Sábado da morte.
Coralina
Merda. Eu pensei ao segurar Bárbara e meus pais de entrarem no estádio onde a final da nacional aconteceria, por que raios havia um cara de mais de dois metros todo encapuzado e de preto entrando lá? E por que ele estava com uma bolsa longa e esguia nas costas...?
Um atirador.
Puxei meus pais e Gaia de volta para o carro. Respiração desregulada. Quando os primeiros gritos ecoaram, meu pai dirigiu em alta velocidade para a delegacia mais próxima.
Aqueles gritos ecoaram meus ouvidos por longos e dolorosos momentos.
Gaia tentava me acalmar, tentava acalmar o desespero iminente que crescia a cada instante no meu peito.
A delegacia mais próxima era à cinco minutos de lá, do estádio.. dos gritos... do homem encapuzado.
Quando meu pai estacionou, minha primeira reação foi correr. Correr como se alguém estivesse me perseguindo. Em menos de três minutos eu estava lá. Havia sangue em tudo. Absolutamente em tudo. E o corpo do homem estava no centro. Um tiro no peito. Um claro caso de suicídio. Quando parei na porta e observei o homem de longe, não o reconheci.
Mas por que ele estaria ali? Ele por algum acaso sabia das pessoas que ali estariam...? por que ele havia feito aquilo?
Os gritos voltaram a ecoar na minha mente, mas logo foram interrompidos pela voz de Gaia.– CORA! – Gritou a garota com uma feição de desespero, me abraçando e me afastando de lá. Ela me puxava como se quisesse me afastar. Como se quisesse que eu não soubesse de alguma coisa. Abracei a minha amiga, como se ela fosse um cobertor e estivesse me protegendo do monstro que habitava em baixo da minha cama.
– Cora, você tá bem, amiga? Você saiu correndo parecendo uma maluca... sua mãe tá passando mal, seu pai tá nervoso.. a polícia já tá chegando.
– Gaia... – Eu sussurrei começando a chorar com o rosto no ombro da minha melhor amiga. Que começou a traçar padrões circulares nas minhas costas para me acalmar.
O que raios estava acontecendo?
Por que eu me sentia observada? Não tinha ninguém além de mim, Bárbara e os corpos das vítimas... e os gritos ecoantes na minha cabeça. Quem era aquele homem?Mais tarde nesse mesmo dia, eu estava dando meu depoimento ao polícias. Eu estava sentada conversando com uma mulher mais velha, ela estava tão aflita quanto eu.
– Mas eu não consegui ver quem ele era... quando eu iria olhar para os rosto dele a minha amiga me puxou para longe... A única coisa que eu vi era que ele tinha cabelos longos e loiros...– Respondi a mulher. Ambas estávamos com uma expressão séria. Aquilo não era brincadeira.
– Então você só reparou no cabelo dele... – A mulher disse. – bom, mas isso não ajuda muito... o rosto dele estava desfigurado. E incrivelmente não há DNA em nenhuma parte do corpo dele... mas obrigada pelo depoimento, você salvou poucas pessoas e isso já te faz uma heroína. – Concluiu ela com um pequeno sorriso tentando me confortar. Aquela imagem não sairia nem tão cedo da minha cabeça.
Reparei que o policial homem que estava logo atrás de mim me encarava. Era a mesma sensação que eu senti quando estava fora do ginásio abraçada na Gaia. Será que ele havia algo em haver?
Nah, ele é um oficial. Ele não deve ser corrupto...Mas ainda sim, o medo se instaurou em mim e me fez sentir uma sensação estranha. À esse ponto tinha certeza que trancaria tudo, absolutamente tudo antes de dormir e dormiria junto de meus pais. Ta bem que é estranho uma garota de dezessete anos dormindo no mesmo quarto que os pais. Mas fazer o que?
Eu e Gaia tivemos autorização para faltar durante a semana para processarmos o que aconteceu.
E durante essa semana eu me dediquei a desenhar e treinar boxe. Para esquecer tudo. Pelo menos não ouvia mais os gritos agoniados.
Essa sensação de ser observada passou rápido até. No terceiro dia após o massacre de vinte e oito de fevereiro, como foi apelidado, a sensação de ser observada sumiu. Ainda bem. Pensava que iria morrer sufocada se persistisse.
Espero que as famílias das vítimas encontrem consolo.
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