontos. Vinha de saber que, no fim das contas, eu era dona da minha paz. E nada, nem ninguém, ia tirar isso de mim.

Sophia encheu minha taça, e brindamos, não por Regina ou pelo que ela tentava fazer, mas por nós. Por amizades que verdadeiramente importam. Por saber que a melhor resposta para certas provocações é simplesmente viver bem, sem olhar para trás.

Entre Frutas E PromessasOnde histórias criam vida. Descubra agora