Capítulo 4: Yvaine Farsante Homan

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ִֶָ☾.

Seis dias, vinte e três horas, onze minutos e quarenta e quatro segundos para o fim do teste.

  Sempre pensei que fosse morrer da forma mais estúpida possível, mas estando aqui deitada no chão de uma floresta em uma ilha mágica, vejo que talvez não tenha pensado em todas as possibilidades.

Com uma ou duas costelas quebradas, o pé num ângulo nada anatômico, consciente acerca de umas duas talvez três horas não conseguindo mover um músculo, além de estar reaprendendo a respirar com a nova condição das minhas costelas, realmente essa é uma forma muito humilhante de morrer.

Fiquei quase vinte quatro horas que desacordada, tendo em vista que está para anoitecer outra vez. Se tivesse magia como os outros não tardaria tanto a acordar e não teria ferimentos tão graves ou pelo menos me curaria mais rápido.

Talvez seja essa minha verdadeira maldição, a penitência por não ser a verdadeira Yvaine Homan, Yvaine sim, mas não Homan. Se bem que passei tanto tempo da minha vida fingindo ser que é estranho admitir que não sou.

Deixe-me explicar melhor, a verdadeira garota Homan se chamava Yelena Homan.

Todos acham que Yelena era minha irmã gêmea que morreu junto a nossa mãe no parto, mas a história verdadeira é um tanto diferente da divulgada.

O pai de Yelena, Ilan Homan, desolado com a morte da filha e esposa veio a está ilha sem seu dragão, mesmo sabendo ser proibido fora de época, com intenções de ceifar sua própria vida, o que ele não esperava era achar um pequeno e indefeso bebê.

Naquele momento, segundo ele mesmo, uma luz cortou o céu noturno e sua vida ganhou um novo propósito cuidar e proteger aquele bebê, o qual chamou de Yvaine a luz que iluminou sua vida.

Ilan Homan, meu pai, me criou com esmero como se fosse sua filha legítima e nunca me amou menos por não ser. Mesmo sendo incapaz de usar magia como qualquer outro ele me treinou arduamente para ser capaz de me defender sozinha.

Sinto uma lágrima teimosa escorrer pelo canto do olho.

—Me desculpe papai—Peço, mesmo que nínguém além de mim vá escutar -Me desculpe por não ser capaz de lutar— Peço mais uma vez, com um quantidade lágrimas que não consigo contar dessa vez.

Nesse momento sinto uma raiva crescente invadir o meu peito uma raiva de mim mesma por ser tão fraca. Não posso desistir tão facilmente, não posso desonrar o clã que me deu tanto, a família que me amou tanto. Empenhada em não desistir faço um esforço sobre humano para me levar.

—Argh— Urro de dor fecho os olhos com força ao cair no chão novamente, por instante tenho o vislumbre da minha família olhando pra mim e penso ser uma alucinação febril.

—Vamos Yvaine não seja tão fraca de espiríto!—Ouço tia Anya gritar, enquanto chorava por não conseguir fazer uma coisa simples quando criança e me sentir inferior

Impusiono o corpo para o lado, lado de minhas costelas sãs respiro fundo fechando os olhos tentando sentir menos dor.

—Precisa confiar mais em si mesma Yv— Ouço a voz calma de Alev, meu primo, que sempre me dizia isso quando desistia de algo por me achar incapaz.

Arrasto-me de banda até uma árvore próxima, onde com cuidado apoio minhas costas olho ao redor procurando minha bolsa de suprimentos e a encontro a um braço de distância.

—Você é mais forte do que imagina querida, papai tem muito orgulho de você—Por fim lembro das palavras de papai, que a todo momento me lembrava do quanto me amava.

Pego um frasquinho dentro da bolsa, abro com os dentes e entorno em uma mão o creme curativo feito de arnica e equinácea ervas mágicas com propriedades anti-inflamatórias e analgésicas, com a outra mão tiro uma adaga presa em minha perna e termino de rasgar minha roupa ensanguentada, largo a adaga e uso ambas as mãos para passar a pomada na ferida aberta, uma mão enfio por dentro da ferida e com muito custo não choro de dor quando recoloco as costelas no lugar, a outra passo por fora da ferida, ao passo que retiro a primeira mão de dentro do meu corpo, agora ensanguentada,com as propriedades das ervas a ferida logo estará curada.

—Prometo não chorar por ser fraca tia Anya—Declaro, enquanto limpo minha boca com a manga da jaqueta—Alev nunca mais vou não confio nas minhas habilidades—Falo, enquanto tento alcançar meu pé quebrado -E papai...- Penso com cuidado nas palavras -Eu vou te dar orgulho papai- Declaro por fim.

Por fim, com um pouco de esforço devido as costelas ainda não cicatrizadas, alcanço meu pé colocando, com ajuda do resto da pomada, o osso que estava para fora em seu devido lugar e uso minha roupa rasgada para fazer um torniquete improvisado. Fecho os olhos ao me recostar mais uma vez no troco da árvore, consigo vê-los torcendo por mim, consigo ver a irmãzinha do Alev, Astrid pulando de alegria, vejo tio Ryu, marido de Anya, balançando uma grande bandeira dos Homan e os gêmeos Ash e Burn dizendo um sonoro: Finalmente Yvi!

—Por que isso é tão a cara de voces?—Me pergunto rindo, enquanto testo meu pé que ainda demorará algumas horas para ficar de fato curado, a pomada é realmente boa, todavia não faz milagre.

—Eu sou uma Homan e irei cumprir meu dever com honra e coragem, posso não passar nesse teste, posso morrer da pior maneira possível, mas irei morrer lutando.— Declaro sobretudo para mim mesmo.

Preciso continuar firme no meu plano, tenho seis dos sete dias do teste para cumpri-lo. Não tendo magia, então não terei como dominar um dragão com o método tradicional então terei que faze-lo sem ou pelo menos tentar, o problema é que ninguém nunca fez isso, acho que serei a primeira.

Então o que me resta é encontrar um dragão bonzinho que não me coma na primeira oportunidade e tentar ganhar sua confiança, isso provavelmente vai dar muito errado e vou acabar na barriga de algum dragão faminto, mas é a única maneira de tentar passar nesse teste.

Honrarei a família que me criou com tanto afeto, irei fazer o que Yelena não pode ou pelo menos morrerei tentando. E caso falhe levarei comigo esse segredo e minha maldição. O segredo de que Yvaine Homan é uma grande farsante.

Senhora dos dragõesOnde histórias criam vida. Descubra agora