4 - give you what you like

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Pov Mon

Se sóbria você se recusa a ter diálogos, não sóbria você é muito falante. O que é muito diferente de mim. Eu não gosto de falar quando estamos bebendo. Acredito que para uma conversa ser produtiva, ambas devemos estar conscientes do que estamos falando. Álcool e diálogo não são bons juntos.

Não que estejamos inconscientes agora. Nada forte demais, apenas vinho, mas já bebemos uma garrafa inteira e metade de outra, isso ultrapassa o limite do tolerável para se ter uma conversa séria. E é engraçado como você fica quando sou eu a recusar uma conversa.

– Se eu não falo sobre isso, você reclama. Se eu falo, você reclama. – O tem irônico na sua voz é tão presente, é como se você fosse uma criança que não recebeu o que queria. – Não dá para entender.

– Não seja infantil. – Ela muda toda sua postura e passa a me encarar com um pouquinho de raiva. Odeia ser chamada de infantil. – Se quiser ter essa conversa sem álcool envolvido, basta dizer. Não que eu acredite que você vá querer.

– O que quer dizer?

Sam tem uma memória muito curta, ou apenas se faz de desentendida. Estamos nessa a alguns meses e ela se recusa a aceitar o óbvio. Ela não é aberta a diálogos e sempre arranja uma briga desnecessária, mas fica nervosa se eu faço o mesmo uma única vez. Realmente não dá para entender.

Chega a ser patético da minha parte realmente achar que Sam falaria sobre isso se o álcool não a tornasse tão falante. Nosso relacionamento está fadado ao fracasso e ela não se dá conta disso. E estou aqui, feito uma tola tentando segurar as pontas.

– Nada. – Respondo quando ela pergunta de novo, exigindo uma resposta.

– Mon, eu sinto muito. – Ela tenta de novo.

– Sam, são as mesmas palavras, estamos na mesma desde que... – Suspiro, parando de explicar. Estou cansada. – Agora não.

O olhar dela se torna indecifrável por alguns minutos. É difícil entender Sam. Ela escolhe momentos tão inapropriados para se ter uma conversa. Eu entendo, o álcool facilita as coisas, mas já passamos por isso tantas vezes. Quando podemos falar, ela se recusa, e quando ela quer falar está alcoolizada. Quando cedemos a conversas em que tem bebida no meio, no outro dia é como se não tivesse acontecido.

E eu não quero isso. Quero soluções. Eu quero meu relacionamento nos eixos de novo. Não era fácil, nem perfeito, mas era menos complicado e não caminhava para linhas fora do saudável. Não como agora.

– Eu te amo. – Sua voz não passa de um sussurro, trêmulo e rouco. Olho em seus olhos outra vez. – Você sabe disso, não sabe?

Eu sei?

Me aproximo devagar, hesitando um pouco. Eu não quero que ela pense que não me importo com essas tentativas raras de diálogo, só preciso que ela perceba que precisamos de mais que isso, que precisamos estar conscientes. Isso é um relacionamento com problemas sérios, não é um problema que é fácil de ser resolvido.

É um relacionamento que tento salvar todos os dias. Preciso que ela se esforce também.

– Eu amo você. – Respondo no mesmo tom.

Não vai existir um dia em que ela diga essas palavras e não ouça uma resposta sincera. Mesmo que acabe, se ela disser que me ama, vai ouvir que é amada também. E isso me assusta. Esse sentimento incontrolável que me faz segurar qualquer esperança que mantenha esse relacionamento vivo.

Sam me aperta entre seus braços, escondendo o rosto em meu pescoço. Não sei o que ela está pensando, mas sei que não vai dizer, principalmente porque eu terminei nossa conversa. Só queria que ela fosse mais aberta nas oportunidades que temos, em todas as vezes que tentamos e brigamos porque ela não se abre na hora certa.

Estou errada? Eu deveria ceder a mais uma conversa nessas circunstâncias?

Meus pensamentos são interrompidos quando ela se afasta, deixando um beijo no topo da minha cabeça e voltando a pensar silenciosamente, bebendo o líquido da taça. É inconsciente quando acompanho o movimento da taça em seus lábios, o gole generoso para terminar.

Tento repreender o rumo que meus pensamentos estão me levando, mas quando ela passa a língua pelos lábios fica difícil resistir. Sam é uma mulher muito bonita, a mulher mais bonita que eu já tive o prazer de olhar. E o maior fato que contribui para todos os meus pensamentos: sou completamente apaixonada por ela.

Logo, me sinto atraída.

As vezes é difícil separar as práticas saudáveis das não saudáveis, isso me faz recuar por um momento. Depois de todo o tempo que preferimos sexo a conversas, acabei internalizando que o sexo entre nós se tornou uma prática não muito saudável. Mas veja bem, fui eu quem recusou o diálogo porque não estamos tão conscientes.

Então, não estamos fugindo de nada.

A aproximação é inevitável, acontece, é como um ímã. Seu olhar analítico procura algum sinal negativo, uma recusa, algo que faça a gente parar. Mas nada faz com que paremos. Quando nos tornamos uma só, quando estamos completamente perdidas uma na outra, nada mais importa.

Não existem problemas. Não existem avós malucas ou namorados falsos. Não existe um mundo que não sabe sobre a gente. Não existem fãs nos shippando, nem carreiras a serem seguidas. Não existe a atriz Khun Sam, nem a cantora Kornkamon. Não existem amigos, nem colegas. Não existe ninguém além da gente.

Só existe nós. Um nós. Duas pessoas se tornando uma. Duas pessoas entregues de corpo e alma. Duas pessoas que se amam e se desejam. Não precisamos de palavras, mas gostamos de dizer. Tudo em nós grita mais alto, deixamos os sentimentos falarem. A razão é sempre esquecida.

E só paramos quando caímos exaustas uma ao lado da outra, com respirações perdidas e corpos nus sobre o sofá.

Nunca aprendemos.

Eu entrego o que você quer – não significa que eu não queira também –, e você me dá o que eu preciso. Você me quer, eu quero você. Mas o que eu preciso é de um momento em que você seja apenas minha, minha namorada, meu amor, a Sam que eu conhecia.

Preciso da dor da lembrança. E você sempre entrega isso. Quando nos entregamos uma para a outra, você é apenas Sam, a mulher por quem me apaixonei. E eu sou apenas Mon, a garota que prometeu nunca te deixar, que prometeu te esperar até o fim. A garota que não tinha dúvidas, nem medos.

A garota que não tinha medo de te perder, porque sabia que jamais permitiria isso.

Agora você dorme tranquilamente, agarrada a mim. E eu não consigo controlar minha mente. Faço carinho em seu cabelo para controlar a inquietude dentro de mim. Porque mesmo que não tenhamos usado o sexo para resolver nossos problemas, ainda sim o usamos para evita-los.

Não consigo acreditar que Sam não percebe isso. Eu queria saber o que ela pensa, como se sente, seus motivos para não querer se abrir, para não falar comigo quando estamos bem para conversar. É difícil viver nessa grande inconstância. Não saber se vamos acordar bem, não saber quanto tempo vamos ter antes das brigas recomeçarem.

O amor deveria ser assim?

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Moth To a FlameOnde histórias criam vida. Descubra agora