Capitulo 3

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AURORA VEIGA
🌅 2021 São Paulo - Brasil

O corredor do Allianz Parque parecia mais longo do que eu me lembrava. Cada passo ecoava nos meus ouvidos, misturado com as vozes e os sons abafados da torcida que ainda comemorava do lado de fora. Meu coração batia rápido, mas eu não sabia se era pela emoção do jogo ou pela ideia de que eu tava prestes a reencontrar alguém que eu não via há quatro anos.

Piquerez.

Eu tinha evitado esse momento desde o divórcio. Não fui a nenhum jogo, não procurei notícias dele. Só que hoje, o Raphael me chamou e eu não consegui dizer não. Agora, aqui estava eu, esperando meu irmão, mas com a sensação de que o destino tinha planejado algo diferente pra essa noite.

Quando cheguei perto dos vestiários, vi um grupo de jogadores saindo, alguns ainda suados, outros rindo e comentando o jogo. E então, no meio deles, vi ele. Joaquín. O ar ficou preso na minha garganta por um segundo. Ele não tinha mudado tanto. Talvez um pouco mais forte, o cabelo mais curto, mas os olhos... aqueles olhos que sempre me encaravam com tanta intensidade ainda estavam ali.

Ele me viu. Parou por um instante, e por um segundo pensei que ele ia desviar, seguir em frente como se eu fosse só mais uma pessoa na multidão. Mas ele veio na minha direção.

— Aurora. — A voz dele ainda tinha o mesmo peso de antes. Como se cada palavra carregasse algo que ele nunca disse.

Eu respirei fundo, tentando me preparar pro que viria.

— Joaquín.

Ele passou a mão pelos cabelos curtos, claramente nervoso. Era raro vê-lo assim. Ele sempre foi tão seguro, tão determinado no campo. Mas comigo, às vezes, ele parecia não saber o que fazer.

— ¿Cómo estás? (Como você está?) — perguntou, com aquele sotaque que eu sempre amei, mas agora me soava distante.

— Tô bem — respondi, sem querer entrar em detalhes. — E você?

Ele deu de ombros, desviando o olhar por um segundo.

— Bien, bien... Supongo que no esperaba verte aquí. (Bem, bem... Acho que não esperava te ver aqui.)

Eu soltei uma risada curta, sem humor.

— É, nem eu esperava estar aqui. Mas o Raphael pediu, então...

O nome do meu irmão pareceu trazer um certo desconforto a ele. Joaquín sempre teve uma relação boa com o Raphael, mas depois do nosso término,até isso tinha ficado estranho.

— Él me dijo que estarías aquí. (Ele me disse que você estaria aqui.) — Ele parou por um segundo, como se estivesse escolhendo as palavras. — Pero no sabía si vendrías a hablar conmigo. (Mas não sabia se você viria falar comigo.)

— Eu não vim falar com você — cortei, mais fria do que eu pretendia. — Eu só tô aqui pelo Raphael. Isso aqui... — apontei pro ambiente ao redor, pro estádio, pro corredor — ...não é mais a minha vida. Não depois do que aconteceu.

Ele suspirou, passando a mão pela nuca.

— Lo sé. (Eu sei.) — Seus olhos encontraram os meus, e por um momento eu vi o mesmo homem com quem eu tinha me casado. Aquele que me prometeu o mundo, mas que nunca soube me mostrar ao mundo. — No era fácil para mí. (Não era fácil pra mim.)

— E você acha que foi fácil pra mim? — retruquei, sentindo a velha mágoa voltar à tona. — Você me escondeu, Joaquín. Por anos. Como se eu fosse algum tipo de segredo. Um segredo que você não queria que o mundo soubesse.

Marketing • Joaquín Piquerez Onde histórias criam vida. Descubra agora